Por Verena Paranhos

O público que compareceu ontem à   Praça da Cruz Caída, no Centro Histórico, provou que a celebração do Dia da Consciência Negra também pode ser uma forma de resistência. A chuva forte que caiu na cidade não tirou o brilho do Afro Fashion Day (AFD), segunda edição do evento realizado pelo CORREIO para mostrar que desfilar é uma maneira de afirmar nossas conquistas e belezas. Apesar do mau tempo, a plateia se manteve animada para o grande show de moda gratuito. Antes mesmo dos 74 modelos e convidados subirem na passarela, com o tema O Grito das Ruas, o DJ Mauro Telefunksoul animou os presentes, promovendo uma verdadeira balada. A festa foi ampliada para a passarela com uma performance que uniu os grupos FitDance e Lekan Dance, além de dançarinos de stilleto se equilibrando em saltos. A dança é para qualquer plateia, se encaixa em qualquer lugar, disse Zig Pereira, do FitDance.

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O casting 100% negro continuou a celebração usando roupas e acessórios produzidos por 45 marcas locais. O Dia da Consciência Negra virou um processo de empoderamento contínuo, constante. Estamos atentos, estamos espertos, estamos aqui, estamos com tudo, destacou a cantora Larissa Luz, mestre de cerimônias do desfile.

Para o cantor Márcio Victor, um dos artistas convidados, o momento foi de voltar no tempo. Além de lembrar a infância, quando participava de desfiles, o líder do Psirico fez questão de reforçar seu papel na luta contra o racismo. Está aí na internet, em todos os lugares. O Brasil ainda é o país das mulatas rainhas. Tem pessoas dormindo ainda, que não sabem o que é ser preto de verdade, disse. Os cantores Ana Mametto, Margareth Menezes, Vitor Pretto e Lincoln Sena, da Duas Medidas, foram outros que subiram na passarela.

Mais de 70 pessoas, entre modelos e convidados, desfilaram

Mais de 70 pessoas, entre modelos e convidados, desfilaram (Foto: Erik Salles/ Diferente Imagens)

É uma conquista do negro mostrar todo o seu poder. Uma identidade afirmada no talento e na beleza. E o jornal está antenado com o que essas pessoas constroem no seu dia a dia. É compromisso do CORREIO dar visibilidade a essa riqueza cultural, disse a editora-chefe do periódico, Linda Bezerra.

A importância de refletir sobre a data também era sentida entre o público. Janaína Sacramento fez questão de sair de Madre de Deus, na Região Metropolitana de Salvador, para levar a filha Nailane, de 7 anos. Ela já trabalha como modelo fotográfica e também de passarela. É importante valorizar a cultura negra desde pequena e ver que uma passarela toda negra é possível.

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Tiaguinho Gabriel e Nailane Anjos: modelos-mirins de 4 e 7 anos (Foto: Alex Dantas/Diferente Imagens)

O desfile também atraiu quem não fazia ideia do que estava rolando por ali. Esse foi o caso do francês Danny Conti. Eu sou negro e a memória é muito importante. Eu sinto que Salvador mantém essa memória viva, disse o vendedor.

O Afro Fashion Day hoje se mostrou um evento fundamental no calendário da cidade. A prova disso é que a população veio debaixo de chuva, ficou o tempo todo superanimada. Tudo isso é graças a quem acreditou no projeto, patrocinadores, apoiadores, modelos, estilistas, produtores, afirmou Fábio Góis, gerente de marketing e mídias digitais do CORREIO.

Evento mostrou iversidade de corpos e estilos dos baianos (Foto: Alex Dantas/Diferente Imagens)

Evento mostrou diversidade de corpos e estilos dos baianos (Foto: Alex Dantas/Diferente Imagens)

Dever cumprido
Depois do dever cumprido na passarela, o clima de celebração tomou conta dos bastidores, com modelos e criativos vibrando em êxtase. É uma honra estar desfilando aqui em Salvador, faça chuva ou faça sol. A energia da minha família, do público baiano, me emociona, não tem nada igual, disse a top baiana Diara Rosa. Depois de participar do AFD em 2015, a jovem deixou a Ilha de Itaparica para morar em São Paulo e já emplacou campanhas internacionais e editoriais de revistas como Vogue Brasil.

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Mesmo debaixo de chuva, público assistiu ao desfile na Cruz Caída munido de capas e guarda-chuvas (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

A satisfação também era sentida com os estilistas e designers responsáveis pelas marcas. É bem interessante esse movimento de resgatar a nossa cultura, as referências da Bahia. É essencial participar de grandes eventos com outras marcas e fortalecer a cadeia produtiva da moda, afirmou Gustavo Moraes, da Tempt.

A programação do AFD de ontem contou ainda com a exposição Visu no Pelô e Espaço Kids. Sábado foram realizados seis oficinas e bate-papos no Senac Rua Chile. O Afro Fashion Day tem patrocínio do Shopping da Bahia, HapVida e Faculdade da Cidade, apoio do Senac e Eudora e apoio institucional da Prefeitura de Salvador.

Lekan e FitDance: batalha de dança na surpreendente abertura do AFD

Lekan e FitDance: batalha de dança na surpreendente abertura do AFD (Foto: Erik Salles/Diferente Imagens)

 

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