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‘Estou cagando e andando para o conservadorismo’, diz Pabllo Vittar

Após lançar seu primeiro disco, Vai Passar Mal, a drag queen Pabllo Vittar não só virou assunto em todo o país com agudos empoderados, como alcançou o topo das paradas globais com vários hits e fechou o ano de 2017 com cerca de 130 shows por todos os cantos do Brasil. Nascido em São Luís do Maranhão, o homem gay Phabullo Rodrigues da Silva, 23 anos, está colhendo os frutos da sua ascensão meteórica ao sucesso e, nocauteando o preconceito, consolida sua personagem artística – Pabllo Vittar – com o segundo álbum da carreira, Não Para Não, lançado no início do mês.

Com o novo disco, a artista tornou-se a primeira brasileira a colocar todas as faixas de um disco no top 50 das mais ouvidas do Spotify.  Todas as dez músicas do novo disco – que exploram sua origem nordestina e trazem referências baianas – foram listadas e quatro aparecem no top 10: Disk Me, Problema Seu, Buzina e Seu Crime. Não há dúvidas de que a queen é um avassalador fenômeno pop. Ela foi a primeira drag na história indicada a um Grammy (o Latino), pela música Sua Cara, ao lado de Anitta e Major Lazer.

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Pabllo Vittar é a primeira drag queen a disputar o Grammy Latino

Os recordes não param por aí. Entre 2015 e 2018, Pabllo arrebanhou mais de 1 bilhão de visualizações e streams (audições online) em sites de vídeo e música. Uma das mais novas contratadas da Sony Music, Pabllo Vittar também é agora a cantora mais escutada mundialmente no Last.Fm (site que contabiliza stream das plataformas).

“Estou muito feliz que um álbum cheio de Nordeste está no topo das paradas mundiais. Tem muitos elementos do Nordeste – onde nasci e tenho orgulho de ser. É uma mistura de tecnobrega com pagode baiano, carimbó e forró. Trouxe um pouco de todas as minhas referências. Tem muito do que eu escutava na infância e adolescência”, resume Pabllo em conversa exclusiva com o CORREIO.

Apesar de unir uma variedade de ritmos da região, ela garante que todos os 27 minutos de álbum possuem referências baianas. “A gente quis pegar essa coisa do pagode baiano e da swingueira. Bebi muito nas fontes do Olodum, algo pulsante e que mexe muito comigo. Tem desde minhas inspirações do Pará, com o brega, ao forró do Maranhão”, completa ela, que contou o produtor e DJ Rodrigo Gorky e uma equipe poderosa, intitulada Brabo Music Team, para chegar numa mistura pop eletrônica brazuca que os os Vittarlovers (como são chamados seus fãs) aguardavam.

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Não tão perceptível quanto em Problema Seu – primeiro single do álbum, que recebeu certificado de platina por suas altas vendas e cujo clipe já ultrapassa 44 milhões de visualizações – a influência da Bahia é forte na música Vai Embora, que tem participação da cantora Ludmilla. Mistura de trap com pagodão baiano, a faixa foi feita a partir de uma base e da composição de Rafa Dias, do grupo baiano Àttøøxxá.

“Eu amo muito eles – tenho vontade de apertar todos – e tive o prazer de fazer essa parceria. O que mais gosto é que eles são artistas que não têm medo de colocar sua identidade na música.  Amo muito a Bahia e tenho muitas referências daí. Amo Àttøøxxá, Psirico e Baiana System”, derrete-se Pabllo.

A relação de amor com a Bahia, explica a artista, vem de berço, já que ela nasceu no dia 1º de novembro, Dia de Todos os Santos. “Sempre quis conhecer a Baía de Todos-os-Santos. A primeira vez que vi, fiquei passado com a beleza. Foi energizante. Nunca fui em nenhuma praia, acredita? Mas quero voltar sempre para Salvador, para fazer shows e para curtir. Tenho vários amigos e sempre que vou passo na casa da Daniela (Mercury)”, conta Pabllo, que se destacou no Carnaval deste ano com um trio independente.

