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Comerciante gay é baleado pela PM ao lado do marido no Jardim de Alah

Por Bruno Wendel
bruno.cardoso@redebahia.com.br

“Quando olhei para o lado, vi um clarão e ouvi um barulho forte que saíram da arma do policial. Logo em seguida André* estava no chão e sangrando”. A declaração é de Valter*, 40 anos, companheiro de André, 35, comerciante que se recupera de um tiro que levou na perna direita durante uma ação de policiais militares na praia de Jardim Alah, na noite desta quarta-feira (08). Os dois falaram com o CORREIO/Me Salte, mas na condição de terem seus dados pessoas preservados, por temerem retaliação.

O casal, que está junto há quatro anos, contou que estava por volta das 21h na localidade conhecida como Paredão – região da praia que fica entre a areia e uma parede de pedras, onde comumente serve como ponto de encontros do público gay. “A gente caminhava na areia e observávamos outras pessoas, quando um grupo de policiais militares chegou gritando, atirando, e todo mundo correu para a parte superior, onde ficam os coqueiros, inclusive eu e meu companheiro”, relatou André, enquanto Valter trocava o curativo dele.

Valter disse que, quando chegaram nos coqueirais, já haviam outros policiais militares armados e que um deles começou a atirar. “ Fomos todos cercados, como marginais. Foi aí que um dos policiais disse: ‘no chão, no chão’ e atirou mais de uma vez. Foi o policial que me baleou sem que eu fizesse nada. Já estava parado quando atirou”, relatou Valter. Na hora, André, que já estava deitado com o rosto rente ao chão, virou a cabeça e viu o momento do disparo: “O tiro saiu da arma do policial. Vi na hora o clarão da arma”.

O comerciante disse que alguns policiais comentaram que o PM que atirou é um “profissional inexperiente”. “Eles perceberam que agiram errado, que não precisava atirar, que ninguém naquele momento oferecia risco. Os policiais comentavam que o PM que atirou era um profissional inexperiente, que era novo na corporação”, relatou.

Nesse momento, um rapaz, que estava próximo ao casal, disse que ouviu falar que havia um homem armado no Paredão. “Foi aí que um policial disse que sabia que ali era um local de encontro entre gays, mas que eles perseguiram um ladrão que tinha roubado uma mulher no Costa Azul e que tinha corrido para onde a gente estava. Até então, em momento algum, eles (PMs) comentaram isso. Não comentaram por que não tinham o que dizer, a não ser que agiram errado atirando. Bolaram na hora uma versão em cima do que o rapaz disse ouviu dizer”, declarou Valter.

Foto: Marina Silva/CORREIO

Foto: Marina Silva/CORREIO

Fotos
O casal disse que foi posto na mala na viatura junto com o rapaz. Os três levaram mais de meia hora do Jardim de Alah para a Unidade de Pronto de Urgência (UPA) do Conjunto Marback, na Boca do Rio, bairro vizinho. “Ficamos muito preocupados, pois na velocidade que a viatura estava, deveríamos chegar no máximo em dez minutos, por que ali é perto e não havia engarrafamento. A impressão que nós tínhamos é que a viatura rodou muito, batemos a cabeça várias vezes por causa dos quebra-molas”, contou Valter.

Quando chegaram à UPA, André recebeu os primeiros atendimentos médicos. Por conta do ferimento, ele fora transferido para o Hospital Geral do Estado (HGE). Mas antes da regulação, uma surpresa: o casal afirma que teve os documentos fotografados pelos policiais, foi obrigado a revelar o endereço e fornecer os telefones. Além disso, foi “orientado” pelos policiais a dizer no HGE que André foi baleado durante uma trocada de tiros entre os policiais e bandidos.

E assim Valter fez. “Não tinha como fazer o contrário. Me senti intimidado”, disse ele. A ocorrência do hospital começa relatando que o André e Valter “perceberam uma troca de tiros entre policiais e elementos que estavam fazendo assalto, correndo em direção à vítima (André)”. Em um outro trecho, diz o seguinte: “quando foram abordados pelos policiais, que mandaram deitar no chão. Logo ouviu um disparo de arma de fogo, que atingiu a perna direita. Não sabendo o motivo da agressão dos policiais, que não deram socorro à vítima”.

Ainda por conta do medo, o casal disse que não vai à Corregedoria da Polícia Militar para fazer a denúncia. “Eles sabem quem somos nós, tiram fotos dos nossos documentos”, declarou Valter.

Em nota enviada ao CORREIO/Me Salte, a Polícia Militar informou que ‘segundo relato da guarnição que atendeu a ocorrência houve uma solicitação para averiguar a presença de criminosos armados em frente a um mercado em Armação, orla da capital. Com a chegada da guarnição houve disparos de arma de fogo contra os policiais que revidaram, na sequência relatam os policiais que perceberam mais de 20 pessoas correndo e um homem com um ferimento da perna direita. Foi prestado socorro ao ferido para a UPA do Marback e o fato registrado na 9ª Delegacia’.

Em outro trecho da nota, a PM orienta as vítimas a buscarem a Corregedoria. “Diante da versão conflitante apresentada, a PMBA recomenda que seja realizado um registro junto a Ouvidoria através do portal www.pm.ba.gov.br ou do 0800 284 0011 ou ainda que o cidadão compareça à sede da Corregedoria Geral situada à Rua Amazonas, 13 – Pituba para informar maiores detalhes sobre o ocorrido”, finaliza a corporação.

*os nomes foram modificados a pedido das vítimas

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