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“Essa história é minha”: Cristiane Schwinden, a mulher por trás do Projeto Lettera

topo_meSalte_cheiroCouroPor Clarissa Pacheco (clarissa.pacheco@redebahia.com.br)

(Quase) tudo ficou pronto em 36 horas. Mas ainda faltavam as leitoras – e as histórias. Poucas horas depois, já eram 60 usuárias cadastradas e três produções disponíveis. A ideia de criar um portal onde mulheres lésbicas pudessem ler e escrever histórias que as representasse não foi exatamente original. A webdesigner Cristiane Schwinden, 37 anos, catarinense que trocou Floripa por Salvador há 11 anos para viver com a esposa, também fazia parte do antigo ABCLes, que saiu do ar, da noite para o dia, há cinco anos.

“Veio a necessidade urgente de um outro site similar surgir no mercado”, conta Cristiane. E foi assim, às pressas, que o Projeto Lettera (http://projetolettera.com.br) nasceu em 4 de setembro de 2015. Hoje, cinco anos depois, Cris é responsável por desenvolver e melhorar o site, assegurar – com ajuda de alguns grupos no WhatsApp – que conteúdo ofensivo não fique no ar e que não haja histórias plagiadas. É também de onde parte o incentivo para que muitas outras escrevam. “Hoje, uma das meninas consegue viver só da literatura”, conta, orgulhosa.

Estudante de Jornalismo na Universidade Federal da Bahia (UFBA), ela é quem garante o acesso gratuito, todos os dias, a mais de mil histórias postadas, sendo acompanhadas por quase 5 mil membros – entre mulheres e alguns, ainda poucos, homens. Em breve, eles terão uma versão própria do Lettera – vai se chamar Gaylit.

“Tem alguns meninos que escrevem histórias e às vezes me perguntam se pode. Ué, pode, desde que não seja conteúdo ofensivo, que não seja fetichizado, não tem problema. O que eu não permito é a presença de homens cis no grupo do Facebook, porque ali é um lugar pra gente se sentir segura em falar”, explica Cristiane.

Se são homens ou mulheres, importa dizer que, em março deste ano, o Lettera alcançou 10 milhões de visitas, com uma média de 11 mil diárias. E o site, desenvolvido por uma catarinense adotada pela Bahia, tem cerca de 40% de usuárias de São Paulo. É lá, também, que são ambientadas boa parte das histórias.

Temas como feminismo, religião – como o candomblé –, relacionamento entre aluna e professora, diferença de idade, histórias de médicas, advogadas e até jornalistas estão no repertório. “Teve até uma polêmica de um relacionamento entre uma tia e uma sobrinha”, conta. Histórias de relacionamentos abusivos em geral não ficam no ar. “Já aconteceu de as leitoras comentarem numa história de agressão e perguntaram se a autora achava isso normal. Ela disse que sim, ou seja, nem ela tinha noção do relacionamento abusivo entre mulheres”, lembra.

escritora

‘Essa história é legal’

A própria Cristiane é escritora. Escreve desde 2005 e tem quatro livros disponíveis online (http://schwinden.com.br). Começou lendo e postando em comunidades do Okut. Mas o primeiro texto publicado em comunidades como o Lettera foi em 2012. Antes disso, Cris postava com um pseudônimo, até que teve uma história sua ‘encontrada’ por uma amiga. “Foi engraçado, porque uma amiga minha viu uma história minha num site, leu, gostou e me indicou, perguntou se eu conhecia. E eu disse: conheço, é minha!”, lembra, aos risos.

Não parou mais. Além de romances completos, escreve contos. “Eu me inspiro muito em séries, filmes. Eu tenho um caderno onde vou anotando as ideias, faço um esquema da história. Às vezes eu sonho com alguma coisa e penso: isso pode virar uma história”, explica a webdesigner, que quer ter uma história publicada em HQ e também planeja um encontro de leitoras e autoras na Bahia.

Mas, por enquanto, a meta é publicar um romance já pronto pelo próprio selo. A Lettera vai virar editora. Por enquanto, Cris diz não pensar em lucro. “Rentável não é. É por amor à literatura, pelo prazer de colocar o livro em mãos”, diz. Também há uma revista online, a Léssica – a primeira edição já está disponível (http://projetolettera.com.br/revista), com entrevista com autoras, lançamentos, artigos, contos. “É legal as meninas se sentirem representadas, verem a sua história contada”, diz.

Troca

No site, que também está sendo reformulado, há livros inteiros postados. Alguns já estavam prontos quando foram disponibilizados. É uma forma de a autora ‘testar’ a aceitação do público. Em alguns casos, o livro é, depois, retirado do ar para ser publicado por uma editora. Em outras situações, as histórias vão sendo postadas e nascem conforme a interação com o público.

“Tem autoras que aceitam as sugestões das leitoras e a história vai se formando. Outras não, mas essa troca é importante”, diz. Os comentários são espontâneos, mas há vantagens e acompanhar as histórias: dá para participar de sorteios de livros, vale-presentes, inclusive de livrarias. Como o site é gratuito, ele precisa de doações para se manter. Quem doa também participa de sorteios.

Com mais de mil autoras cadastradas, claro, as formações são das mais variadas. Há jornalistas, médicas, advogadas… “É legal que a gente conta com consultoria quando vai contar uma história com termos muito jurídicos ou termos médicos”, conta Cris. Se ela tem alguma história em mente? “Agora, eu estou pensando em contar a história de uma jornalista!”, promete.

Crédito das fotos: Lorena Cova/Divulgação

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