Para celebrar a chegada do Verão nesta sexta-feira (22), Claudia Leitte acaba de lançar o videoclipe da música “Liquitiqui”, que marca o início do projeto “O Carnaval da Minha Vida”, que envolve uma série de lançamentos e eventos na sua carreira.

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A cantora, que é baiana de coração, revelou ao Alô Alô Bahia que está ainda mais animada para a estação mais quente do ano, sobretudo para sua maratona carnavalesca, que em 2024 terá como tema “Parque de Diversão”. Isso porque ela enfrentou problemas no Carnaval deste ano. 

“Foi um Carnaval difícil para mim porque eram muitas sensações, muitas emoções (…) Eu não sabia lidar com aquela sensação que eu tava sentindo. E eu acho que os meus fãs também não estavam conseguindo. Eu precisei realmente de muito equilíbrio. Eu não vivi intensamente esse Carnaval, muito embora tenha sido um Carnaval lindo (…) Tive que ter um autocontrole muito grande porque era psicológico, mas era físico também. Era: ‘eu preciso me equilibrar para fazer a minha música acontecer porque senão eu vou me emocionar o tempo inteiro aqui, e não vou fazer o que eu vim fazer, né?’. Então foi diferente de todos os Carnavais da minha vida. Por isso que eu tô dizendo que a partir de agora eu vou viver o Carnaval da minha vida”, revelou Claudia, em uma conversa de cerca de 40 minutos, por Google Meet, diretamente de Miami (EUA), onde mora.

Créditos Nara (10)

A canção “Liquitiqui” marca o início do um projeto que deve durar o ano inteiro. “É ‘O Carnaval da Minha Vida’, junto com um “Parque de Diversões” no Carnaval de Salvador, que culmina na gravação desse show, que acontece nos dias 8 e 9 de abril, em São Paulo, na Vibra (maior casa de shows e espetáculos da América Latina). Eu tô muito feliz, eu tô muito agulhada. Tem muito acúmulo de informação, então eu tô me estruturando emocionalmente para não explodir porque eu sou muito intensa. Eu já tô sentindo isso tudo e já tô com isso tudo guardado há muito tempo. Tô querendo botar para fora, porque já estou explodindo”, afirmou a artista. 

Além de dar detalhes sobre o tema do seu Carnaval e dos próximos lançamentos, Claudinha desabafou sobre o diagnóstico de TDAH, sigla para “Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade”, após os 40 anos de idade. É um fluxo de pensamentos que eu não consigo bloquear. Eu tenho uma alteração no córtex pré-frontal. Todo mundo consegue fazer um raciocínio às vezes muito óbvio e lógico e ir direto ao ponto. O TDAH não me deixa filtrar esses pensamentos. Eu consigo desmembrar uma pergunta em mil numa fração de segundos. É muito doido! Por outro lado, eu não tinha essa consciência. Eu não sabia que isso era uma condição. Acho que eu passei a minha vida inteira me vendo, mas eu não entendia o que estava acontecendo”, disse. 

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A cantora classificou esse processo todo de descoberta do transtorno como libertador. “Em princípio, é assustador receber o diagnóstico, porque é um transtorno, uma condição séria. A gente precisa olhar com ternura para o outro”, pontuou. 

Ela lembra que não tinha esse olhar carinhoso consigo mesma. “Eu falava: eu não entendo, eu pareço que sou uma pessoa que não tem discernimento, inteligência (…) A partir do momento em que eu tive o diagnóstico, eu comecei a ter um pouco mais de paciência comigo mesma. Eu comecei a gostar mais de mim, a ser mais mais eu. A deixar minha personalidade fluir mais e não me condenar, não ter receio do que eu vou dizer. É bonito ser assim, tem um lugar para o TDAH”, afirmou.

Hoje, além do acompanhamento com a psiquiatra Ana Beatriz Barbosa, Claudinha faz terapia e sessões de neuromodulação. “Eu consegui, inclusive, chegar até aqui hoje, independente das condenações, das culpas e do autoflagelo, porque a gente se martiriza. A gente quer se encaixar, quer estar no tempo dos coleguinhas da escola, da galera do trabalho e é outro timing, é outra noção de tempo. Eu consegui superar isso, eu consegui chegar até aqui. Eu sou uma eu sou uma nova mulher”.

