A primeira vez que entrevistei a drag queen Pabllo Vittar, em julho de 2016, ela estava iniciando sua ascenção. Foi no looby de um hotel do Campo Grande, em Salvador. Ela estava com apenas um produtor, um batom na mão e seu cachê girava em torno de R$ 2 mil. Falamos por quase uma hora. Do palco de boates com o show no ‘pen drive’ até hoje muito mudou.
Nessa entrevista, feita no camarim da sua última apresentação em Salvador, no início deste mês, ela já veio com equipe de 15 pessoas, bailarinos e o título da nova estrela do pop nacional e fez show para 5 mil pessoas no aniversário da boate Amsterdam Salvador. O homem gay Phabullo Rodrigues da Silva, 22 anos, nascido em São Luís no Maranhão, através da sua personagem artística Pabllo Vittar nocauteou o preconceito com muitos agudos empoderados e virou assunto em todo país.
Somente este ano foram cerca de 130 shows nos quatro cantos do Brasil. Os palcos da Pabllo estão cada vez maiores. Nesta quinta (28), ela será atração do Festival da Virada Salvador. Vittar chegou onde nenhuma outra drag queen brasileira um dia esteve. Sua presença e a mistura do masculino e feminino tornou-se pauta das famílias brasileiras – inclusive ao longo desse texto as referências podem ser feitas tanto no masculino quanto no feminino. Afinal, a Pabllo é um garoto que tornou-se uma diva. As definições de gênero nas falas precisaram ser atualizadas para entender o fenômeno que ela se tornou.
“Estou fazendo um trabalho que me deixa muito feliz. Estou trabalhando bastante mas ainda sou o mesmo Pabllo de dois anos atrás. Estou muito feliz.”, disse Pabllo em conversa exclusiva para o Me Salte, canal de notícias LGBTQ+ do CORREIO. Mais do que os números, Vittar mudou na postura de palco e no cuidado com a carreira. Dos vídeos caseiros aos clipes com estrelas internacionais, Pabllo tornou-se contratada da Sony Music, uma das maiores gravadoras do país.
Na internet, Pabllo é costumeiramente atacada por preconceituosos. Ela se tornou símbolo contrário da onda conversadora que afeta as mais diversas expressões artísticas do Brasil. Sua conta no Youtube, por exemplo, chegou ser invadida e um dos seus vídeos de maiores sucesso – K.O. – foi deletado.
“Quanto mais a gente anda pra frente, mais o ódio vai falar mais alto. As pessoas preconceituosas têm medo que o bem vença. Eu penso muito assim. Mas quanto mais esse retrocesso continuar, mais a gente tem que ter garra para andar pra frente. Acho que é isso que a gente está fazendo”, argumenta Vittar enquanto toma uma dose de gim tônica importada (sua única exigência para o camarim) e ouve do lado de fora fãs gritando seu nome.
Lacração meteórica
Dos maiôs cavadíssimos – que escondem a genitália masculina – às perucas, tudo que a queen veste e faz vira sucesso. O acervo é tão grande que ela nem sabe ao certo quantas perucas tem, por exemplo. “Já perdi a conta, hahaha. Ultimamente tenho usado muito a chanel por causa do verão e do calor. Mas, amooo uma picumã. Cada dia um carão!”, brinca o jovem do signo de escorpião.
Phabullo fez sua primeira participação na televisão em 2014, na TV Integração, filiada da Rede Globo em Uberlândia (MG), cidade para onde se mudou adolescente e reside até os dias de hoje. Fez sucesso ao interpretar a canção “I Have Nothing”, de Whitney Houston.
A primeira explosão artística foi em 2015, após lançar o clipe “Open Bar”. Em menos de um mês, o vídeo atingiu a marca de 1 milhão de visualizações no Youtube. Mas, o grande boom na carreira foi no início de 2017, quando lançou seu primeiro álbum, “Vai Passar Mal”, que tem sucessos como “Nêga”, “K.O.”, “Todo dia” e “Corpo Sensual”.
As recentes participações no Rock in Rio e no clipe de Anitta fizeram a carreira decolar e o cachê aumentar significativamente. O Me Salte apurou que alguns shows são contratados por até R$ 100 mil – esses valores não são confirmados pelo staff da artista.
