Por Gil Santos
(gilvan.santos@redebahia.com.br)

Como você descobriu que era gay? Foi tranquilo? A família e os amigos aceitaram bem a ideia?

Se a resposta para essa pergunta for ‘sim’, você é um ser privilegiado. Como deve saber a maioria das famílias não lida bem com essa informação, e em tempos em que políticos intolerantes tornam-se cada vez mais populares assumir a diferença exige mais coragem do que nunca.

Love, Simon, do diretor Greg Berlanti, inspirado no livro homônimo de Becky Albertalli, discute essa questão sobre um ponto de vista interessante. Nunca entendi muito bem porque gays precisam assumir sua sexualidade. Pra mim isso soa como andar pelas ruas com um cartaz escrito: sou gay. A palavra ‘assumir’ tem um peso incomodo e desnecessário.

Eu sei, eu sei, existe a questão da representatividade, e isso é importante. Mas essa pressão social para saber com quem você se deita aumenta ainda mais a angústia de quem está passando pelo processo de autodescoberta.

Contar para a família e os amigos, apresentar o crush ou o namorado, é supercompreensível, afinal são pessoas com as quais compartilhamos o que acontece em nossas vidas, a quem pedimos conselhos sobre os mais variados assuntos, cuja opinião nos interessa. Agora, ter a obrigação de gritar para o mundo, contar aos vizinhos, colegas de trabalho ou da faculdade sua intimidade é mais do que bizarro, é agressivo, é invasivo, e dispensável.

No romance de Berlanti, que chegou aos cinemas há algumas semanas, o jovem Simon é vítima dessa pressão insuportável depois de ser chantageado por um colega que descobriu sua sexualidade. Simon sofre ao ter publicizada sua intimidade, e questiona porque não existe essa mesma pressão sobre os héteros.

Eu vivi essa angústia, e tenho amigos que passaram ou passam no momento pelo mesmo. É horrível. Então, eu peço que você (gay ou não) ao ler esse texto pense no assunto e pare de pressionar aquele colega de trabalho para ‘sair do armário’, ou de se perguntar quando o ‘encubado’ vai se assumir. Ele não tem que assumir nada pra ninguém, nem pra você. Ele tem que ser feliz, sendo sua intimidade pública ou não.

Ser bem resolvido sexualmente significa viver plenamente sua sexualidade, sem pressões, com prazer, sem se esconder, sem fingir ser hétero ou qualquer outra coisa, mas também sem a obrigação de dizer para todo desconhecido que você é gay.

No filme, o protagonista tem a vida perfeita, uma família compreensível, amigos que o aceitam de imediato, e colegas de escola que lidam bem com tudo. Um conto de fadas? Sem dúvida! Mas ainda assim, a discussão proposta é interessante e válida. Se para o jovem Simon todas essas atenuantes não diminuíram o sofrimento (como fica claro na interpretação de Nick Robinson), imagine para quem não vive nesse conto de fadas de tolerância e respeito?

Se você ainda não leu o livro, ou se ainda não viu o filme, veja! Vale muito a pena.

 

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