LEIA A ENTREVISTA DO ALÔ ALÔ BAHIA COM CLAUDIA LEITE:

  • Queremos saber mais sobre o videoclipe lançado nesta sexta-feira. Mas, antes de tudo, o que é “Liquitiqui”?
Créditos Nara (17)

É uma onomatopeia (figura de linguagem que tenta reproduzir, por escrito, sons e ruídos de objetos, animais e fenômenos da natureza) do som mesmo da percussão do pandeiro – “liquitiqui”, “liquitiqui”, “liquitiqui”. É uma célula rítmica que não é só peculiar, pertinente a nossa cultura. Eu recebi esse esse refrão já pronto de um dos meus parceiros na música, que é Kes. Eu tenho J. Perry ali, que é do Haiti, e Kes da Tobago. Ambos fazem Carnaval aqui para cima, Carnaval Caribenho, e eu faço Carnaval no Brasil. A gente simplesmente se encontrou e fez a música junto. Eu descobri, através dessa relação com eles dois, que a gente tem a mesma célula rítmica para fazer Carnaval, independente do lugar onde a gente está. Ambos vêm de culturas diferentes, mas que celebram o Carnaval também. E é tudo parecido, a gente é muito conectado. A gente é um só, principalmente quando se fala de música. ​​

  • Onde você conheceu eles?

J. Perry eu conheci em Miami, em 2013, se eu não me engano. J. Perry fez “Dekolê” (versão em português) pra mim. Ele escreveu no álbum dele, e eu fiz a versão em português. Ele foi para o Brasil. A música é o hino dos nossos blocos, no Carnaval, nas micaretas e tudo. E ele – que é do Haiti – saiu tão encantado com o Carnaval que tatuou “Brasil e Haiti” no braço. Ele é muito apaixonado. E Kes eu conheci através de J. Perry também. Foi a música que me aproximou deles. Hoje eles são meus amigos. 

  • O clipe de “Liquitiqui” foi gravando em que local? Vimos que tem uma vibe “Verão”, uma coisa mais quente que até lembra Salvador, apesar de ficar claro que não é. Como foram as gravações? 
Créditos Nara (7)

A gente acha que a cultura separa a gente e, na verdade, ela nos une. Ela une povos diferentes, que têm características diferentes, mas é muito parecido porque é a gente. A gente é muito igual. Gravamos em uma praia, em Miami. A gente queria trazer essa conexão com Tobago, com Haiti e com o Brasil. Então tinha que ser uma praia real, que a gente frequenta mesmo, e com gente de verdade na rua. Foi muito legal. Como é um país “distante”, a galera não me conhece na rua. As pessoas ficaram curiosas ouvindo a música. Se aproximavam por conta do som. É muito gostoso experimentar isso.  ​

  • A canção marca o início do projeto “O Carnaval da Minha Vida”, que envolve uma série de lançamentos e eventos. O que você pode antecipar sobre isso?

“O Carnaval da Minha Vida” é um presente para mim e pros meus fãs. A gente deu “start” nele agora, em novembro, para o público, mas já estamos trabalhando nisso há bastante tempo. Vivemos um período de ostracismo que durou muito. Deus me defenda! O primeiro Carnaval pós-pandemia foi nesse ano… a gente acabou de vir dele! Parece que faz muito tempo, mas foi o primeiro. Foi um Carnaval difícil para mim porque eram muitas sensações, muitas emoções. Eu estou acostumada a lidar com o Carnaval, tenho 20 anos de carreira, mas esse foi o Carnaval mais… “Meu Deus, preciso me controlar porque senão eu não consigo cantar”. Foi um negócio muito diferente. Eu ia gravar o meu DVD antes, mas como veio a pandemia a gente postergou. Então essa temática de Carnaval ela já vinha permeando os meus desejos, meus sonhos, já há muito tempo. É “O Carnaval da Minha Vida”, junto com um “Parque de Diversões” no Carnaval de Salvador, que faz parte desse projeto todo, que culmina na gravação desse show, que acontece em abril, em São Paulo, na Vibra. Eu tô muito feliz, eu tô muito agulhada. Tem muito acúmulo de informação, então eu tô me estruturando emocionalmente para não explodir porque eu sou muito intensa. Eu já tô sentindo isso tudo e já tô com isso tudo guardado há muito tempo. Tô querendo botar para fora, porque já estou explodindo. Eu tô bem organizada com “O Carnaval da Minha Vida”, pedindo ajuda do povo em volta para poder mandar uma coisa de cada vez… mas é um projeto bem grande, para o ano inteiro.

