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Ao lado do namorado, jogador de vôlei Douglas é vítima de homofobia em aeroporto: ‘difícil’

Jogador da seleção brasileira de vôlei e sensação na Olimpíada de Tóquio, o ponteiro Douglas Souza fez um desabafo nas redes sociais nesta quarta-feira (8). O atleta contou que foi vítima de homofobia no aeroporto de Amsterdã, na Holanda. Ele estava em deslocamento para Vibo Valentia, na Itália, onde defenderá o clube Tonno Callipo.

“Eu e Gabriel, meu namorado, pegamos um voo de São Paulo até Amsterdã, onde teríamos que passar pelo controle de passaporte para ir para Roma – e depois pegar outro voo para Vibo Valentia. Na hora de passar pelo controle de passaporte, o cara [agente de segurança do aeroporto] conversou comigo de boa, perguntou o que eu ia fazer na Itália, enfim. Expliquei que era jogador de vôlei, que tinha sido contratado. Aí ele perguntou quem era o Gabriel. E quando falei que era meu namorado, a fisionomia dele mudou na hora. E o tratamento dele também”, contou Douglas.

O jogador informou que tinha um documento de união estável com Gabriel, e que o namorado iria acompanhá-lo na Itália e trabalhar de lá. Então, um outro agente de segurança foi chamado, e escoltou os dois para um outro lugar, ao lado da fila do controle de passaporte.

“Ele largou a gente ali, durante umas 5h mais ou menos. Não dava nenhum tipo de explicação. Eu chegava para perguntar o que aconteceu, se precisava de ajuda, se a gente podia ajudar de alguma forma, se eu podia passar o telefone do meu clube. Não quiseram nem me escutar”, lembrou o ponteiro.

Depois de 5h de espera, Douglas contou que foi levado para uma sala, onde passou por uma entrevista. E, mais uma vez, questionaram quem era Gabriel. “Eu tentava explicar que era meu namorado, e eles tinham muita dificuldade de entender esse termo. Eles insistiam no termo ‘companheiro’, e não queriam deixar de jeito nenhum o Gabi passar”.

“Comecei a perceber um certo padrão no tratamento deles. A gente foi colocado com mais 20 pessoas e, dessas, 18 eram pretas ou latinas – as outras duas, eu e o Gabi. Uma dessas pessoas se revoltou muito com a situação. Quando uma moça loira, de olho azul, passou na frente dele, ele começou a gritar e perguntar o porquê de estarem atendendo ela e não a gente, se era porque ela era branca. A menina ficou até sem graça, constrangida. Eu já tinha pensado nisso, mas falei ‘não, será que é coisa da minha cabeça?’. Mas foi o que aconteceu”, continua o jogador.

Segundo o relato do campeão olímpico no Rio-2016, ele e o namorado só foram liberados quando o aeroporto estava fechando.

“A gente ficou, literalmente, o dia todo lá, sentados, esperando. Quando deu 23h, que já tinha fechado o aeroporto, que não tinha mais voo para Roma, eles nos liberaram. A gente teve que ficar dormindo dentro do aeroporto, não tinha como ir para o hotel. Tivemos que ficar, literalmente, jogados, sentados no chão, até 7h do outro dia, que era o próximo voo para Roma”.

Douglas lamentou toda a situação, e explicou que resolveu falar sobre o tema para ajudar no combate à homofobia.

“A gente se sente fragilizado, não podia fazer nada. Infelizmente, foi o que aconteceu. Eu não achei normal. As pessoas vão falar ‘ah, mas Amsterdã é super liberal’. Mas não é assim que funciona. Eu vivi aquilo, eu sei o que eu vivi. Eu sei o olhar, o jeito que nos trataram na frente de todo mundo. Foi muito constrangedor”, falou.

“É importante a gente falar e mostrar que isso existe. É importante a gente ter voz e expor esse tipo de situação, porque é real. As pessoas tentam colocar para debaixo do tapete, dizer que não aconteceu, que é coisa da nossa cabeça, mas tinham mais pessoas que perceberam esse padrão de tratamento diferente. Foi uma bosta. Espero que ninguém passe por isso – mas eu sei que vai passar, infelizmente. Mas a gente tem que lutar contra isso”, finalizou.

Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

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