Em 1976, o americano James Green chegou ao Brasil pela primeira vez para ficar hospedado por três semanas. Se encantou pelo país e nossas histórias a ponto de viver aqui em outras temporadas e agora lança seu terceiro livro sobre vivências brasileiras tendo os aspectos de gênero como cenário.

Green, de 67 anos, é professor de História Latino-Americana na Brown University, é ativista de causas políticas e LGBT. Viveu no Brasil de 1976 até 1982, época em que participou de diversas organizações políticas e identitárias, como o Grupo Somos de Afirmação Homossexual (Somos), do qual foi um dos fundadores. Atualmente é diretor da Brown’s Brazil Initiative e do Opening the Archives Project, e diretor executivo da Brazilian Studies Association. Este é seu primeiro livro pela Civilização Brasileira.

Nesta sexta-feira (10), em Salvador, ele lança seu novo livro ‘Revolucionário e Gay – a vida extraordinária de Herbert Daniel”. O livro conta a história de Daniel, um dos pioneiros do movimento LGBT no Brasil e ativista pela democracia durante a ditadura. O lançamento acontecerá às 19h  na livraria Saraiva no Shopping Barra.

Estudante de Medicina em Belo Horizonte no início da década de 1960, Herbert Daniel logo se juntou às fileiras da resistência à ditadura civil-militar instaurada no Brasil em 1964. Entrou para a luta armada e conviveu com nomes ilustres do movimento, como o capitão Carlos Lamarca e a ex-presidente Dilma Rousseff. Um dos últimos brasileiros a voltar do exílio, na década de 1980, escreveu e editou livros e ainda engajou-se nas campanhas pela defesa do meio ambiente e das minorias e foi um importante ativista pelos direitos das pessoas portadoras de HIV/Aids no Brasil.

Herbert Daniel foi também pioneiro ao se candidatar a deputado estadual e a se assumir publicamente como homossexual, fazendo campanha e militando no embrionário movimento LGBT no Brasi Para o autor, para ser aceito nos grupos de esquerda e participar da luta armada Daniel precisou reprimir sua homossexualidade, vista com maus olhos pelos militantes da época, e viveu, segundo ele, uma espécie de “exílio interno”.

Ele teve que reprimir a sua sexualidade por conta do preconceito. Ele teve que se reprimir para ser aceito com um bom revolucionário. Ele é uma pessoa que foi esquecida e que eu quero recuperar e memória dele. Eu li sobre ele no jornal Lampião, que foi publicado no Brasil entre 1978 e 1981. Eu falei com a mãe dele e comecei a escrever a biografia do filho dela.

A motivação para escrever a biografia  – que demorou mais de 10 anos para ser escrito – veio da percepção de que, mesmo com toda a sua importância no ativismo de esquerda e pelos direitos humanos, Daniel foi esquecido.

“Ele foi uma pessoa que vivia em certo sentido antes do seu tempo, pois a sociedade brasileira não estava preparada para receber as novidades que ele apresentava, por exemplo, na sua campanha eleitoral de 1986 ou inclusive nas campanhas sobre HIV/Aids. O país também passou por muitas crises econômicas, políticas e sociais desde 1992, quando ele faleceu. Não sei se é verdade que os brasileiros não têm memória, mas às vezes é essencial oferecer um livro, um documentário, ou um filme sobre uma pessoa extremamente importante numa determinada sociedade justamente para relembrar as pessoas sobre estas figuras extraordinárias, que viveram em outros momentos”, diz Green.

O livro, que tem orelha de Dilma Rousseff e um encarte de fotos.  Em conversa com o Me Salte, nesta quinta-feira (09), o escritor e ativista destacou a relevância do exemplo de Daniel. “Ele vivia a necessidade de lutar e de transformar as ações de forma democrática. A mensagem que ele compartilhou com o mundo é que é importante tentar integrar todas as lutas para se ter um mundo melhor e mais democrático”, explica o escritor destacando a necessidade da inspiração das pessoas para transformar suas realidades.

Green pondera que, inclusive, é preciso que as pessoas precisam entender as interseccionalidades das lutas.”Não dá para lutar só pelo racismo sem lutar contra o sexismo. É necessário juntar as forças. Não existe uma luta individual. É preciso respeitar as diferenças da sociedade e respeitar a unidade dos movimentos”, afirma.

capa livro

Tradução: Marília Sette Câmara
Páginas: 378
Preço: R$ 69,90
Editora: Civilização Brasileira | Grupo Editorial Record

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