Daniela conta que a relação com Pabllo é de amizade e que estão sempre se falando “para reforçar o que sentem um pelo outro”. “Eu cuido dele e ele me dá esse afeto familiar mesmo. Ele é como meu filho mais novo e torço muito por ele. Sempre que ele quiser, a casa está aqui para ele. Eu fico muito feliz de ver essa trajetória. Acho a Pabllo é muito jovem, mas pela sua história de vida, muito inteligente, pertinente e consciente do mundo que vive”, afirma a baiana.

A primeira vez da drag em um trio aqui, inclusive, foi em 2017, junto com a própria Daniela. “As duas vezes que fiz o Circuito Barra-Ondina me emocionei demais. Não tem sensação igual. Quando falam em Salvador eu me arrepio só de pensar. Amo muito e sempre me divirto muito. É amor puro”, afirma Pabllo, que ainda não tem previsão para se apresentar por aqui: “Em novembro estreio minha turnê, em São Paulo, e a Bahia está na lista, mas nada confirmado”.

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Estrela da diversidade
O DJ e produtor musical baiano Rafa Dias contou que o convite foi feito por Gorky e que ele fez a base e já foi logo escrevendo letra. “Tentei puxar um pouco pra Bahia e a finalização foi deles. Não tinha visto a parte de Ludmilla, mas curti demais. É um dos trabalhos que mais me orgulho. Ela é uma artista que a gente acredita que faz parte dessa diversidade que a gente tanto canta e tanto prega no nosso som. Ela é, na real, a própria diversidade. Ter sido convidado foi demais, admiro e sempre quis trabalhar com ela”, comemorou Rafa. Para ele, o novo álbum da Pabllo tem muitas batidas semelhantes as do Àttøøxxá faz: “É um pop internacional refinado, muito bem pensado, e que conseguiu soar brasileiro”.

Entre os destaques, além de Problema Seu e do segundo single do álbum, Disk Me – cujo clipe ultrapassou a marca de 7 milhões de visualizações em três dias, além de performar na primeira posição dos vídeos em alta do YouTube – o disco conta com os duetos Trago Seu Amor de Volta, com Dilsinho, e a faixa Ouro, com a amiga trans Urias.

Buzina, por sua vez, tem influências do estilo sul-coreano k-pop. “Gosto de todas as músicas, especialmente Problema Seu e Disk Me, que são os primeiros singles. Mas acho que a preferida do momento é Seu Crime, porque é muito verídica. Assim como essa, a maior parte das faixas têm alguma mensagem de amor. Porque isso acontece todo dia. Quis trazer isso de uma forma dançante. A gente ama sofrer e rebolar a raba”, brinca Pabllo.

“Eu vivo isso. Me apaixonei, quebrei a cara, mas pelo menos me deu tema para umas músicas”, completa, rindo.A queen revelou ainda que as composições falam muito sobre o que ela é e sobre sua história.

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De acordo com Pabllo, o novo trabalho também pode ser considerado uma resposta “a todo preconceito que a região Nordeste sofre”. “Falam da gente com muito preconceito, mas é para aí que vão passar as férias, né? Não estou sozinha. O álbum que está sendo bem ouvido, meus fãs me apoiam e estamos conseguindo combater preconceitos, graças à Deus”, completa.

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Ela diz se sentir “muito orgulhosa por ser uma drag queen brasileira, nordestina, que veio de baixo, tem o apoio incondicional da família e levanta uma bandeira importante em dias de retrocessos”. Costumeiramente atacada por preconceituosos, Pabllo tornou-se símbolo contrário à onda conservadora que afeta as diversas expressões artísticas do Brasil. Sua conta no Youtube já foi invadida e agora alguns internautas estão fazendo mutirões para descurtir os vídeos de Problema Seu e Disk Me.

“Estou cagando e andando para o conservadorismo. A gente quer mesmo mostrar nossa arte e continuaremos focando sempre nas coisas boas e levando mensagens de amor, de representatividade e de diversidade juntas”, afirma, citando a cena drag da Bahia como parte dessa rede de combate a preconceitos: “Tenho várias amigas daí que dão nome. Fico muito feliz porque não estou sozinha. A gente está afrontando todos os dias”.

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Naiana Ribeiro
Naiana Ribeiro
A jornalista ama Beyoncé, música pop, e é editora da PLUS, a primeira revista para gordas do país. Segue no Insta: @itsnaiana

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