 

  • Você falou que enfrentou dificuldades nesse Carnaval. O que houve? Quando você fala que você não conseguia “dar conta”, é uma coisa física? Psicológica? O que você sentia? 
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Eu nunca fiquei sem o palco na minha vida inteira, desde criança. Nunca fiquei sem Carnaval. O alimento para minha música, minha inspiração, é o povo. É o público. Eu sou cantora de palco. Eu vou para o estúdio porque eu estou ali imaginando o momento de estar com o público, de cantar para vê-los dançando, para vê-los celebrando o melhor da vida… se encontrando com alguém, encontrando o amor da vida, o melhor amigo. Então a minha música ela faz muito sentido para isso. E eu passei agora esses últimos anos fazendo música para esse momento e esse momento não chegava. O momento finalmente veio esse ano, no Carnaval. 

Eu me lembro que eu fui fazer uma ação numa loja, em Salvador, para entrega de abadás. E eu fui acometida por uma emoção muito diferente de todas que eu já tive em toda minha vida. Eu não sabia lidar com aquela sensação que eu tava sentindo ali. E eu acho que os meus fãs também não estavam conseguindo. Eu precisei realmente de muito equilíbrio. Eu não vivi intensamente esse Carnaval, muito embora tenha sido um Carnaval lindo e as pessoas tenham sido muito felizes também… eu vi, eu me deleitei naquilo, eu sou muito grata, mas eu tive que ter um autocontrole muito grande porque era psicológico, mas era físico também. Era: “eu preciso me equilibrar para fazer a minha música acontecer porque senão eu vou me emocionar o tempo inteiro aqui, e não vou fazer o que eu vim fazer, né?”. Então foi diferente de todos os Carnavais da minha vida. Por isso que eu tô dizendo que a partir de agora eu vou viver o Carnaval da minha vida.

  • É como se fosse você não tivesse conseguido viver tudo que queria ter vivido. Teve que se controlar para seguir, né? Para dar conta daquilo… 

Isso. São 6 dias de Carnaval, 6 horas por dia… tem toda uma preparação emocional, uma preparação física para estar ali, mas isso sempre foi leve para mim. A gente tem uns percalços, tem as dificuldades, mas desta vez foi uma emoção muito nova. Então agora eu estou me preparando, de novo, como sempre, mas me preparando para viver como eu sempre vivi meu Carnaval. Para estar ali 100% presente, independente do que aconteça. A gente vai ser feliz junto e eu vou me divertir muito porque eu tenho que me divertir nessa parada. O projeto inteiro se chama “O Carnaval da Minha Vida”, mas não só para minha vida. É para que as pessoas tomem isso para elas mesmas; elas possam dizer na primeira pessoa: “esse é o Carnaval da minha vida também”. Porque não faz sentido para mim fazer Carnaval se a outra pessoa não tá se sentindo no Carnaval de sua própria vida, se não está feliz.

  • Seu novo projeto coincide com a comemoração dos 30 anos de carreira da Ivete Sangalo. Podemos esperar algum lançamento de vocês juntas? 

Não… A gente fez o DVD de Ivete antes da pandemia. Fizemos a live “O Trio”, em fevereiro de 2021. A gente fez também uma música na pandemia, a “Bolo Doido”, que lançamos esse ano, no Carnaval. Ivete fez participação no meu álbum “REALVERSO”. Mas depois disso a gente não fez mais nenhum projeto. Não vamos lançar nada por enquanto. 

  • Dentro desse projeto, “O Carnaval da Minha Vida”,  você pensou no tema “Parque de Diversão” para sua maratona carnavalesca. Como surgiu essa ideia? 

