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5 tópicos e 3 personagens pra entender a não-binariedade

1-Menos rótulos
A não-binariedade é a não identificação nem com o gênero masculino e nem com feminino de maneira plena. As pessoas não-binárias não se veem como homens ou mulheres: elas podem se localizar entre essas duas categorias, fluir entre elas ou se entenderem como neutras. É sobre desafiar e descontruir os lugares binários. A bissexualidade também sofre com essa incompreensão.

2- Das antigas
Há registros de sujeitos que viveram sem conformidade com o sexo designado. Os berdaches são exemplos do deslocamento de gênero entre nativos americanos. Em tribos americanas e canadenses, esses indivíduos foram designados homens ao nascer e adotavam vestimentas e comportamentos destinados à  s mulheres e eram reconhecidos como gênero feminino.

3- Poder
A não-binariedade é um questionamento aos papéis sociais atribuídos, um desafio à   lógica que torna natural a heterossexualidade e universaliza os corpos em dois pólos. Esse discurso é político e utilizado desde a gestação para nomear o que é um homem e o que é uma mulher. Aos meninos destina-se o azul, a força e a hegemonia. Às meninas o rosa, a fragilidade, a submissão. Ele funciona como regulação social e impele pessoas a viverem em papéis.

4- Identificação
Para não cair na dualidade dos gêneros, os pronomes e algumas palavras podem ter letras modificadas. Por exemplo: ao invés de menino ou menina, pode-se dizer menine. Ou meninx (lê-se meninish). Com isso, tudo fica neutro.

5- Pra pesquisar
Falar sobre não-binariedade de gênero é beber no filósofo francês Michel Foucault, que trabalha a questão do poder, também dialogar com a filósofa americana Judith Butler, segundo a qual o gênero é ato, fazer e não ser. Outros autores: Richard Mikolski, que versa sobre o queer, e Guacira Lopes Louro que desenvolveu o conceito de heteronormatividade.

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Carlota Miranda se formou recentemente em Ciências Sociais pela PUC de Porto Alegre e foi quem escreveu as dicas acima

*Fonte: Carlota Miranda, 36, graduande em Ciências Sociais pela PUC de Porto Alegre (RS). É trans não-binário, e fez de seu trabalho de conclusão de curso uma etnografia a respeito de uma pessoa não-binária: Nem homem, nem mulher, para além do binário: Percepções e vivências no processo de construção das identidades culturais.

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Céu Dórea é estudante de jornalismo: mistura de roupas

Céu Dórea,19

Nunca fui como os outros meninos. Não queria o que eles faziam: eu queria explorar o universo feminino, mas só me identificava com algumas coisas. Tenho 19 anos,trabalho numa empresa de telemarketing e estou no 3º semestre de jornalismo. Moro com minha mãe, em São Cristovão. Ela vende cosméticos e no início não aceitou bem. Mas hoje até pinta minhas unhas. Tenho um blog, Não Fale Grosso, sobre gênero e sexualidade. É um espaço de militância porque pessoas não-binárias não têm visibilidade. Uma vez, só por estar com batom vermelho e unhas pintadas, me abordaram para prostituição. Sei que já perdi oportunidades de emprego. Não gosto de palavras sem gênero porque ninguém enxerga, assim, ou é homem ou mulher. E nosso idioma é pouco neutro.Já fiqueitriste por ser preterido em namoro, mas hoje abstraio: não nasci essa bicha maravilhosa pra ficar triste por causa de macho.

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Silas se formou em moda, trabalha com produção e arrasa nos looks

Silas Matos, 23

Nunca me vi como 100% uma coisa. Passeio pelos dois de forma tranquila, apesar da discriminação. É algo muito interno que acaba sendo externado. Não tenho vontade de ser mulher, não é a minha. Sigo entre as duas coisas, sem rótulo. Moro sozinho desde os 16 anos. Minha mãe, que é funcionária pública, foitranquila, ela disse que já esperava isso desde que eu era criança e nunca me induziu a nada. Sou formado em moda e em publicidade e adoro trabalhar com produção. Na rua sempre rolam piadinhas, ofensas e olhar torto. Um cara já jogou uma pedra em mim e gritou muito, mas consegui desviar da pedrada. Certa vez, num trabalho, uma menininha me perguntou se eu era homem ou mulher. Eu devolvi a pergunta e ela falou que eu parecia uma menina de barba. Sobre namoro, é complicado porque as pessoas não estão preparadas pra assumir alguém não-binário. Só querem sexo e isso cansa.

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Yuri Sant´Anna é artista e faz performances em ônibus

Yuri Sant´Anna, 23

Estudo bacharelado interdisciplinar de artes na UFBA e sou artista de rua: canto e declamo poesias em ônibus há mais de dois anos. Existe um gradiente entre gêneros e eu estou nesse meio. Sempre fui colocado nesse não-lugar. Nunca fui considerado homem o bastante nem mulher de verdade. Nenhuma das duas formas me representa, mas ambas estão presentes na minha vida. Chutei o balde do gênero há muito tempo. Moro com meus pais. Ele não fala comigo há 5 anos. Ela é maravilhosa, me apoia muito. Já fui espancado na rua, depois de um show, por nove caras. E um amigo hétero que estava comigo apanhou também. Online, sofri ataques de feministas radicais transexcludentes. Até dentro do ativismo trans, as pessoas não-binárias não têm muita vez.

*Nas três últimas fotos: Produção de moda por Leo Amaral e Paula Magalhães. Fotos de Caroline Lima/Divulgação.

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Me Salte
Me Salte
Identidade Trans Série de reportagens especiais realizada pelo Me Salte, canal LGBT do jornal CORREIO, em celebração ao Dia Nacional de Visibilidade Trans. Matérias e vídeos abordam as vivências de pessoas trans e travestis na busca pelo respeito à  s suas identidades | mesalte@redebahia.com.br

1 Comentário

  1. renata disse:

    oi gente
    gostei muito desse site, parabéns pelo trabalho. 😉

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