Por Théo Meireles*
Há um ano atrás eu tomei coragem de assumir a minha felicidade. Para além das formas do meu corpo, eu aceitei o desafio de deixar de me esconder e dar a cara para bater. Acabei batendo na cara de muito preconceito, acabei me tornando um ser humano melhor, mais altruísta, mais complacente, mais disposto, mais focado, um amigo melhor, um profissional mais comprometido, um filho, um noivo, um sobrinho, um primo, um neto e um pai mais amoroso.
Eu assumi há um ano mais do que uma nova identidade de gênero, assumi um posicionamento político, o compromisso de garantir o meu espaço nesse país escroto de política suja e direitos anulados à quela condição na qual me enquadro. Eu fui fundo, pesquisei, me informei e construí um discurso. Eu levei à s pessoas as minhas experiências, me envolvi onde pude para que cada vez mais gente soubesse respeitar o que já não é mais uma novidade e aqui estou, munido de amor, de muito amor. A minha realidade é diferente da realidade de muitxs companheirx.
Eu fui aceito nos meus espaços de convivência, eu fui respeitado nas instituições que frequento e fui acolhido pela minha família, porém, para mim de nada vale tudo isso enquanto eu estiver vendo meus irmãos e irmãs de luta sofrendo preconceito, apanhando, morrendo. Sou um privilegiado, mas se eu pudesse escolher eu dividiria esse privilégio para que a nossa dor fosse igual assim como é a nossa luta.
Há um ano eu sou voz, logo eu que não era nem plateia por vergonha de pisar fora de casa vestindo uma forma que não era a minha. É, eu cheguei lá. Garanti meu lugar de fala e faço dele a minha arma contra a falta da assistência que por direito demandamos do estado e conseguimos a duras penas, profiro um discurso de coragem, mas ainda de clamor por respeito e igualdade.
Eu não preciso de um CID. Tenho plena noção da minha capacidade física, laboral e mental. Eu não preciso da pena de ninguém, o que eu tenho entre as pernas não define a minha masculinidade, eu não preciso de favores, eu quero ter “ sem nenhuma distinção – os direitos que são garantidos a mim constitucionalmente enquanto cidadão.
Obrigado mãe, por ter se reinventado por mim e ser esse poço de amor que me inspira todos os dias. Obrigado, meu amor, pelo companheirismo de sempre, nunca me deixando sozinho nesse novo caminho. Obrigado, meu filho, por ser minha fonte de força. Obrigado meu pai, por mesmo de longe se fazer presente em vibração e torcida pelo meu melhor. Obrigado a minha família, pelo acolhimento quando tudo ainda era uma novidade.
Obrigado aos amigos da Central de Rádios Rede Bahia que me encararam e acompanharam de forma sensível e humana as mudanças pelas quais passei, obrigado também por me incentivarem a entrar no ar com dois meses de testosterona, em pleno período de transição da voz, assinando o meu nome. Obrigado aos meus amigos que entenderam a transição como uma libertação e me apoiaram de forma linda. Obrigaram aos amigos que conquistei durante essa ainda curta caminhada, obrigado pelas oportunidades de me envolver em projetos, pela confiança de comandar debates e pelo tsunami de amor e carinho que recebo diariamente. Obrigado ao Mães Pela Diversidade, pelos tantos acolhimentos, por mostrar o verdadeiro significado de coletivo e conduzir em amor todas as propostas por igualdade.
Théo fez um ano ontem. Eu fiz um ano ontem.
*O texto foi publicado por Théo na sua rede social e publicado na íntegra aqui no Me Salte mediante sua autorização prévia.Â
2 Comentários
É isso aí…
Precisamos criar fatos para que nossa realudade se torne comum.
Parabéns ao Theo Meirelles e à Prefeitura de Salvador!