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Professora da Ufba cria cordel contra cultura do estupro

“A cultura machista que delimita o estupro. Os casos de estupro são subnotificados e as vítimas são transformadas em culpadas”. Essa reflexão da  professora Salete Maria da Silva, que atua no Departamento de Gênero e Feminismo da Universidade Federal da Bahia (Ufba), lhe motivou a escrever um cordel que reflete os constantes abusos sofridos por mulheres. O texto, que você pode ler abaixo, foi produzido após a indignação da professora diante do estupro coletivo que aconteceu na última semana no Rio de Janeiro que foi praticado por 33 homens contra uma adolescente de 16 anos.

A educadora, que também integra o Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher da Ufba, ressalta que a luta pelos direitos femininos é longa e árdua. “Os casos como o dessa jovem que acabam vindo ao público são poucos em comparação aos que ocorrem. Ainda há muito o que fazer para combater o machismo que acontece em várias esferas da sociedade”, explica a professora que optou por escrever o cordel com o objetivo de disseminar o conteúdo de forma mais abrangente. “O cordel chega a mais pessoas do que uma dissertação acadêmica”, explica Salete que desenvolve, há 20 anos, o estilo que denomina ‘artevismo feminista e libertário’.

VEJA O CORDEL PRODUZIDO PELA PROFESSORA SALETE MARIA

NÃO á cultura do estupro

Salete Maria, Salvador, Bahia, 26 de maio de 2016.

O estupro da menina

Nos convida a pensar:

Será essa a nossa sina?

Temos que nos conformar?

Ou temos que ir pra cima?

Já que a luta nos ensina

Que tudo pode mudar?

 

A cada onze minutos

Um estupro acontece

E não é um bicho bruto

Que da floresta aparece

Com seu instinto insano

E viola um ser humano

Conforme lhe apetece

 

É gente civilizada

Que estuda ou labora

Que cumpre sua jornada

Que vai à   missa e chora 

Mas estupra uma mulher

Onde e quando bem quer 

Pois vê que ninguém dá bola

 

E pratica a violência 

Achando que está certo

Pois compartilha da crença

De que o homem esperto 

Não perde a oportunidade

De mostrar virilidade

Pois sempre estará coberto

 

Afinal nossa cultura

Acha normal explorar

O corpo de uma mulher

Em tudo quanto é lugar

Basta ver as propagandas

E as letras d™algumas bandas

Para ver como se dá

 

A cultura do estupro

Está em todo ambiente

Desde a casinha mais simples

Ao palacete imponente

Passando pela imprensa

Religião e ciência 

E no discurso eloquente

 

A ob-je-ti-fi-ca-ção 

Da imagem da mulher

A hiperssexualização 

Que o povo aplaude de pé

É uma autorização

Para a violação 

E quase ninguém dá fé

 

Estuprar uma mulher

Significa poder

E nossa sociedade

Ensina como fazer

Quando educa diferente

Ou mesmo quando consente

Um homem nos ofender

 

De onde vem a ideia 

Que a gente não tem valor?

Quem criou essa epopeia

Do macho devorador?

Que pode nos estuprar

Bater e até matar

E divulgar com furor?

 

Limpemos nossa retina

Para enxergar a história

E ver como essa cretina

Ainda nos ignora 

Pois narra os grandes feitos

Dos machos e seus direitos

Deixando a mulher de fora

 

Miremos as nossas casas

Escolas e outros espaços

Meninas são educadas

A ter direitos escassos

Meninos tem liberdade

E andam pela cidade

Sem ninguém seguir seus passos

 

Escutemos as conversas

Sobre os corpos femininos 

Atentemos para aquilo 

Que dizem nossos meninos

Pra ver se não é igual

Ao discurso social 

Machista e assassino

 

Olhemos bem para as ruas

E o assédio cotidiano

Sob o sol ou sob a lua

É só fiu fiu imperando 

E piadas de mal gosto

Ditas bem perto do rosto

Daquela que vai passando

 

Olhemos para a política

E os modos de governar

Será que alguém acredita

Que sexismo não há

No comando do país

Que hoje está por um triz

Sem mulher para opinar

 

Quem tem controle de tudo?

Quem manda, quem determina?

Quem acha que pode tudo?

Quem explora e domina?

Quem é criado pra isto?

Quem acha que tem um visto

Pra violar as meninas?

 

Tudo é naturalizado

Visto como algo banal

Mas as práticas revelam

O machismo estrutural

Que ainda culpa a mulher

Dizendo: ela é quem quer

Ser estuprada, afinal

 

O velho patriarcado

Ainda está em vigor

E o machismo é ofertado 

Como o melhor professor

Nos planos de educação

Por toda essa nação

Sem ter o menor pudor

 

Mas isso tem que mudar

Pois é preciso ter fim

O povo tem que acordar

E o Estado enfim

Precisa assumir a culpa

E acabar com a desculpa

De que as coisas são assim

 

Pois se cada estuprador 

Responde pelo seu ato

Conforme manda a lei

E assim deve ser, de fato

O machismo opressor

Que tanta dor já causou

Também pagará o pato

 

Precisa ser extirpado

Do convívio social

Não pode ser tolerado

Ou perdoado, afinal

Tem que ser eliminado

Morto e erradicado

Via educação geral

 

Pois se a cultura machista

Ensina a maltratar

E estuprar as mulheres

Ou até mesmo matar

Educar para a igualdade

E para a diversidade

É o que pode transformar

 

Sobre isto o feminismo 

Tem muito a nos ensinar

Já que fala de respeito

De direitos, de lutar 

Fala de democracia

Liberdade, autonomia

E d™outras formas de amar

 

Não à   cultura do estupro

Não à   dor e à   violência

Não à   exclusão de tudo

Não à   tanta conivência 

Não ao machismo perverso!

E assim termino meu verso

Pedindo mais consciência!

SALETE MARIA é uma cordelista feminista brasileira. Atualmente trabalha como professora do Bacharelado em Estudos de Gênero e Diversidade da Universidade Federal da Bahia-UFBA. © Salete Maria, 2016.

 

 

Locais para denúncia de estupro e abusos na internet:

denuncia.pf.gov.br

www.safernet.org.br/site

www.humanizaredes.gov.br/disque100

*Colaborou Marcelo Cerqueira/GGB

Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

1 Comentário

  1. O estupro é a morte da Alma…..

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