Durante o período sem emprego, fez capacitações para complementar a formação e, há dois anos, decidiu cursar administração. Estudava à noite e durante o dia distribuía currículos pela cidade. “Ficava naquela expectativa para ver se iam chamar ou não. Quando demorava muito, dois ou três meses, voltava e entregava de novo”, lembra. Diante das constantes negativas, até estágio entrou nas opções. Chegou a ir a três entrevistas, mas nenhuma resultou em contratação.
Na primeira seleção para a empresa onde trabalha hoje, Sizinando foi reprovado sob a justificativa do porte físico. Ele acredita que a insistência o fez atingir sua meta. Bastou uma segunda chance para o objetivo ser alcançado: acabou contratado para o setor de congelados e frios. O que faltava em experiência sobrava em disposição para aprender.
Aos 57 anos, Sizinando virou novato e teve que encarar o desafio de treinar novas funções. Usar a máquina de fatiar estava entre elas. “No congelado foi mais fácil porque eu já sabia. No fatiado, ficava com receio da máquina, de perder meu dedo ou coisa assim, mas fui pegando a habilidade”, afirma. Depois, foi necessário garantir o entrosamento com os colegas. “No início ficavam querendo me proteger, mas fui fazendo eles sentirem que eu não precisava tanto de ajuda”, explica.
Superados os bloqueios iniciais, não dá para dizer que a rotina ficou fácil. Ele acorda às 5h para uma batalha diária que só terminará às 22h20, dividida entre o tempo na sala de aula e no serviço, onde passa oito horas por dia. Folga só às segundas-feiras e em alguns domingos, conforme a escala. Mas ele se declara satisfeito. “A rotina é pesada, mas eu gosto. O importante é gostar. Se não gostar, a gente não faz nada”, reitera.
Recomeços
Apesar da resistência aos candidatos mais maduros, as empresas começam a lançar olhares sobre a causa. Em 2015, foi criada no Brasil a plataforma MaturiJobs, que conecta pessoas com mais de 50 anos a empregadores.
Segundo o CEO do grupo, Mórris Litvak, há 85 mil pessoas cadastradas atualmente e 750 empresas já usaram o banco de dados disponível. Dados da organização indicam que menos da metade dos usuários (30%) é de aposentados.
“A maioria perdeu emprego na época da crise, mas por causa da idade ainda não conseguiu se recolocar. Então, estão buscando trabalho para poder continuar se mantendo, já que não estão aposentados e muitas vezes nem tem uma fonte de renda”, explica Litvak. No site, o Nordeste fica em terceiro lugar na disponibilização de vagas e é na região Sudeste que está a maior oferta. Ele conta que as áreas de vendas e atendimento ao cliente são as que possuem mais demanda.