Eu tô com 3D do trio elétrico pronto e acho que vai ficar ainda mais bonito. Eu sonhei com isso. Eu acho que a gente é mais criança no Carnaval e é o que eu quero fazer: eu quero ser criança no Carnaval. A gente não pode se preocupar tanto assim o tempo inteiro. Tem que ter responsabilidade consigo, com o próximo, respeitar os espaços… mas a gente vai para uma festa dessa para ser feliz, para dividir o melhor de si com o outro. E a gente faz isso quando a gente é criança. A criança ela não espera, ela se joga de qualquer altura… e o pai dela vai estar lá embaixo para segurar; a mãe vai estar ali. Eu quero essa segurança no coração das pessoas. A certeza de que elas vão pra festa e que elas podem ser elas mesmas, elas podem ter essa válvula de escape. Porque para mim nunca foi só entretenimento. Elas podem se divertir como criança porque a tia Claudinha vai tomar conta delas ali. Vai dar a melhor música. Vai se divertir em tempo integral até o final do Carnaval com elas. Também quero um pouco do resgate dessa memória afetiva. Todo mundo já foi para um parque de diversões na infância, né? A gente tem uma memória no parque de diversões. Por mais que não goste da montanha-russa mais cavernosa, foi no pula-pula, no carrinho bate-bate, na barraca tira ao alvo. Todo mundo tem uma lembrança. Eu quero que as pessoas sejam felizes e se divirtam. Minha música faz sentido por causa disso. 

  • O que você pode antecipar sobre seus looks do Carnaval? 

A minha inspiração para o looks são as pessoas. Tem a temática do parque de diversões, mas tem relação com a experiência de cada um no parque. Eu transformei o palco numa máquina de ursinhos do parque. A gente tá levando um monte de ursinhos para o palco até para trazer essa vibe e ter a conexão com tudo que a gente tá fazendo.

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  • O seu Carnaval vai ser todo em Salvador?

Isso. Sexta (9/2) eu puxo o bloco Blow Out; sábado (10/2) eu faço Camarote Brahma; domingo (11/2) e terça (13/2) eu puxo o bloco Largadinho. Vai ser bem legal.

  • Além do clipe que você tá lançando hoje, você vai trazer outros lançamentos para esse projeto? 

Sim, tem um monte de música inédita. Tem músicas a gente chama de “lado B”, que tão vindo no projeto ao vivo, mas provavelmente, por conta do intervalo de tempo mesmo, as pessoas vão começar a ouvir todas essas músicas no DVD, mas a gente vai soltar algumas coisinhas antes. Eu comecei a cantar uma outra no trio, num bloco, para já ir ensaiando com a galera. Mas tem um cronograma anual.

  • Você deve lançar tudo até a gravação do DVD, nos dias 8 e 9 abril?

Não… A gente está experimentando algumas ao vivo, porque tem uma porrada de show até abril. Mas soltar mesmo efetivamente tem um tempo de maturação. Até abril tem mais música, mas a gente vai experimentando. 

  • E essa gravação, em São Paulo, você vai lançar em formato audiovisual? 

Essa era audiovisual já acompanha a gente desde a época dos clipes. Vai estar disponível online para todo mundo assistir. Provavelmente, por conta de gravadora e tudo mais, a gente tem uns lançamentos exclusivos atrelados a alguma marca, mas estará disponível para todo mundo no formato de DVD. Vamos gravar músicas inéditas, canções que marcaram a minha carreira, além de releituras. Vai ser um repertório bem variado, assim como é o do Carnaval.

  • Você lançou seu novo clipe no dia em que começa o Verão no Brasil. Como vai ser seu Verão? 

Natal eu posso com a minha família toda. A gente está em Miami passeando. Não é só lavar roupa agora é passear mesmo (risos). E o Verão vou passar no Brasil, claro. No dia 29, eu vou estar no Réveillon de Santé, no Rio de Janeiro; no dia 30, no Festival Virada Salvador; e no dia 31 eu faço a virada na Paulista, em São Paulo. Vou ficar aí em minha casa. Fico indo e voltando o tempo todo há quase 10 anos.

