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‘Nunca subi num trio’, diz Liniker que puxará bloco Os Mascarados hoje (8)

Ela gosta de sol. Ar-condicionado só quando não tem jeito. E foi assim, de pé, no sol com a Baía de Todos os Santos ao fundo que começamos nosso papo quando ainda era segredo a informação de que hoje ela seria, ao lado de Sandra de Sá, a grande estrela dos vocais do bloco Os Mascarados. A partir de 22h, desta quinta-feira (08) a cantora trans Liniker trocará o dia ensolarado pelo brilho purpurinado da agremiação sem cordas que é um dos principais redutos no Carnaval do público LGBTQIAP+ (Lésbicas, Gays, Bi, Trans, Queer/Questionando, Intersexo, Assexuais/Arromântiques/Agênero, Pan/Poli, e mais).

“Vai ser o primeiro trio da minha vida,. Talvez eu sinta vontade de descer para trocar afeto com as pessoas lá em baixo. Sandra é uma mulher referência de musica e de cultura no nosso país. É muito maravilhoso poder fazer parte dessa história e está aqui mais uma vez em Salvador”, fala a cantora que fez temporada em janeiro na Caixa Cultural com shows lotados.

Seu nome é uma homenagem ao futebolista inglês Gary Lineker, artilheiro da Copa do Mundo de 1986. Mas as referências da Liniker são bem distantes do mundo da bola. Cresceu ouvindo samba, samba-rock e soul. Embora tenha mostrado talento vocal desde cedo somente em 2015 formou a banda Liniker e os Caramelows, com quem lançou o EP Cru em 30 de julho daquele ano. Estourou no Brasil. Em setembro de 2016, a banda lançou seu álbum de estreia, intitulado Remonta, gravado com ajuda dos fãs por meio do financiamento coletivo.

Dois primeiros acordes com a canção Cru pra Remonta muita coisa mudou. “O meu som mudou muito, principalmente o jeito de escrever, o tipo poesia, arranjo e composição. Eu me percebo hoje fazendo muito mais poesia do que composição de música”, conta a cantora paulista que além dos seus sucessos terá no repertório singles carnavalescos (que ela prefere deixar como surpresa para os foliões).

Depois do Carnaval, Liniker entra em estúdio para gravar o novo disco. “Vamos trazer as nossas experimentações. As músicas são totalmente diferentes. Não estou dando nem muito spoiler ainda porque a gente não começou nem produzir. Ele ainda está cru cru cru, mais cru que o cru. Será esse ano sem pressa”, ressalta em tom tranquilo a artista paulista que passou um mês em Salvador se conectando com a cidade.

“Me conectei com Salvador. Está difícil ir embora. Aqui é um dos lugares em que mais senti a minha ancestralidade. Nunca fui numa praia em que a maioria das pessoas fossem pessoas pretas. O trato é diferente do trato de São Paulo, tipo do toque, da aproximação, do respeito com outras pessoas e comigo assim tipo. Eu não conseguia entrar no mar. Toda vez que a gente ia pra praia, não conseguia. Só entrava até o calcanhar, mas quando cheguei no Porto da Barra me deu vontade de dar um mergulho. Senti que a Bahia me trouxe a paz que eu estava precisando”, destaca a cantora.

Um dos principais expoentes da nova geração da música brasileira feita por pessoas LGBTQIAP+, Liniker acredita que seu trabalho tem uma função social levar maior visibilidade para segmentos não midiáticos. Seu canto reverbera e empodera os segmentos.

“Acho que uma das chaves para isso é esta em todos os lugares está em todo lugar fazer show em vários lugares, levar a minha mensagem para vários lugares. É o que vou fazer no Carnaval. Além de um protesto de fala, de dar o nosso posicionamento, de um protesto de amor, mesmo sabe tipo, de troca de poder olhar no olho de uma pessoa e cantar e o que eu realmente acredito e sou e o que nosso som realmente passa. O meu grande trabalho hoje eu percebo que está no afeto. Preciso trabalhar com amor. Essa é a minha chave para qualquer coisa”, ressalta.

No início da sua visibilidade maior de carreira, Liniker dizia que não gostava de rótulos. Atualmente, se identifica com uma mulher transexual (que ao nascimento foi identificada como pertencente ao gênero masculino, mas pertence ao feminino).

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“As pessoas tendem a achar que começou a desconstrução por que eu estava na mídia, mas eu já estava no processo desconstrução de todo dia entender quem eu era quem era o meu corpo está dando vazão o que realmente sou na minha vida. Minha vida, só não acontece quando estou no palco ou dando entrevista. Quando eu realmente me posicionei e me firmei me senti bem para expressar o que estou vivendo hoje”,argumenta Liniker que espera que sua exposição na mídia fortaleça outras mulheres trans.

“As pessoas trans são população que é mais vulnerabilizada dentro dessa sopa de letrinhas que a gente vive. Você estando na posição de mídia na posição de voz acho que pode inclusive fortalecer outras mulheres trans. É uma luta diária”

Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

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