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Na pista: 17ª parada LGBT da Bahia leva a alegria da liberdade para Salvador

Christian Toledo tem 18 anos e mora em Cícero Dantas, município a cerca de 330 km de Salvador. O jovem, desde pequeno, já sabia: era gay. No entanto, até hoje, ele nunca conseguiu conversar abertamente sobre isso com a família. Vive tentando esconder qualquer indício que possa comprovar sua já suspeitada homossexualidade. Medo de rejeição, ele garante. Porém, ontem, na 17ª Parada do Orgulho LGBT da Bahia, Christian experimentou, ao lado de centenas de pessoas, a sensação de acolhimento até então desconhecida.

“Ninguém aqui me olha dos pés à cabeça, ninguém me julga. Vim pra cá com o objetivo de me conhecer, saber quem sou. Me sinto muito bem, confortável, sabe?”, comentou o rapaz, que não chegou na capital baiana sozinho. Desceu de caravana, com outras 19 pessoas. Ao todo, os 20 enfrentaram sete horas de viagem. O objetivo, entre eles, era o mesmo: sentir o gosto aprazível da liberdade.

Hélio Petrochelle, 31, que também veio de Cícero Dantas, reconheceu sua sexualidade com nove anos de idade e só foi falar sobre isso aos 22. Mesmo sem se esconder há quase dez anos e tendo recebido apoio dos familiares, ele confessa que sente falta de se sentir integrado nos ambientes sociais. “Estar aqui é uma descoberta, é a minha primeira vez na Parada, mas me sinto entre amigos, incluído. Isso não acontece na minha cidade”, pontuou ele.

Do largo do Campo Grande, onde o evento teve início, até a região do Passeio Público, onde terminou, foram sete trios. O Cortejo Afro deu início à festa, puxando o trio oficial do Grupo Gay da Bahia (GGB). Participaram artistas como as cantoras Gilmelândia, Márcia Castro, Denise Correia e Cida Martinez, além de bandas como a Limusine e o grupo Black Boys. As drag queens, como Rosa Morena, Frutífera, Suzzy di Costa, Léo Vittar, Alehandra Dellavega e Nágila Goldstar, eram um show à parte. Montadíssimas, despertaram os olhares até dos mais distraídos.

Com 70 anos e animação de sobra, o cabeleireiro Marco Antônio frequenta a Parada, segundo ele, sabe-se lá desde quando. A relação é tão longa que já se perde em meio aos números. “Não tenho nem noção, venho há anos, nunca falto. Temos que colocar nosso bloco na rua, derrubar os muros. Esse momento de estar nas ruas é muito importante”, comentou.

Padrinho desta edição, Fernando Guerreiro, presidente da Fundação Gregório de Matos e diretor teatral, estava no trio do GGB. E, em época de campanha eleitoral, cobrou dos candidatos manifestações mais diretas sobre as causas LGBTQ+. “Falta um discurso mais explícito sobre isso, falar de forma mais direta, firme. Nossas demandas precisam estar presentes nos debates, isso precisa ser abraçado, a diversidade precisa ser abraçada”, acredita.

Já a madrinha Julieta Palmeira, secretária estadual de Políticas para as Mulheres, acredita que a necessidade maior é executar as políticas públicas que já existem. “O que a gente precisa é que as políticas implementadas sejam efetivadas, colocadas em prática, isso é pra já! Precisamos de paz, não podemos continuar com essas estatísticas de ódio e sangue”.

Lá embaixo, Deise Luana, 28, estava atenta ao passar dos trios. Correspondente bancária e lésbica, ela emanava alegria. “Eu me sinto honrada, venho há seis anos, sinto que não estou sozinha”, destacou. E bastava olhar ao redor para perceber que ela, de fato, não estava.

*Rafaela Fleur, com orientação da editora Tharsila Prates

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