  • Você revelou recentemente que foi diagnosticada com TDAH, sigla para “Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade”, após os 40 anos de idade. Para encerrar, pode nos contar um pouco como foi isso? O que isso mudou na sua vida? Afinal, a Claudinha que fez o Carnaval em 2023 não sabia que tinha TDAH e a de agora sabe…

Ai, você me perguntou uma coisa tão especial, tão importante. Eu costumo falar isso para as pessoas a minha volta, mas na verdade é como se fosse uma mensagem para mim mesma: (aprendi a) ter um pouco de paciência comigo mesma. Sempre que um jornalista, por exemplo, me faz uma pergunta eu vou em detalhes. A minha memória é muito vasta. É um fluxo de pensamentos que eu não consigo bloquear. Eu tenho uma alteração no córtex pré-frontal. Todo mundo consegue fazer um raciocínio às vezes muito óbvio e lógico e ir direto ao ponto. O TDAH não me deixa filtrar esses pensamentos. Eu consigo desmembrar uma pergunta em mil numa fração de segundos. É muito doido! Por outro lado, eu não tinha essa consciência. Eu não sabia que isso era uma condição.

  • Você nunca desconfiou que tinha esse transtorno?

Acho que eu passei a minha vida inteira me vendo – porque eu sempre me vi – mas eu não entendia o que estava acontecendo. Eu dava uma entrevista e eu não conseguia terminar o raciocínio ou às vezes eu já tava respondendo e aprofundando, porque quem tem TDAH muitas vezes quando interessa por um assunto ou quer falar mais ou “se perde”. Estou generalizando, mas cada caso é um caso. E a gente precisa falar da individualidade, que é muito importante. Mas eu tinha uma tendência a ouvir aquilo, me empolgar e não ouvir o resto do que acontecia. E eu já sabia disso. Então eu ia me preparando para ir para a entrevista ou pra qualquer que fosse o meu compromisso para ter a paciência que eu não produzo naturalmente por conta da minha alteração. Às vezes eu me perdia no raciocínio. E eu falava assim: “Meu Deus, mas eu já sei que não posso ser assim. Eu já sei a resposta. Não era isso que eu queria dizer”. E isso automaticamente me condenava.

  • Você se julgava muito? Isso mudou após o diagnóstico?

Eu olhava para mim e não tinha tanta ternura. Eu falava: eu não entendo, eu pareço que sou uma pessoa que não tem discernimento, inteligência. E eu falando: “Por que eu sou assim? Eu não me aceito assim”. Depois, a partir do momento em que eu tive o diagnóstico, eu comecei a ter um pouco mais de paciência comigo mesma. Eu comecei a gostar mais de mim, a ser mais mais eu. A deixar minha personalidade fluir mais e não me condenar, não ter receio do que eu vou dizer. É bonito ser assim, tem um lugar para o TDAH. A gente não pensar: temos uma condição e vamos ser excluídos aqui. Não, eu consegui, inclusive, chegar até aqui hoje, independente das condenações, das culpas e do autoflagelo, porque a gente se martiriza. A gente quer se encaixar, quer estar no tempo dos coleguinhas da escola, da galera do trabalho e é outro timing, é outra noção de tempo. Eu consegui superar isso, eu consegui chegar até aqui. Eu sou uma eu sou uma nova mulher. É muito libertador. Em princípio, é assustador, receber o diagnóstico, porque é um transtorno, uma condição séria. A gente precisa olhar com ternura para o outro.


Muito embora tenha muito diagnóstico tardio, quanto antes a gente puder tratar uma criança para inserir ela num contexto, dar condições especiais mesmo para quem tem TDH, melhor. Porque ela vai ter chance de exercer a função dela. Eu tive a felicidade, a benção, não sei porque. Não me pergunte, porque é uma questão divina, mas de ter descoberto o que eu queria pra minha vida ainda na minha fase de criança, então o meu hiperfoco – que é uma qualidade – ele foi aguçado na minha infância. Meus pais sempre foram pais maravilhosos, mas a gente sabe que tem pessoas que não são privilegiadas assim, que não vivem num lar compreensivo, não têm acesso a um colo, onde se sintam felizes. Eu acho que é muito importante falar disso. Achei que foi incrível você tocar nesse assunto agora e eu me sinto muito feliz de poder falar disso nesse tempo. 

  • Você sentia que o fato de ter TDAH te interferia em alguma coisa no Carnaval?

