Por Marcelo Cerqueira*

Muitos segmentos sociais têm um dia específico para que suas pautas sejam lembradas e celebradas.

As mulheres, por exemplo, têm o dia 8 de março como uma data que marca a luta pela liberdade e contra a opressão vivida ao longo de muitos anos.

E nós temos o dia 28 de junho, que é o Dia Internacional do Orgulho Gay, como ficou conhecido quando foi criado. Hoje, o Dia Internacional do Orgulho representa e reúne uma comunidade muito maior de pessoas que lutam e resistem para existir.

A data lembra o confronto com a polícia, ocorrido em Stonewall, um bar que era ponto de encontro da comunidade LGBT+ em Greenwich Village, Nova York, onde gays, lésbicas, drag queens e travestis se reuniam para dar pinta, paquerar e se divertir. As visitas dos policiais ao local eram sempre violentas, e eles cobravam, inclusive, como as pessoas deveriam se vestir.

Um exemplo, aqui no Brasil: “menino veste azul, menina veste rosa”, de acordo com a filósofa dama recatada e do lar, dona Damares. Geralmente, pessoas vestidas com roupas do gênero oposto ao seu eram detidas. Ou seja, se você era homem, tinha que estar vestido como tal. Roupa de macho.

Foram anos de sofrimento, até que no dia 28 de junho de 1969, os frequentadores do bar e moradores do bairro, em apoio ao ato, foram às ruas da cidade, com o tema “gay is good”, ser gay é bom! Esse movimento eclodiu no mundo, particularmente no ocidente, e com países da América Latina aderindo ao chamado – exceto Cuba -, Nicarágua, Equador, Chile, países que até recentemente tinham alguma lei que considera a homossexualidade crime.

No Brasil, nem a Constituição e nem o Código Penal tratam a homossexualidade como crime, mas, médicos forenses, a partir de 1900, formularam teses sobre a homossexualidade ser uma doença que poderia ser tratada. Esse assunto chega ao Brasil por diversos livros que foram traduzidos e publicados, escritos na Alemanha e na Itália, sobre a sexualidade ser uma patologia. Inclusive os tratados de Cesare Lombroso, e sua teoria do “criminoso nato”, que incluía a pessoa com a sexualidade aflorada como “delinquente”, contribuíram para a criação do estigma da homossexualidade como doença.

A partir do evento de Stonewall, foram criados grupos de militantes LGBT nos EUA, na América Latina e no Brasil, em São Paulo.

Na Bahia, em Salvador, na Rua Pau da Bandeira, em 1973, nascia a Boate Tropical, do empresário Marcos Melo. O clima era o mesmo de perseguição, como foi em Stonewall. A polícia, sob qualquer pretexto, invadia o local, mandava acender as luzes brancas, e diziam: “viados de um lado, caçador do outro”. Olhavam para as pessoas, e simplesmente as prendiam. Não é preciso dizer que era horrível passar por essa humilhação.

Stonewall deu início a um movimento de massa, que são as Paradas do Orgulho, que acontecem em todas as capitais brasileiras, e que é uma forma de referenciar a data. No Brasil, o Grupo Gay da Bahia, fundado pelo decano Luiz Mott, foi quem introduziu esse tipo de manifestação ativista.

Data de 1981, conforme consta do Boletim do Grupo (1981 – 2005) esse registro: “No próprio dia 28 de junho, além de uma coletiva à imprensa com reportagens em todos os jornais baianos, fizemos um show de variedades intitulado “Cheguei, sou gay”, aplaudido por mais de 300 pessoas e pela crítica, como uma das melhores apresentações artísticas dos últimos meses em Salvador”.

Fizeram parte das atrações artísticas, a cantora Sarajane e o ator Bemvindo Sequeira.

Nos anos subsequentes, a celebração do dia 28 de junho foi se diversificando e se tornou uma festa no mar. Foi a “Mareata Gay”, que se constituía em um passeio de lancha ao redor do monumento Forte São Marcelo, na Baia de Todos Santos. Os participantes faziam dupla homenagem, ao dia e a Diogo Botelho, Governador Geral da Bahia, (1602) denunciado à Inquisição por sodomia.

Somente em 2002, o GGB começou a fazer a celebração no formato atual. A primeira edição da Parada Gay foi em junho 2002, e reuniu 20 mil pessoas. A celebração ganhou outra data aqui no Brasil, considerando o calendário local de eventos, e passou a ser realizada em setembro.

Embora nossa Parada não seja em junho, Mês do Orgulho, o GGB realiza, juntamente com outros coletivos e entidades do movimento LGBT+, diversas atividades para marcar a luta e a importância do levante de Stonewall, e a perseguição às pessoas LGBT+.

*Professor e ativista LGBT de Salvador.

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