Nos últimos anos, na Bahia, o nome de Marcelo Cerqueira, de 45 anos, foi associado ao trabalho de militância junto ao Grupo Gay da Bahia (GGB). Agora, Marcelo, que é assessor parlamentar da deputada estadual Fabíola Mansur (PSB), quer ser vereador de Salvador.  Atualmente pré-candidato ao cargo, pelo PSB, Marcelo diz que, se eleito, quer usar seu mandado para defender a população LGBT. Marcelo professor licenciado e bacharel em História pela Universidade Católica do Salvador, pesquisador, jornalista, fundador do Grupo Quimbanda Dudu de Negros LGBTs, Centro Baiano Anti-Aids, Associação das Prostitutas da Bahia (APROSBA, Associação de Travestis de Salvador (Atras).
Marcelo conta que desde a adolescência se depara com as questões de gênero e enfrentamento. “Quanto tive o meu primeiro encontro pra valer com outro homem no dia seguinte em casa, eu achava que todos sabiam, lutava para esconder isso, tinha cerca de 16 anos. No colegial e no cursinho namorei varias meninas, era muito assediado, mas a minha opção era os meninos. Não sofri preconceito por vir de uma família operaria muito grande. Meus primos me ensinaram a brigar, jogar bola e me mostraram a beleza de ser homem e pertencer a essa cultura.
Como gestor público foi Diretor do Departamento de Gestão Ambiental da cidade de Lauro de Freitas (2004-2007), ainda foi Diretor do Serviço de Atenção Especializada (SAE) e Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) de Lauro de Freitas ( 2007 “ 2011). Ele ainda é Conselheiro do Conselho Estadual do Desenvolvimento Econômico do Governo do Estado da Bahia (CODES), Conselheiro do Conselho de Turismo do Estado da Bahia e do Comitê Gestor de Internet do Brasil (CGI.Br). “”Eu me identifico como um homem gay com identidade masculina e não tenho dúvida que a minha sexualidade me ajudou ser o homem de sucesso que sou, porque fui obrigado desde cedo a fazer projeto de vida para ser livre e não depender de nada além da amizade dos outros. Cito Genet, um gay genial, que dizia  ‘para mim, a homossexualidade foi uma benção'”.
Veja abaixo entrevista com Marcelo onde ele fala das suas pretensões enquanto pré-candidato.
ME SALTE: Você é pré-candidato ao cargo de vereador de Salvador e vem fazendo mobilizações em prol da causa LGBT. Como você se vê dentro do cenário político?
MARCELO CERQUEIRA: Me sinto absolutamente incorporado ao grande debate da contemporaneidade, que é o realce no terreno e político e constitucional à dignidade humana, especialmente aos direitos sexuais, à cidadania, à democracia, que não são atributos héteros, mas humanos. O movimento LGBT é, em verdade, um braço de um grande movimento emancipatório, de natureza internacional, que inclui a luta das mulheres, dos negros e das negras, das domésticas, dos estudantes, dos idosos.
Tem a ver com mobilidade urbana, com o direito à cidade, com uma educação inclusiva, que permita o debate de gênero. Enfim, me sinto pertencente e milito na esquerda democrática, que acredita na autodeterminação das pessoas, no direito à habitação digna, à liberdade de expressão. Minha trajetória de militância, claro, tem forte conteúdo de defesa do direito de LGBTs irem e virem sem sofrer qualquer espécie de violência ou assédio. O cenário político atual é complexo, enfrentamos um forte movimento reacionário, de direita, homofóbico e racista, e me incluo entre todos aqueles que acreditam na diversidade.
MS: Há muito preconceito na política e na sociedade com os LGBTs. Como você pretende dialogar com esses preconceitos?
MC: Não se dialoga. Preconceito se combate. E é iss que estamos fazendo há décadas, inclusive denunciando formalmente casos de discriminação, criando ambientes de debates e conscientizando as pessoas sobre o que dignifica direitos humanos, liberdade de expressão sexual, e principalmente o direito à felicidade. O preconceito é uma coisa triste. Todo preconceituoso é um indivíduo triste, pois interdita o debate ao tentar frear um movimento internacional em defesa dos direitos das minorias.
MS: Como você pretende dialogar com a temática de diversidade no seu partido?
MC: Meu partido, o PSB, já discute abertamente este e diversos outros temas vinculados aos valores de esquerda. Agora, por exemplo, estamos promovendo debates internos sobre a temática LGBT. A nossa deputada estadual Fabíola Mansur, por exemplo, é uma aguerrida militante da causa LGBT, desde quando foi vereadora, e agora na Assembleia propiciando
espaços de debate. Então, do ponto de vista partidário, me sinto em situação bastante confortável e temos um conjunto de
militantes sensíveis à nossa causa.