Por Marcelo Cerqueira, presidente do Grupo Gay da Bahia
O Grupo Gay da Bahia (GGB) vem a público manifestar-se em relação à exposição “Cu é Lindo”, do artista Kleper Reis, de Guanambi, Oeste baiano, cidade cuja Prefeitura ganhou projeção nacional em janeiro do ano passado após o prefeito Jairo Magalhães (PSB) haver decretado, como primeiro ato de governo, que a cidade pertence a Jesus! Isso depois de jurar promover e defender a Constituição e as leis do País.
É tipo assim: gato que nunca comeu toucinho quando come se lambuza todo. Ou, já que o tema é cu, não seria ofensa eu escrever a palavra pica. E Jairo Magalhães já foi tirando a dele para fora logo no primeiro dia de gestão. Saiu correndo como se jogasse azeite as canadas para rasgar a Constituição, a mesma que jurou defender. A exposição do artista Kleper Reis é uma bobagem diante disso tudo!
O GGB, com base nas pesquisas sociológicas e antropológicas orgânicas desenvolvidas pelo seu fundador, Luiz Mott, sempre defendeu a liberdade de expressão, principalmente nas esferas das artes plásticas, música, dança, teatro, áudio, visual e multímodos.
No presente momento político-social em que se inserem os LGBT’s em relação à produção cultural integrada, conquista de territórios de identidades e utilização dos espaços públicos, o GGB compreende que essa representação artística, sim, contribuiu no combate ao conservadorismo, garante a visibilidade política e faz com que o conservadorismo extremo vomite a sua LGBTfobia. Isso é lindo, porque a gente começa a ver esses “caras-pálidas” e dizer as amigas “não vota nele não”.
Kleper Reis, com o seu trabalho, garante visibilidade politica em relação à LGBTfobia, que ainda serve como amarras, tanto ao bem viver das pessoas LGBT quanto ao Plano de Desenvolvimento Nacional, onde se inserem os LGBT’s no uso dos direitos civis, cidadania e acessos aos serviços públicos.
A crítica perversa e capciosa de extremistas políticos a essas expressões culturais possuem em seu cerne a indução da população ao erro de demonizar os LGBT’s, inclusive associando uma população que representa 10% do povo brasileiro a comportamentos considerados, inclusive por nós, como inadequados.
Sobre o financiamento do Fundo de Cultura da Secretaria de Cultura do Governo da Bahia, nada além do cumprimento da lei! A Lei de Cultura. O projeto é fruto de uma seleção pública extremamente criteriosa, e eu sei disso. O Governo mostra-se sensível e responsável ouvindo as vozes da sociedade civil, que sugere a instauração de Políticas Públicas de proteção, através das expressões das artes. Isso inclui mulher, negro, homem, LGBTIQ e tantas outras populações indenitárias que existem e reivindicam espaço social, político e de fala.
O Governo da Bahia, assim como criou a Secretaria de Políticas Para as Mulheres, instituiu o Conselho Estadual LGBT e instaurou a Política Estadual LGBT, que tem o operacional da Secretaria de Justiça, Cidadania e Desenvolvimento Social. É lamentável assistir à cena patética daqueles que foram para a mídia se exibir, vereadores de primeiro mandato que embaralham os cascos no entendimento sobre a existência da Lei!
Como é que pode esses pernas de saracura que se reivindicam paladinos da moralidade e escolhem a população LGBT para fazer palanque político e se aparecer diante da opinião pública conservadora. Mas ninguém tá comendo nada desses falsos moralistas eleitoreiros. Muitos deles não sobreviveria a meia hora de sabatina sobre leis e direito, mas querem bancar sabedoria às custas da dor alheia.
Usando a licença poética de que “chumbo trocado não dói”. Eu aqui quero aproveitar esse debate público arte, sociedade e cultura do conservadorismo extremo para fazer um pedido ao Ministério Público da Bahia, Defensória Pública, OAB extensivo ao Conselho Nacional de Justiça do Supremo Tribunal Federal.
Ofereço que a cada dois anos, vereadores e deputados se submetam a uma avaliação para medir os conhecimentos desses parlamentares em relação a Lei, a nota de cada um deles seria atribuída ao desempenho da Casa Legislativa Municipal, Estadual e Federal.
É necessário que o MP desenvolva indicadores de avaliação para medir os conhecimentos desses parlamentares na defesa e promoção das Leis do País! Constituições Municipais, Estaduais e a Federal. Os evangélicos não andam com a bíblia em baixo do braço! Todo político legislativo deveria ser obrigado andar com a Constituição em baixo do braço. Dessa forma, eles seriam chamados de “Os Constituições”, vejam que nome lindo. É preciso encontrar indicadores para avaliar a produtividade e as bobagens que vereadores e deputados divulgam na mídia como se fossem verdades, inclusive em relação a Lei e a sua aplicação. Como é possível um deputado federal há mais de vinte anos, não ter sequer um projeto apresentado!?
Kleper, minha solidariedade.
Eu estranho tanta polêmica em relação a isso e posso imaginar que, na sua posição de artista, você sofre porque vê a sua arte sendo usada por essa gente em benefício duvidoso. Maldade, pura maldade desse povo sádico que gosta de ver a gente sofrer. Não tem nada demais! É expressão artística que eleva o interior a brilhar.
Isso me leva perceber que o Governo Wagner estava correto quando criou a territorialidade ou territórios de identidades que possibilitou o interior fazer arte e produção cultural. O apoio dos órgãos públicos é para todos! E você como qualquer um outro tem esse direito de se expressar por sua arte.
Bom demais! A exposição não mostra coisas estranhas, mostra o cu, o descrito cu. Isso não é ofensivo. E digo isso porque tanto supostas autoridades quanto a população usa palavras duras, negativas para se referir a mulher, negro, LGBT, criança, gordo, desempregado. Kleper se expressa por meio de sua arte e com ela toda uma população, inclusive não somente de LGBT, respeito.
Texto publicado originalmente no Facebook e cedido ao Me Salte
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