O cabeleireiro Rauan Pereira dos Santos, 29 anos, foi esfaqueado e apedrejado na madrugada da última terça-feira (20) dentro da própria casa na Vila Rui Barbosa, na Cidade Baixa. A vítima teve os dois pulmões perfurados e está internada em estado grave no Hospital Geral do Estado (HGE). Familiares e amigos acreditam que a homofobia motivou o crime, entretanto, a Polícia Civil aponta, em nota, que a investigação não indica esta motivação.
Segundo um dos melhores amigos de Rauan, Ronan Nascimento, dois homens tinham ido à casa do cabeleireiro antes do crime, por isso, ambos são suspeitos no caso. Segundo o amigo, acredita-se que os três tiveram relações sexuais, o que teria motivado a agressão.
“Rauan contou para um amigo que ia receber uma pessoa que ele já conhecia e outro homem em casa. Na casa, foram encontradas camisinhas usadas e, por isso, acredito que ocorreu a relação e os dois homens ficaram com raiva deles mesmos e atacaram meu amigo”, comentou Ronan sobre a possível motivação do crime.
Agredida com facadas e pedradas, a vítima teve o rosto desfigurado, osso quebrados, crânio cortado e traumatismo craniano, contou Ronan. “O estado dele é grave. Ele está no HGE desde que foi encontrado e já passou por uma reconstrução craniana. Ele está sedado”, relatou Ronan.
A agressividade do ataque reforça a tese da motivação homofóbica do crime. “Não se sabe ao certo o que aconteceu, mas existia uma raiva por algum motivo. Ele era uma pessoa do bem, por isso, fica óbvio que é um caso de homofobia”, disse o amigo do cabeleireiro.
Além de atacarem o cabeleireiro, os dois homens também roubaram um celular, dinheiro e a moto da vítima.
A vítima foi encontrada agonizando na sala de casa por um vizinho que escutou os gritos vindos do imóvel. Como um dos homens que supostamente cometeu o crime era conhecido de Rauan, os amigos e a família acreditam que o ataque foi premeditado.
Segundo a Polícia Civil, o caso é investigado pela 3ª DT/Bonfim, que apura a tentativa de latrocínio. “O titular da unidade já solicitou as imagens de câmeras de segurança que serão analisadas, além de ter coletado depoimentos de testemunhas. A perícia já foi realizada e o delegado aguarda os laudos. Os suspeitos ainda não foram identificados”, informou a corporação.
Nesta sexta (23), a Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) divulgou uma nota repudiando a agressão sofrida por Rauan. “As autoridades policiais estão investigando o caso, mas a família acredita que o crime seja de homofobia”, pontuou a pasta.
“A Coordenação LGBT da Superintendência de Direitos Humanos da SJDHDS tomou conhecimento do caso na quinta-feira (22), estabelecendo contato com a família por meia da irmã da vítima. A secretaria está acompanhando a família e colocou a equipe à disposição para dar auxílio neste momento”, informou.
Ainda segundo a nota, a pasta está em contato com a Superintendência de Prevenção à Violência da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) e com o gabinete do Delegado Geral para acompanhar o caso, além de ter mantido contato com a 3ª Delegacia do Bonfim, onde o caso é investigado
A secretaria ainda reafirmou o compromisso do Governo do Estado com uma Bahia livre de preconceitos e violência de gênero ou orientação sexual. A pasta manifestou o desejo que o jovem se recupere e possa voltar ao convívio familiar o quanto antes.
“Em pleno século XXI, alguns indivíduos ainda buscam orientar suas ações com atitudes atrasadas e movidas à violência. É importante ressaltar que desde junho de 2019, por decisão do Supremo Tribunal Federal, homofobia e transfobia são considerados crimes. Os ministros do Supremo determinaram que a conduta passe a ser punida pela Lei de Racismo, que hoje prevê crimes de discriminação ou preconceito”, pontuou.