Além de Anitta com o grupo eletrônico Major Lazer, Pabllo acumulou parcerias significativas ao longo do ano a exemplo de Preta Gil. Mas, na caixinha de sonhos tem um feat especial. “Se eu pudesse escolher qualquer pessoa seria a Rihanna. Eu gosto muito dela. Ela é massa, principalmente na personalidade”.
Os gritos de ‘Yukêe’, os agudos em praticamente todas as canções, e a voz anasalada são prato cheio para as críticas. Mas, Pabllo não costuma se incomodar com isso. Inclusive, destaca que tem consciência que sua carreira ainda está no começo e que há muito caminho para trilhar.
“Comecei a me montar porque sempre fui fascinado pelo universo feminino. Quando descobri que existiam drag queens que atuavam e cantavam eu pensei: Eu posso fazer! E deu certo. Graças a Deus está tudo muito bem encaminhado. Tenho uma equipe que super me apoia, amigos incríveis e os Vittarlovers [como são chamados seus fãs]. Sem eles não chegaria onde eu cheguei. É minha segunda família”, derrete-se.
Primeira
Por diversas vezes noticiou-se ao longo deste ano que Pabllo ‘pela primeira’ vez conquistou algo. Os momentos foram tantos que sequer ela mesma consegue definir com facilidade . “No momento eu não sei. Eu passei tantos momentos legais que falar só um é muito egoísmo. Mas ter ficado em primeiro lugar no Spotifyfoi muito legal. Fiquei muito emocionado”, disse referindo-se à posição que o single K.O. alcançou em setembro no aplicativo musical mais famoso no mundo.
Aproveitando o momento de final de ano, Pabllo falou que não acredita mais em papai noel, mas que se voltasse a acreditar já teria um pedido especial. “Queria um mundo sem preconceito e com mais respeito. Acho que ia ser incrível”, resume.
Para 2018, a queen planeja agradar ainda mais seus vittarlovers inclusive com o lançamento do primeiro CD físico da carreira. “Tenho muitos planos para o próximo o ano. Tem CD novo, parcerias novas, muitos shows e babados quentes vindo por aí. Começamos a trabalhar no CD há pouco tempo e pós-Carnaval devo ir para o estúdio finalizar. Sim!!! Teremos CD físico disponível em todas as plataformas digitais e muito clipe bafo! “, promete a artista que tem mais de 500 milhões de visualizações somente no Youtube. Pela força dos seus fãs e seguidores a tendência é que 2018 seja novamente o ano da Pabllo. Onde será minha próxima entrevista com ela?
Veja abaixo dez momentos marcantes do ano de Vittar
1. Corpo Sensual – Ela foi a primeira artista brasileira a emplacar 3 músicas no top 5 do Spotify: Corpo Sensual (foto), K.O. e Sua Cara, com Anitta e Major Lazer.
2. Carnaval – Pabllo participou pela primeira vez do Carnaval de Salvador junto com Daniela Mercury. Levantaram a bandeira do Empoderamento e respeito à diversidade.
3. Sua Cara – Junto com Anitta e Major Lazer, Pabllo fez um dos lançamentos musicais mais comentados do ano. O clipe foi gravado no Marrocos.
4. Amor & Sexo – Por duas temporadas Pabllo foi integrante da banda do programa Amor & Sexo comandado por Fernanda Lima na Rede Globo.
5. Faustão – Concorrendo com Anitta e Ana Vilela, ganhou o prêmio de música do ano no troféu Melhores do Ano do Domingão do Faustão. Foi a primeira drag a conquistar o feito.
6. Rock – Pabllo Vittar dividiria o palco com Lady Gaga no Rock in Rio, mas Gaga cancelou o show. Vittar cantou com Fergie no Rock in Rio as canções Sua cara e Glamurous.
7. Treta – A divisão dos direitos autorais da canção Todo Dia, sucesso na voz da Pabllo, foi questionada pelo rapper Rico Dalassam em agosto deste ano.
8. K.O. – Contratada pela Sony Music, Pabllo estourou com K.O. A música tem versões e paródias em diversos ritmos e mais de 260 milhões de visualizações. Foi líder do Spotify Brasil.
9. Decote – Single com Preta Gil foi gravado e lançado este ano.
10. Gravadora – Pabllo foi a primeira drag queen contratada pela gravadora Sony Music.
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