Afinal, como é a Páscoa para famílias com pessoas LGBTQIA+? O almoço do domingo de páscoa é simbólico para muitas famílias brasileiras que seguem a crença no Cristo ressuscitado. Pelas normas da igreja é um momento de reunião, agradecimento e reflexões. Para quem é uma pessoa LGBTQIA+ que convive em famílias intolerantes e tóxicas é mais um dia de tortura que em nada se aproxima dos valores trazidos para a terra por Jesus Cristo há mais de 2 mil anos.
Somente na manhã deste domingo (17) recebi no direct do Instagram do Me Salte (@me_salte) oito mensagens de pessoas LGBTQIA+ relatando a tensão e o medo de enfrentar o almoço de páscoa com suas famílias. Sim, medo. Talvez você que esteja lendo esse texto – se não for uma pessoa LGBTQIA+ – não consiga imaginar o que é ter medo de sentar à mesa com sua família.
O medo é da agressão verbal, das violências psicológicas disfarçadas de ‘piadas’ e até mesmo das violências físicas. Tudo indo de encontro ao real sentido religioso da data.
A Páscoa é, para muitos cristãos, a festa de maior importância do calendário religioso, uma vez que ressalta um acontecimento de grande importância dentro da fé cristã: a ressurreição — entendida no cristianismo como uma demonstração da divindade de Jesus. Jesus Cristo, portanto, voluntariamente sacrificou-se para redimir a humanidade e dar-lhe uma nova chance de salvação. Uma vez realizado o sacrífico, o poder de Deus teria se manifestado.
Fico refletindo onde essa essência foi perdida pelas famílias de hoje? Uma dessas pessoas que me mandou mensagem relatou que ao chegar na casa de seus pais colocou uma playlist de música para tocar. Em meio às canções de samba, pagode e afins acabou tocando uma canção de Anitta com Pabllo Vittar. Foi o suficiente para o tio homofóbico lançar seu celular contra a parede.
“Essa Anitta é uma perdida (sic). Esse Pabllo uma abreração (sic). Aqui nessa casa não tem espaço para esse tipo de gente. V´a embora agora seu invertido (sic)”, ouviu o jovem de 21 anos que mora em Salvador e encarou mais de 700 km de viagem de ônibus para passar a páscoa com a família no interior da Bahia.
Onde está o amor e afeto cristão dessas fam´ílias? Como uma música – REPITO: UMA MÚSICA – pode causar tanta discórdia no seio familiar numa data onde o amor, a tolerância e o perdão deveriam ser a tônica do momento?
Infelizmente, não é a música. Nós, que somos pessoas LGBTQIA+, sabemos disso. Nossa existência e nossa presença incomoda. Anitta – uma mulher favelada que com seu trabalho chegou no topo do mundo incomoda. Pabllo Vittar, drag queen do Maranhão que é conhecida internacionalmente.
Incomodamos por existirmos. Incomodamos por lutar por nossos direitos. Incomodamos por querermos o básico: respeito!
E, se as famílias não estão dispostas a isso nem mesmo em um dia com a Páscoa é porque o equícovo não é nosso. As famílias tóxicas precisam rever suas crenças e se inspirar de fato nos princípios de Jesus Cristo que eram de tolerância, amor e afeto independente de raça, credo, gênero ou sexualidade.
Que tal aproveitar a páscoa, hoje, para fazer essa reflexão?
Foto: Reprodução/Redes Sociais