Samara Braga tem 32 anos, nasceu em Salvador, mas quer escrever sua história em Alagoinhas, a 108 quilômetros da capital. Na cidade que escolheu para morar, em 2004, quando foi aprovada no curso de Ciências Biológicas pretende sair candidata ao posto de prefeita. Será, segundo ela, a primeira mulher transexual do Brasil a cumprir esse feito. Alagoinhas é um lugar muito importante para mim. Quando morava em Salvador eu não tinha a liberdade de ser quem eu sou. Apenas quando eu fui para lá que eu pude experimentar a minha liberdade e parar de viver nas sombras, explica Samara que é filiada ao Psol.
Ela conta que admitir para a família que era uma mulher transexual foi um momento difícil da sua trajetória. Sempre me senti que estava no corpo errado mas por vir de uma família religiosa – eles são católicos conservadores – para mim tudo isso era um tabu. Eu não sabia como lidar a transexualidade. Eu não conseguia entender o que se passava comigo. Eu só sabia, quando era adolescente, que eu via as meninas na rua e me questionava porque não podia ser igual a elas, relembra.
Samara conta que, há quatro anos, começou o diálogo com os pais sobre a sua transexualidade. Primeiro eu assumi para meus pais a minha preferência por garotos, o que já foi um choque. Comecei a me hormonizar e só aí, depois que as características femininas começaram a aparecer, que contei. Foi outros choque. Até hoje eles têm dificuldade de me aceitar como Samara. Ainda me tratam de filho e me chamam pelo masculino, explica Samara ressaltando que o mesmo comportamento é repetido pelos irmãos. Hoje em dia eu praticamente não existo para minha família, lamenta.
Reflexo do preconceito contra a população trans, Samara  hoje sobrevive de trabalhos autônomos. Quando eu ainda estava na faculdade meus pais cortaram a ajuda financeira e chegou ao ponto de muitas vezes não ter nem o que comer. Hoje eu sobrevivo com várias profissões: sou técnica de informática, cabeleireira e faço bicos em geral. Antes da transição eu até conseguia empregos, mas depois ficou muito difícil. Para uma transexual para consegui emprego é uma via crucis.
O preconceito que Samara enfrentou no seu núcleo familiar ela acredita que vai encarar nas urnas também. Quanto à reação do eleitorado, não tenho medo. Sei que algo tão inédito causará estranheza a algumas pessoas. Reacionários com certeza me atacarão de todos os lados. Discursos transfóbicos já ocorrem, mas nada que me abale, pois a repercussão tem sido muito positiva e a quantidade de pessoas que me apoia supera e muito o grupo das pessoas que se colocam contra, explica.
Durante a campanha será inevitável o preconceito, mas quero fazer trabalhos de conscientização para tentar aos poucos desconstruir as posturas transfóbicas.
Antes de se oficializar candidata oficialmente, Samara ainda precisa vencer as prévias do partido. Considero que estou apta para ocupar o cargo, pois quem vive a dura realidade em uma cidade repleta de injustiças sociais, sabe o que realmente tem de errado e precisa ser corrigido. Estou confiante e acredito que, vindo a se concretizar a minha candidatura, será um grande passo rumo a uma sociedade mais harmoniosa, respeitosa e humanizada, explicou Samara que se filiou ao partido em 2014 por se inspirar em nomes do partido como o deputado federal Jean Wyllys, que é de Alagoinhas, e Luciana Genro, que foi candidata ao cargo de presidenta em 2014.
Samara ressalta que não defenderá na eventual candidatura apenas a bandeira LGBT. Ela destaca que tem projetos para outros segmentos da cidade como Educação, onde pretende focar na valorização dos profissionais da educação e priorizar ações no sentido de ampliar o número de creches; e Saúde, onde pretende reivindicar o repasse de recursos dos governos estadual e federal para garantir acesso gratuito aos serviços sem sobrecarga no orçamento.