Jamais. Carnaval nunca. Meu fluxo de ideias, de pensamentos, não é contido. Não tem essa linha, não tem filtro. Mas tenho um hiperfoco. Eu sou uma cantora de palco, de trio. Quando eu subo ali, o meu hiperfoco é ativado. Eu canto 400 músicas em cima do trio e meus parceiros de backing vocal falam: “Caraca, como é que essa mulher lembra essa música? A melodia?”. Eu tenho sentidos muito aguçados. O cheiro para mim é uma coisa muito importante: o cheiro me traz a música. Eu consigo enxergar coisas de uma maneira diferente. Eu vejo desdobramentos daquilo que realmente está acontecendo. Não tenho uma evasão. Não me perco nos meus pensamentos. Eu não tenho um devaneio. Tenho hiperfoco. 

  • É perceptível que você está mais em paz consigo mesma após esse diagnóstico. No palco e no trio você sente alguma diferença prática?

No trio, não. Nos lugares onde eu atuo, também não. Com meu hiperfoco, eu nunca tive nenhum problema cantando. Na época da escola, por exemplo, eu sempre fui muito boa mesmo em Literatura, Geografia, História, em humanas. Eu escrevo super bem e sempre escrevi redações tranquilamente. Isso parece um “superpoder”, para alguns, mas na verdade é o hiperfoco. São assuntos que me interessam muito. Quando interessam, a gente vai a fundo e faz aquilo com mais afinco e com zelo, esmero. Já exatas, eu pensava assim: vamos aqui do jeito que der para ir. Às vezes eu super entendo, mas a equação não era só uma fórmula que eu tinha que decorar. Eu precisava entender o que estava por trás daquele cálculo pra trazer para uma realidade mais comum. 

Agora é muito importante ir pra um médico. Eu tive o diagnóstico de TDAH antes e foi assustador para mim. Eu sempre ouvi que eu era hiperativa e isso sempre foi um problema de alguma forma. Principalmente como mulher, porque eu sou serelepe, e eu sou “Claudinha Bagunceira”. Eu sou aquilo ali mesmo: super elétrica, flui de mim e eu não tenho muito controle. Eu sou ativa, tenho meus momentos mais concentrada, mas são mínimos. Eu sou muito falante, elétrica e tal. Às vezes não era compreendida. Eu trabalho com banda predominantemente masculina, a gente está falando de 20 anos atrás, eu era muito novinha. Ouvia muito: “Ah, essa menina daí tá querendo tomar ousadia comigo porque ela é agitadinha, ela tá se movimentando muita. Tá mexendo muito no cabelo. Fala muito…”. E eu tava ali só sendo eu. Então isso gera comportamentos que são muito mais profundos, e só se resolve isso com o acompanhamento médico. Você tem que ter um bom médico para para dar um diagnóstico, por exemplo. Você saber que tem TDAH não é tão libertador quanto você ser tratado por um psiquiatra. Precisa realmente de um acompanhamento individual médico. Isso é urgente. E eu eu tô sabendo que agora o SUS vai disponibilizar ainda mais psiquiatras. Então eu eu quero estimular as pessoas a marcarem logo uma consulta porque quanto mais cedo elas souberem quais são as dificuldades que elas vão ter que enfrentar, mais preparadas elas vão estar. Principalmente TDAH, que precisa ensaiar para fazer as coisas direito; para não esquecer uma chave para não se perder…  

  • Como funciona seu tratamento? 

Cada caso é um caso. A minha médica é a doutora Ana Beatriz Barbosa. Eu faço minhas sessões, tenho terapia e neuromodulação. Foi uma coisa que teve um impacto profundo em mim. Chama EMTr – Estimulação magnética transcraniana repetitiva. É uma técnica onde se aplica pulsos eletromagnéticos repetidos em uma região específica da cabeça por meio de uma bobina com intuito de estimular a liberação de neurotransmissores e restabelecer conexões cerebrais através da neuroplasticidade cerebral (capacidade de remodelamento cerebral) por ela induzida. É um procedimento não invasivo, aplicado em consultório, sem anestesia e sem dor. Eu fiz um intensivo e continuo fazendo. Toda vez que eu tô por lá eu faço um pouquinho. Tenho minhas consultas sempre que dá e eu estou me sentindo ótima.


Fotos: Nara/Divulgação e Alô Alô Bahia.

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