Por Hilza Cordeiro, do CORREIO
Embora usem salto alto, as drag queens Vallerie O’rarah e Dion Santtyago e outras tantas ainda lutam para chegar no andar de cima do cenário artístico profissional. Ao lado de ativistas, as artistas se apresentaram e participaram, nesta terça-feira (30), do primeiro Seminário de Atores Transformistas de Salvador para discutir a situação na capital e reivindicar o reconhecimento da atividade como profissão. O encontro ocorreu no Teatro Gregório de Mattos, ainda com a presença de militantes e artistas como Rosy Silva e Mell Blera, além do coordenador do Centro de Referência LGBT, Vida Bruno, e da secretária Municipal de Reparação (Semur), Ivete Sacramento.
Uma das pioneiras na arte transformista em Salvador, Dion lembra que começou a se apresentar no final de 1978, em casas de mulheres e boates gays. “De lá para cá, já pisei em diversos palcos. No começo, meu palco era uma caixa de cerveja emborcada com um tapetinho em cima”, relembra ela, que há 39 anos está em atividade. Já Vallerie, uma das ‘filhas adotadas’ de Dion, é mais recente e se monta há 13 anos. “Nós temos registros desde 1960 de artistas que passearam por essa arte e, ao longo dessas décadas todas, o número só vem crescendo. Precisamos regulamentar isso, profissionalizar, fazer com que seja um trabalho digno. Eu faço isso e vivo desse trabalho há 13 anos”, argumenta.
Confira algumas imagens do evento>>>
Para Ivete Sacramento, da Semur, a resistência em reconhecer o trabalho dessas artistas vem mesmo do preconceito histórico contra os homossexuais. “Essas pessoas não têm espaço de atuação profissional porque os espaços em Salvador são muito limitados. Eles precisam sair desses espaços tão específicos e irem para palcos diversos e maiores”, defende. A drag Mell Blera observa que, apesar das frequentes discussões sobre a diversidade sexual e de gênero na sociedade, onde há uma aparente aceitação da liberdade dos corpos, a arte transformista ainda engatinha na luta pelo reconhecimento. “Se houvesse essa liberdade, teríamos nosso espaço reconhecido. O que queremos não é ter privilégios, mas espaços iguais”, ressalta.
Na tentativa de oferecer mais oportunidades para os atores transformistas, a Semur negocia com a Fundação Gregório de Matos a criação de políticas públicas de reparação, com a inserção de uma categoria específica para essa arte nos próximos editais culturais. “Há uma desigualdade muito grande. A maioria desses atores se apresentam de graça nas casas noturnas pelo prazer de se apresentar, quando, na verdade, existe ali um potencial de subsistência. Temos que formalizar isso como profissão porque ela já existe, pessoas vivem disso, mas não na proporção profissional que merece”, avalia a secretária.
Esse debate fez parte da programação do Mês da Diversidade, que promoveu uma série de diálogos neste mês, relacionada ao público LGBT. A programação segue até esta quarta-feira (31), com uma feira de saúde na sede do Centro Municipal de Referência LGBT, no Rio Vermelho. A atividade oferecerá gratuitamente aferimento de pressão arterial, testagem de glicemia, teste rápido para detecção de DST’s e outros serviços.
Entenda…
Drag queen- homens que são atores e se apresentam artisticamente com roupas femininas
Drag king – mulheres que são atrizes e se apresentam com roupas masculinas artisticamente