Cinco meses depois de um hiato no Instagram, a cantora britânica Adele publicou nesta quarta-feira (6) uma foto de corpo inteiro, celebrando seu aniversário.
Mais do que muitas felicitações pelos seus 32 anos, a publicação da artista teve quase 10 milhões de curtidas e mais de 207 mil comentários que se dividiram entre elogios e críticas ao corpo da cantora. Teve muita gente comentando “como ela está bonita que está mais magra”.
Acontece que beleza é um conceito muito diverso e, na minha opinião, é algo que nunca esteve em falta para Adele. Antes ela era gorda e fora dos padrões de beleza convencionados. Mas sempre foi linda.
Julgar uma pessoa como bonita só por ela estar mais magra é bem problemático e gordobófico.
Magreza não é sinônimo de beleza e nem de saúde. Tem muita gente magra que não é saudável, assim como tem gente que perde peso por causa de distúrbios alimentares ou até mesmo depressão. A cantora ainda não falou sobre a mudança, mas é direito dela fazer o que quiser com o corpo.
Ao mesmo tempo, não posso deixar de citar a pressão estética e as cobranças para emagrecer que uma artista do porte de Adele deve ter sofrido ao longe da vida. Não deve ter sido fácil ser uma gorda feliz. Não é fácil. A gordofobia está em todos os lugares e na estrutura da sociedade. Imagine para Adele? Ela foi mais uma vítima desse sistema todo.
Apenas no Instagram, a artista ganhou mais de 2 milhões de seguidores em 24 horas. Claro que o fato dela ter passado cinco meses sem publicar algo influencia bastante nesse número. Mas também não posso deixar de pontuar que a obsessão social pela magreza é refletida não apenas em números de seguidores, como na movimentação financeira de vários setores que lucam com a insatisfação corporal, principalmente das mulheres: as indústrias da beleza, de cosméticos, da moda, farmarcêutica, etc.
Outro grande problema disso tudo é ver que muitas pessoas, sobretudo mulheres, fazendo comentários negativos sobre o corpo de Adele. Não à toa, 96% da população ocidental feminina está insatisfeita com o corpo que tem, segundo dados da StrategyOnen. Mas por que ‘descontar’ o próprio aborrecimento no corpo alheio? Isso é body shaming.
Falar que a outra está magra demais, gorda demais, que está estranha, esquisita, não muda nada na vida de quem diz, mas pode trazer coisas negativas pra quem é alvo desses comentários.
Sem contar que Adele é muito mais do que um corpo. Uma das pessoas mais bem pagas da história da música, a cantora é dona de um Oscar – por Skyfall, em 2013, acumula nada menos que 15 Grammys e já vendeu mais 100 milhões de álbuns e singles – os álbuns 21 e 25 foram certificados em diamantes em vários países e venderam mais de 45 milhões e 25 milhões de cópias em todo mundo, respectivamente.
Apesar de Adele não ter comentado sobre a repercussão da foto e de todas discussões geradas por conta de seu emagrecimento, o antigo personal trainer de Adele, Peter Geracimo, que trabalhou com a cantora quando ela morava em Londres, comentou sobre o assunto no Instagram nesta quinta-feira (7).
“É desanimador ler comentários negativos e acusações gordofóbicas, questionando a genuinidade de sua perda de peso”, começou. “Na minha experiência pessoal de trabalhar com ela durante muitos altos e baixos, ela sempre seguiu seu próprio ritmo, em seus próprios termos. Ela nunca subestimou seu talento dado por Deus ao se reduzir em expôr o corpo ou ser uma cantora sexy para vender álbuns. Ela deixa a voz falar, ou deveria dizer, cantar! Ela nunca fingiu ser alguém que não era. O que você vê é o que é. E nós todos AMAMOS isso!”, escreveu.
“Quando Adele e eu começamos nossa jornada juntos, nunca foi sobre ficar super magra. Foi sobre ficar saudável. Especialmente após a gravidez e após a cirurgia. Quando ’25’ saiu e a turnê foi anunciada, nós tivemos que ficar prontos para um calendário exaustivo de 13 meses. Nesse tempo, ela se interessou em treinar e fez escolhas alimentares melhores”, relatou o profissional. “Como resultado, ela perdeu um peso considerável e as pessoas notaram. Sua transformação corporal foi anunciada em todos os veículos midiáticos. A atenção que gerou foi alucinante”, afirmou.
Geracimo citou também a separação da cantora de seu ex-marido, Simon Konecki. O casamento chegou ao fim em 2019. “Desde que ela se mudou para Los Angeles, foi bastante documentado que ela passou por algumas mudanças difíceis. É natural que, com a mudança, surja um novo senso de si e de desejar ser sua melhor versão possível. Ela adotou hábitos alimentares melhores, se comprometeu com sua forma física e ‘está suando’! Eu não poderia estar mais orgulhoso ou feliz por ela! A metamorfose não é para vender álbuns, publicidade ou para ser um exemplo. Ela está fazendo isso por si mesma e por Angelo”, disse, referindo-se ao filho pequeno da estrela.
Para concluir a publicação, o personal trainer afirmou que a perda de peso da artista diz respeito apenas a ela mesma. “Minha esperança é que as pessoas apreciem o trabalho duro que Adele fez para melhorar a si mesma em benefício apenas dela e de sua família. Ela não perdeu peso para fazer outros se sentirem mal consigo mesmos. Essa transformação pessoal não tem nada a ver comigo ou com você. É sobre a Adele e como ela quer viver sua vida. Ela não mudou da Adele com que nós crescemos e amamos. […] Apenas pensem, agora que ela está mais ’em forma’ e fabulosa, talvez ela saia em turnê de novo! Todo mundo ganha!”.