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Até logo, Paulo Gustavo

Por Washington Luan G. de Oliveira*

Quantos Paulo(s) Gustavo(s) se foram na data de 04/05/2021 às 21h12m? Enquanto me perguntava sobre isso, fiz um pouco de silêncio, pois a morte de Paulo Gustavo em decorrência de complicações da COVID-19 traz à tona um sentimento coletivo de luto. O que ocorreu com Paulo Gustavo é uma expressão política do negacionismo da ciência. Existem fontes jornalísticas que apontam que o governo brasileiro recusou onze ofertas formais de fornecimento de vacinas contra a Covid.

A vacina precisa chegar para todas as pessoas. Paulo Gustavo já poderia estar vacinado, assim como você que lê este texto, mas estamos sendo mortos todos os dias pelo negacionismo. A vacina precisa chegar para todas as pessoas urgentemente.

Até a produção deste texto, 412 mil pessoas haviam perdido as suas vidas em decorrência da COVID-19. Isto representa aproximadamente 4 milhões de pessoas enlutadas. Especialistas apontam que, a cada morte, há cerca de seis a dez pessoas sofrendo a dor do luto – como familiares e amigos mais próximos. Estamos vivendo uma crise de saúde e sanitária que precisa ser reparada pelo poder público.

A morte de Paulo Gustavo nos mostra que temos um luto coletivo, afinal ele era um homem gay que, além do seu trabalho para a arte ou humor, representava muitas pessoas LGBTI+ que viam nele a discussão de pautas coletivas. O fato de sentir-se representado.

A Psicologia está sendo demandada diariamente para a linha de frente e para cuidados em saúde mental das pessoas que vivem esta pandemia do medo, da ansiedade, da desesperança, da fome e para o cuidado em saúde mental de pessoas que sofrem devido ao luto desta necropolítica que escolhe os corpos que precisam morrer e viver. Pessoas experienciam neste momento alguns sentimentos que consideramos negativos.

Sempre que alguém LGBTI+ morre, parte de nós vai com ela. É assustador ver alguém tão jovem partir, e pior, desta maneira e com recursos já existentes para que isto não ocorra. A população brasileira têm desenvolvido neste mais de um ano pandêmico o luto crônico pela impossibilidade de viver rituais de despedidas como tínhamos antes (velórios e enterros). O luto crônico possui ligação com questões que envolvem o relacionamento com a pessoa que se foi, como a relação que tínhamos com quem era esta pessoa, a forma como a pessoa morreu, a natureza da ligação, e a história de vida, além da personalidade de quem sofre com o luto.

É inexistente uma vida sem preocupações, mas conviver com sentimentos persistentes de descontrole, ameaças ou reações excessivas frente às demandas do dia-a-dia nos sinalizam o merecimento de uma atenção especial. Caso você identifique sinais como estes, ou que emocionalmente você não consegue resolver situações que antes você solucionava com maior facilidade, busque uma/um psicóloga/o.

Gostaria de finalizar esta despedida a Paulo Gustavo com uma fala dele: “enquanto esta vacina tão esperada não chega para todo mundo, é bom lembrar que contra o preconceito, a intolerância, a mentira e a tristeza já existe vacina. É o afeto, é o amor. Então diga o quanto você ama a quem você ama, mas não fica só na declaração, não, gente. Ame na prática, na ação. Amar é ação, amar é arte. Muito amor, gente! Até logo”.

Até logo, Paulo Gustavo. Obrigado por nos fazer chorar de rir durante todos estes anos. Neste momento um vírus apagou o sorriso de você que muito nos fez sorrir. Muito de você permanece aqui em nós. Paulo Gustavo, presente!

*psicólogo (CRP-03/18055), atualmente é presidente do Conselho Regional de Psicologia da Bahia e presidente da Comissão de Ética do Conselho Municipal LGBT+ de Salvador. Luan também é discente no Mestrado Profissional em Saúde da População Negra e Indígena da UFRB.

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