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Ativistas fazem ato por fim de ataques em bar de lésbicas na Carlos Gomes

Por Carol Aquino

Um grupo de representantes LGBTQIA+ parou o trânsito na rua Carlos Gomes, no Centro de Salvador, no fim da tarde desta sexta-feira, 12, para protestar contra uma série de ataques homofóbicos ao bar Caras & Bocas. O estabelecimento, de propriedade de um casal de lésbicas, é um ambiente frequentado pela comunidade gay de Salvador e tem sido atacado com pedras de gelo desde a sua abertura, no dia 5 de janeiro.

“Sapatão não é bagunça”, “Mexeu com uma mexeu com todas”, “Somos todas caras e bocas” eram algumas das frases entoadas pelos cerca de 20 manifestantes que participaram do protesto. Pessoas em roupas casuais, ativistas, travestis, ativistas e drag queens, todos munidos de cartazes e microfone, fizeram barulho e chamaram a atenção de quem passava nas proximidades da entrada do Largo 2 de julho.

“Estamos aqui para nos unir contra a homofobia. Não se trata só de um ataque a um bar, mas de um crime de ódio”, disse uma das donas do estabelecimento, Rosy Silva.

Em dois dos oito dias de funcionamento do bar após a inauguração, o estabelecimento foi atacado com sacos plásticos repletos de gelo, água e pequenas pedras. Por sorte, ninguém se machucou com gravidade, mas o fato não deixa de ser um ato de violência. Pelo ângulo que o gelo caiu, as proprietárias e os frequentadores desconfiam que o autor do ataque violento, seja um morador do prédio ao lado, o Edifício Santo Amaro.

Segundo Rosy, ela já esperava os ataques. “Em mais de 20 anos, isso aqui é um bar LGBT. Os três outros administradores já tinham passado por este mesmo problema, vindo do mesmo lugar. Eles falaram com o condomínio e a administração trocou as telhas. Mas telha eu boto. Eu quero que encontrem o responsável e se não encontrarem, que o condomínio responda pelo que aconteceu”, conta, relembrando que a rua Carlos Gomes já foi uma rua com muitas boates frequentadas por esta população.

Rose disse ainda que o protesto é uma forma de resistir ao ato homofóbico e tentar fazer com que o responsável pelo crime seja descoberto e responda pelo que fez. “Me sinto preocupada com a segurança de quem frequenta aqui”, contou, falando do medo de que alguém que trabalha ou se diverte no lugar seja ferido por conta das pedras de gelo. Os artefatos atirados pelo agressor quebraram suas telhas e romperam o forro do teto. Se uma das pedras tivesse atingido alguém, poderia ter causado ferimentos graves.

Para Rosy, não há outra explicação para o ataque além do ódio. Segundo ela, o bar funciona com o som controlado e nunca houve registro de outros ataques desse tipo nos treze anos em que ela manteve um estabelecimento de mesmo nome em Periperi. “Uma pessoa que premedita o ataque, bota os sacos com água para congelar, é doente, precisa de tratamento”, conclui.

A dona, no entanto, enfatiza que não pretende fechar o bar, que vai resistir. “Estamos até nos arriscando abrindo”, acrescenta Rosy, que já prestou queixa à polícia e está à espera do resultado das investigações. No dia do primeiro ataque, 5 de janeiro, policiais militares estiveram no local e tentaram encontrar a síndica do condomínio vizinho, mas sem sucesso. O porteiro, segundo relatam as donas, disse que ela estava viajando, embora tenha informado mais cedo às proprietárias do bar que a mesma estava dormindo.

O caso está sob responsabilidade da 1ª Delegacia de Polícia (Barris). No último dia (7), a Polícia Técnica esteve no local realizando perícia. Uma audiência entre a administração do Edifício Santo Amaro e as proprietárias do bar está marcada para o dia 22 de janeiro. A reportagem do CORREIO tentou fazer contato com as síndicas do prédio, mas não obteve resposta até às 23 horas desta sexta.

“A gente já é excluída de muito lugar e tem que viver em guetos. Cada vez mais estão tentando acabar até com esses ‘guetos’, que são os únicos lugares que a gente pode ficar à vontade”, opinou a ativista LGBT Millena Parras, 40, sobre a importância da manifestação.

“Não podemos deixar o Brasil voltar ao século XIX. Nós temos que lutar pelos direitos humanos”, disse a servidora pública Denise Carneiro, participante do protesto, falando sobre o momento de ameaça aos direitos que o país vive. Sua esposa, a tradutora Jennifer Carneiro resumiu em uma frase o motivo de o casal estar ali: “Pelo direito de cada um viver como quiser’, completou.

Solidariedade

Quem estava passando na rua não ficava indiferente à manifestação, parava para olhar o que estava acontecendo, aplaudia ou simplesmente balançava a cabeça em sinal de concordância. A dona de uma loja de roupas do edifício vizinho ao bar, Karen Vieira, 30 anos, bateu palmas assim que ouviu os primeiros sons do protesto.

“Fiquei sabendo do que houve e acho que temos que combater isso, foi homofobia. É uma questão de respeito com o próximo”, disse, reiterando o apoio à manifestação.

Carregando uma mesa na cabeça, o ambulante Adalberto Ferreira, 53, também parou para ver a manifestação. “Nos dias de hoje, a gente não pode mais tolerar esse tipo de ataque. É um absurdo, coisa de outro mundo”, contou, falando que ficou chateado quando viu uma notícia sobre o ocorrido na televisão.

Pouco a pouco, assim como Adalberto, foi juntando mais gente para ver o que estava acontecendo e demonstrar solidariedade. Foi o caso do diretor do Sindicato dos Vigilantes, Fernando Souza, que estava por ali e resolveu demonstrar o seu apoio. “Vamos fazer uma nota manifestando a nossa indignação”, disse.

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