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Por Clarissa Pacheco

Fui a Cachoeira, no Recôncavo Baiano, esta semana e voltei com um desejo pra vida: comprar umas latas de tinta e sair escrevendo nas paredes um monte de coisas que me der na telha. Escreveria nas paredes aqui de casa também, mas a real é que eu não quero guardar isso pra mim ou para quem me visita em casa. O que eu queria mesmo era ter uma versão do CAHL (Centro de Artes, Humanidade e Letras) da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) pra chamar de minha nossa.

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É sério, aquele lugar é um hino! Um exemplo de resistência, de orgulho, de posicionamento que a gente devia estampar por aí e divulgar. Tem protesto, música, poesia, afronte e, sobretudo, verdades. Muitas verdades que precisam mesmo ser ditas. Verdades sobre respeito às mulheres, aos gays, sobre empoderamento, combate à homofobia e ao machismo. As paredes do CAHL reúnem de tudo. Tem até uma menção a cupcakes, quase de frente a uma frase que pede justiça para Mariele Franco e outra que fala sobre a presença de Deus no lugar.

No andar de cima, sacadas bem humoradas de defesa aos “ervoafetivos” e um pedido de socorro que, tenho certeza, passa pela cabeça de muitos estudantes: “Não deixem a universidade atrapalhar seus estudos”. Circulei por lá durante dois dias e a cada passo, uma nova descoberta. “As melhores são no caminho da biblioteca”, disse um rapaz, ao ver a minha cara e dos meus três colegas, registrando tudo.

Não dá para dizer que o pátio do CAHL não seja a imagem de uma comunidade que vive a universidade e que deixa ali suas certezas – e incertezas – seus protestos, suas dores, frustrações, mas também sua alegria, a empolgação de dizer o que se sente e de se sentir representado no que o outro colocou ali. Mas, certamente, parte da comunidade não convive bem com aquelas paredes.

Como imaginei, o Centro de Artes que empolga olhares como o meu, que me senti tão representada em muitas daquelas frases, é motivo de repulsa para outros. O ‘Reverso Online’, publicação do curso de Jornalismo da própria UFRB, trata da polêmica. O texto de Magno do Rosário  mostra os posicionamentos distintos sobre o assunto. De um lado, estudantes como Fernanda Abreu, de Artes Visuais, que não enxerga um Centro de Artes com paredes brancas.

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“E como assim um centro de artes com as paredes todas brancas, sem arte, sem nada sendo exposto? As pessoas precisam ter uma transformação”, disse ela à Reverso Online. Na mesma reportagem, o ator Cláudio dos Santos mostra outro ponto de vista: “Se eu, como visitante, me senti envergonhado ao circular pelo local, imagino também a decepção de outras pessoas que aqui chegam”.

Há, inclusive, pedidos para que a direção do Centro pinte as paredes, removendo as intervenções feitas no local. No final de 2015, a direção do CAHL divulgou uma nota em que afirmava ser “sensível às questões de gênero, de diversidade sexual e de raça, no combate ao sexismo, ao racismo, à LGBTfobia e às tantas outras formas de opressão, discriminação e desrespeito”. No entanto, dizia “desaprovar a ação empreendida nas paredes”.

Ao que parece, as intervenções ganharam apoio da atual direção. Mas, com o sem aval, fato é que Centro de Artes da UFRB permanece chamando a atenção, reverberando a voz de quem está ali todos os dias, vivendo, sentindo.

 

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