Por Roberto Midlej

Escritora, cantora, performer, artista visual… nem a própria Ventura Profana sabe se definir profissionalmente. Mas de uma coisa, essa baiana de 27 anos tem certeza: faz questão de ser chamada de travesti. “Sou travesti. Não sou transexual. Travesti é uma palavra que tem poder, que tem um peso muito grande. Não quero ser mulher nem homem. Não quero me submeter a padrões e a travestilidade é o oposto de qualquer padrão”, diz com firmeza.

Nascida em Salvador e criada em Catu, a 80 quilômetros da capital, Ventura teve seus primeiros contatos com a arte ainda quando frequentava uma igreja batista. “Quando o estado não te permite acesso à cultura, não lhe dá educação plena, a igreja acaba te nutrindo neste sentido. Sou grata à igreja pelas peças que me proporcionou assistir e pelas cantoras que pude ouvir”, diz.

Encantou-se tanto com as cantoras que acabou se tornando uma e está lançando seu primeiro álbum, Traquejos Pentecostais Para Matar o Senhor, disponível nas plataformas de música e no YouTube. Mas o “senhor” do título não é Jesus Cristo. Ventura se refere ao senhor que oprime – nas palavras dela, o “macho branco engravatado” -, que dá ordens e quer ditar as normas sociais. É esse senhor que ela quer “matar”, é dele que ela “quer de volta tudo que o devorador roubou”, como diz na música Restituição.

Evangelizar
“Eu questiono a presença senhoril, a hipocrisia moral, essa lógica capitalista. Precisamos parar de voltar nosso louvor a esse senhor extremamente cruel”, afirma. Ventura diz que usa sua música para evangelizar seus ouvintes. “’Evangelho’ significa espalhar boas novas e é isso que eu quero, pois há corpos condenados por conta dessas política de horror e o que eu prego é salvação para essas vidas”. Mas esqueça aqueles cantos de louvores tradicionais que se acostumou a ouvir: Ventura faz música eletrônica pura.

A cantora admite as dificuldades que enfrenta por ser travesti, especialmente por parte da família: “Para eles, o que faço é blasfêmia”. Por isso, mantém com os pais uma relação distante, embora fale com eles com certa frequência. “Renunciei a minha família em nome de um propósito e meu trabalho é inegociável. Mas amo muito meus pais e sou muito grata a eles. E eles também me amam”, diz, com segurança.

Depois de passar a infância em Catu, Ventura foi para o Rio de Janeiro, onde viveu com a família. Viveu no Rio até o ano passado, quando foi uma das artistas premiadas pelo Bolsa Pampulha, um programa de residência artística, e se mudou para Belo Horizonte.

Em BH, participou de uma exposição do programa da residência, mas a prefeitura, uma das realizadoras do projeto, impediu inicialmente a abertura da da mostra, alegando problemas na estrutura do museu. Mas, segundo Ventura, o teor das obras, que envolvia sexualidade e raça, incomodou autoridades. No entanto, a exposição acabou acontecendo, embora com algumas restrições impostas pela prefeitura. Agora, Ventura se prepara para viver em Salvador a partir de agosto, quando vai integrar uma residência artística promovida pelo Instituto Goethe.

Fotocolagens da artista ilustram a revista Zum

Um dos trabalhos que Ventura Profana realiza é o de colagens fotográficas. Algumas dessas criações estão na edição mais recente da revista Zum, publicação do Instituto Moreira Salles dedicada a ensaios fotográficos. A capa também é uma dessas obras criadas pela artista. No próximo dia 5, Ventura participa de uma live no canal da Zum no YouTube, às 18h.

A edição também tem um artigo de Giselle Beiguelman que discute a popularização (e a ameaça) das deepfakes, imagens produzidas por inteligência artificial a partir de bancos de dados. Segundo a autora, trata-se de “uma das armas mais temidas das eleições presidenciais norte-americanas deste ano, capaz de colocar na boca de Donald Trump discursos de um adversário, e vice-versa”.

A discussão sobre as políticas da imagem também é abordada em ensaio dos pesquisadores israelenses Eyal Weizman e Ines Weizman. Eles analisam a história das chamadas “imagens de antes e depois”, um par de fotos que precedem e sucedem determinado evento.

A revista publica também registros de performances da artista paraense Berna Reale acompanhados por artigo da pesquisadora Marisa Mokarzel. Ela analisa como as obras de Reale evidenciam as relações de violência e controle que regem a sociedade brasileira.

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