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Naiana Ribeiro: ‘Não é uma fase ou modinha: sou 0% hétero, 0% lésbica e 100% bissexual’

Uma das minhas melhores lembranças é do dia em que senti que fazia parte de algo. Foi em uma boate de Salvador, quando pude, pela primeira vez, ser apenas eu sem ser julgada. Por ser gorda, me escondi e me anulei por anos para tentar me enquadrar num padrão que a sociedade me impunha como ideal. Naquele dia, coloquei um cropped – top com a barriga à mostra -, caprichei na maquiagem, e arrasei na pista de dança. A sensação de pertencimento que o universo LGBTQIA+ me trouxe é indescritível. Naquela época, me definia enquanto heterossexual (pessoa que sente atração pelo gênero oposto).

Essa aproximação da comunidade LGBTQIA+ foi essencial no meu processo de aceitação e entendimento enquanto gorda. Nesse momento transformador e decisivo, também passei a entender melhor a minha sexualidade e percebi que não era apenas ‘simpatizante’ da causa. Eu faço parte dela. Sempre me atrai por homens e por algumas mulheres também – por pessoas de todos os gêneros – só não sabia que isso era possível.

Na infância e adolescência, as variações da sexualidade nunca me foram apresentadas como opção: é a tal da heterossexualidade compulsória, que dita não só que o ‘normal’ é a atração pelo gênero oposto, mas os papéis sociais que cada um desempenha. Por conta da hiper-romantização das relações heterossexuais – tanto afetivas, amorosas, quanto sexuais – somos levadas a construir a vida em torno de homens.

Depois de um processo de imersão e de autoconhecimento muito intenso, passei a me afrimar no lugar de bissexual (bi). Segundo o Manifesto Bissexual – publicado em 1990 – pessoas bi sentem atração por mais de um gênero, independentemente de qual for.

Neste mês da Visibilidade Bissexual, vejo o quão necessário é falar abertamente sobre isso – afinal, representatividade abre portas, promove discussões e amplia espaços. E, infelizmente, a bissexualidade ainda é cercada de preconceitos (bifobia) e negações. Muitas pessoas ainda não entendem o que é ser bi. Algumas ainda fazem associações erradas com promiscuidade ou indecisão.

Não, não é uma fase. Sou 0% hétero, 0% lésbica e 100% bissexual. E ser bi não me coloca “em cima do muro”, muito menos quer dizer que quero sair por aí pegando todo mundo (o que também não seria um problema). A questão é nos reduzir apenas a isso. É horrível sofrer a invalidação constante de preferências, desejos e anseios.

Como qualquer outra sexualidade, bissexuais também amam e podem ter relações monogâmicas ou abertas. Bis podem se relacionar mais com um gênero do que com outro. Ou com vários gêneros. Cada vivência é única.

Além das militâncias de gênero e corpo, uma das minhas lutas atuais é para que as pessoas bissexuais tenham mais visibilidade, inclusive no meio LGBTQIA+. Ser bissexual dentro da comunidade é enfrentar preconceitos e até exclusão. Aliás, não é à toa que a sigla tem um B.

E é por isso que é tão importante falar sobre bissexualidade. Precisamos acabar com dúvidas e desconstruir preconceitos. Precisamos mostrar a todas as pessoas – dentro e fora da comunidade – que a bissexualidade existe, é válida e merece reconhecimento e respeito.

Naiana Ribeiro
Naiana Ribeiro
A jornalista ama Beyoncé, música pop, e é editora da PLUS, a primeira revista para gordas do país. Segue no Insta: @itsnaiana

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