Reunir três milhões de pessoas em um único lugar. Se você é ou já esteve no Carnaval de Salvador sabe muito bem do que estou falando. Eu, useiro e vezeiro da folia na capital baiana, embarquei ontem em outra parada – literalmente. Pela primeira vez estive na Parada do Orgulho LGBT  de São Paulo, apontada como a maior da América Latina. E é grande mesmo. Em todos os sentidos. Grande nas atrações – Pabllo Vittar, Preta Gil, Anitta, Lia Clark, Glória Groove, dentre outras; grande em volume de gente; grande em discursos, visibilidade e organização.

Mas, como nem tudo são flores, os paulistanos padecem do mesmo mal de outras paradas que já participei a exemplo da de Salvador: violência! Na de ontem, dois homens foram esfaqueados na rota da parada. As vítimas foram atacadas por ladrões na rua Sergipe, na região da Consolação. E tinha muito ladrão. Dezenas de vezes vi tentativas de furtos e roubos. Vi dezenas de pessoas desmaiando do empurra-empurra mas não vi praticamente policiamento em nenhum dos pontos do desfile de trios.

O que será que acontece na paradas para atrair tantos marginais que vão para os circuitos e passarelas dos desfiles apenas para roubar, agredir e hostilizar? Pabllo Vittar, que puxava o trio da Uber, precisou parar a apresentação em pelo menos três ocasiões para pedir paz. E não era a paz de menos mortes de pessoas LGBTQI+ que estava na roupa que ela usou com a frase ‘parem de nos matar’ em alusão à triste estatística de um LGBTQ+ morto por dia no Brasil. Era a paz imediata para pessoas que foram para a Avenida Paulista fora do propósito da diversidade. Até quando isso vai acontecer?

Com o tema “Poder para LGBTI+, Nosso Voto, Nossa Voz” foi marcada por discursos a favor do respeito pelas diferenças contra a violência. Foi emocionante ver Monica Tereza Benício, viúva da vereadora Marielle Franco, desabafar em cima do trio e pedir paz e Justiça. Mas foi decepcionante ouvir LGBTs pedindo para que os discursos parassem para que a música começasse logo. A parada não é só festa! Se liga, viado!

Fiquei impressionado com a organização dos trios – todos numerados, decorados e padronizados. Em todos que vi desfilar era necessário ter discursos e palavras de ordem. Sim, era uma festa, mas com um propósito maior. Bem diferente do que houve nos últimos anos nas paradas da Bahia. Nesse quesito, ponto para São Paulo. Que isso sirva de inspiração.

E não é só uma questão de organização e sim de engajamento. O Grupo Gay da Bahia, assim como a Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo que organiza o evento na capital paulistana, preparam uma série de eventos na semana da parada. Em Salvador, infelizmente, há pouco engajamento das pessoas na participação dos atos que compõem a semana da diversidade. Não podemos reclamar que das coisas sem participar delas. Aqui em São Paulo fiquei passado com a quantidade de pessoas que estavam nos eventos – mesmo aqueles mais simples e sem nomes famosos.

As tão controversas bandas de pagode não estiveram por aqui. No lugar disso, música eletrônica e grandes divas das gays partindo de iniciativas de grandes empresas. Nesse aspecto estamos anos luz de distância de São Paulo. Infelizmente. Falta apoio das grandes empresas em Salvador, por exemplo, para levar estruturas, ações de marketing e empoderamento de conteúdo para o desfile baiano. Ano passado, a Uber foi a única grande marca que investiu em um trio na parada de Salvador. Por quais motivos as outras empresas não repetem o mesmo exemplo?

A Uber, por exemplo, levou para a parada de Salvador do ano passado a diva Karol Conka. Para São Paulo, este ano, arrastou um bonde super empoderado arrastado pela superdrag Pabllo Vittar junto com Glória Groove, Aretuza Lovi, Matheus Carrilho, Jaloo, Urias, dentre tantas outras que ahasam na cena. O melhor: elas não subiram no trio apenas para jogar a bunda: levaram mensagens, palavras e destacaram a necessidade de se combater a LGBTfobia e focar no respeito à diversidade. A marca, por sua vez, não focou apenas no trio em si. O próprio aplicativo foi ‘colorido’ com a rota da diversidade e havia campanha de outdoors pela cidade pela parada. Esse engajamento por completo de vestir a camisa é fundamental e um exemplo a ser seguido.

A Skol, outra grande marca que investiu na parada de São Paulo, levou Anitta para a Avenida Paulista? E em Salvador? Não me recordo de nenhuma ação nesse porte para os baianos – que são um dos maiores mercados da cervejaria do país. A Burger King de São Paulo caprichou em coroas personalizadas. E na de Salvador? Nada! Estamos de olho!

Ao longo da semana que antecedeu a parada na Avenida Paulista fiquem impressionado com o engajamento das empresas locais e também das grandes marcas por aqui. Dos hotéis às lojas dos shoppings bandeiras do arco-íris espalhadas. Vendedores e comerciantes de dentes abertos, em sua maioria, com a presença do público. Beeeeeeeeeeeeeem diferente de Salvador. Infelizmente. NENHUMA loja da Avenida Sete de Setembro, por exemplo, faz isso. Nenhuma loja dos dois grandes shoppings perto do circuito do desfile de Salvador mostra engajamento no tema da diversidade.

Importante também destacar a massiva presença de artistas transformistas nas duas paradas. Tanto na Bahia quanto em São Paulo elas dão um colorido necessario com alegria e atos políticos. Isso não só as drags cantoras famosas que citei acima mas muitas anônimas que são tão incríveis quanto. Muitas, inclusive, gastam fortunas para montar figurinos babadeiros que acabam não tendo a visibilidade merecida no meio da multidão.

 

Nós LGBTs precisamos ficar atentos às posturas das marcas que demonstram apoio à nossa causa. Elas ganham muita grana de nós e precisam também retribuir esse afeto em forma de apoio. As marcas têm grana e geram uma importante visibilidade para nós.  O trabalho de busca por um mundo melhor que respeite a diversidade tem que partir de todos os lados. Só assim teremos um mundo melhor.

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Confira fotos da parada:

Imagens: Divulgação -Uber

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