Por Carol Aquino
Tanara e Gilvanete Franco se conheceram há cinco anos numa festa de pagode. Coisa do destino, pois nenhuma das duas gosta do ritmo e saíram de casa por insistência de amigas. Trocaram telefones. Trinta dias depois, já estavam morando juntas.
Cinco anos mais tarde, nesta quinta-feira (28), as duas oficializaram a paixão. “Nunca ficamos mais de 30 dias separadas. O máximo de tempo foi quando fui buscar nosso filho, Rangel, de 14 anos”, contou Gil, como gosta de ser chamada, com um sorriso que não cabia no rosto.
Assim como elas, outros oito casais mudaram seus estados civis durante o primeiro casamento civil coletivo LGBTQI+ celebrado na capital baiana. A celebração foi por meio do projeto “Sim ao Amor”, realizado pelo Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher e População LGBTQI+ (Gedem), do Ministério Público da Bahia (MP-BA).
“É muito importante que seja um órgão do sistema de justiça a visibilizar essa questão. A gente sabe que o sistema de justiça em muito, às vezes, reproduz essas formas de opressão, afinal está dentro da sociedade. Essa ação passa uma mensagem muito clara de respeito a todas as pessoas”, pontuou a coordenadora do Gedem, a promotora Lívia Vaz.
O dia não poderia ser mais simbólico. Em 28 de junho é celebrado o Dia do Orgulho LGBTQI+, data que simboliza a luta contra a intolerância, pelo direito de serem respeitadas e acessarem os mesmos direitos que o resto da população.
“A importância de nos casarmos na data de hoje é de eternizar nosso amor e pedirmos respeito. Ninguém precisa nos aceitar, somente respeitar. Quem tanto pede por respeito tem que ter respeito”, comentou uma das noivas, Tanara Franco, 41, autônoma. “A mensagem que a gente quer deixar é que existem vários tipos de famílias e todas elas foram respeitadas”, complementou Tanara.
No casamento, não faltou pompa, roupas de gala, bem-casados, música romântica, lágrimas e muito amor. Uma das mais emocionadas, que quase não conseguia falar, era a madrinha da cerimônia coletiva, a jornalista e digital influencer Maíra Azevedo, Tia Má.
“Eu vim com um discurso todo pronto, mas eu caí. Caí com a troca de olhares de vocês, de carinho”, disse. Porém, ela destacou que chorava não só com a beleza do momento, mas também pelas dificuldades que a população LGBTQI+ ainda encara no dia a dia. “Fiquei imaginando como deve ser viver num mundo onde viver o seu amor pode ser o motivo de sua morte.Você não pode dizer eu te amo publicamente, sem ser motivo de chacota. Vocês não estão apenas se casando, estão fazendo a revolução”, disse Tia Má sobre a coragem dos casais de oficializar a sua união numa sociedade em que há tantas demonstrações de LGBTfobia.
Apesar de todo o simbolismo da data, três casais pediram à imprensa presente que não registrassem imagens deles ou divulgassem seus nomes. “Estamos em 2018 e os casais não podiam ser filmados porque ainda vivem na opressão”, destacou o padrinho do casamento coletivo, antropólogo e fundador do Grupo Gay da Bahia (GGB), Luiz Mott.
Ele relembrou os dois. “Esse casamento representa uma tendência dos gays, lésbicas, travestis e transexuais que querem dizer que eles não são bagunça, que querem ter uma vida normal, como a da maioria das pessoas, tem muitos gays que querem se casar. É importantíssima essa iniciativa do Ministério Público e que ajuda a consolidar a cidadania da população LGBT”, comentou.
Conquista
Desde o ano de 2013, uma resolução do Conselho Nacional de Justiça facilitou e regulamentou o casamento civil homossexual no Brasil. O registro pode ser feito até mesmo em cartórios, e tabeliães ou juízes são proibidos de negar o acesso a esse direito.
Na sede do Gedem do MP-BA, no Jardim Baiano, é oferecida orientação jurídica para quem deseja fazer o registro da união civil. Mais informações podem ser obtidas pelos telefones (71) 3321-1949 ou 3266-4526 ou ainda pelo email gedem@mpba.mp.br