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Amor em campo: casais LGBTQIAP+ contam suas histórias de amor por Bahia e Vitória

Por Brenda Vianna, do Correio 24horas

Um casal é formado por duas pessoas que, quando cruzam os olhares, a química bate, o frio na barriga acontece… É aquele gol esperado no fim de um campeonato. E com o Bahia e Vitória em campo, comemorar mais uma conquista do time ajuda ainda mais a acender a conexão.

Ir para o estádio do seu time favorito é ainda melhor acompanhado pelo amor da sua vida, seja no Barradão ou na Fonte Nova. Para celebrar o Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+, comemorado hoje, dia 28 de junho, casais contam suas histórias com seus times e as paixões que explodem os corações, na última reportagem da série “Bola Colorida – O que há por trás da LGBTfobia no futebol”.

Jonathan Xavier e Leonardo Souza
Eles se conheceram há apenas seis meses, o amor foi crescendo, mas torcer para times diferentes nunca foi um empecilho – nem na teoria e nem na prática. Jonathan Xavier, de 26 anos, entendeu que era louco pelo Vitória aos 7, após diversos aniversários promovidos pela mãe com o tema do Bahia.

“Eu dei um estalo em casa e não queria mais ser Bahia só porque minha família era. Minha mãe teve dois testes cardíacos: o momento que falei que era Vitória e quando me assumi bissexual”, brincou. Com a descoberta do grupo Orgulho Rubro-Negro, torcida LGBTQIA+, ele passou a ir com frequência ao estádio e mostrar o seu amor pelo clube.

Ao ter sua vida cruzada com a de Leonardo Souza, 32, pelas ruas de Salvador, os dois decidiram juntar as famílias para ter momentos de cumplicidade assistindo os jogos, mostrando que há como cada um torcer por time diferente.

“A gente sempre brinca um com o outro, ‘ah, o seu time está afundando’, ‘seu timinho perdeu, foi?’, então é algo saudável entre a gente, quando estamos entre amigos e familiares também. É tranquilo cada um torcer para o seu time, sabe? Isso não afeta em nada em nosso namoro”, explicou Jonathan, que também é diretor do Dendê Futebol Clube, time LGBTQIA+ da Bahia e do grupo da parada LGBTQIA+ de Cajazeiras 11.

Se sentindo confortável para estar em ambiente majoritariamente heterossexual, Jonathan entende e reforça a importância das torcidas LGBTQIA+ para a comunidade nos estádios.

“A torcida LGBT Tricolor e Orgulho Rubro-Negro dão segurança para que gays, lésbicas, transsexuais, bissexuais e outros membros da comunidade possam ir para o Barradão e Fonte Nova, eu acho isso essencial. Falo por experiência própria, que eu me sinto seguro para vibrar pelo time. Porém, espero muito que em um futuro próximo, que seja possível ser uma torcida só, sem preconceito, que amor seja maior pelo futebol seja maior que a homofobia, já que estamos tendo que ter essas ‘divisões’ nas torcidas”, comentou.

Tímido, Leonardo falou que os amigos chamam os dois de “Casal Ba-Vi”, mas a rivalidade fica apenas da porta de casa para dentro. Na rua, o amor prevalece sempre.

Suzana Nascimento e Emanuele Bispo
Pouco antes de começar Vitória x Tombense pela Série B de 2023, Suzana, de 41 anos, se esbarrou com Emanuelle, 32, no estacionamento do Barradão. As pupilas se encontraram, o suor de nervoso escorreu pelos dedos e pelo pescoço, mas a cerveja foi tentando amenizar a vontade de beijar, já que elas nem se conheciam direito.

Os lábios só se encontraram, de fato, na arquibancada do ‘Barraquistão’, com a bateria tocando e os torcedores exalando todo o amor pelo time. O dia 29 de setembro de 2023 vai ficar marcado para sempre na vida da publicitária e da auxiliar administrativa.

“Nos conhecemos através de uma amiga em comum. Ela [Emanuelle] foi para o jogo, mas não iria nesse dia, e nem eu. No estacionamento, a gente se encontrou, entramos no estádio e nem sabemos mais como aconteceu o primeiro beijo, mas, depois disso, não nos desgrudamos mais”, recordou Suzana, que moradora de Santo Amaro e completamente apaixonada pelo Vitória desde a infância.

Como faz questão de estar na maioria dos jogos do Leão, a publicitária falou que Emanuelle, que não era de ir sempre ao estádio, fez até o sócio-torcedor para acompanhar a amada – tudo por amor ao time e à companheira.

“Eu já era louca pelo Vitória e agora, com o namoro indo tudo bem, já pensamos em um casamento e ter alguma coisa que remeta o Vitória no dia. O time é o nosso padrinho. Eu acredito que é coisa do destino mesmo, porque estava dando tudo certo para eu não ir. Mas eu sou supersticiosa, sei que era para acontecer mesmo”.

Suzana brinca que, caso o relacionamento não dê certo, ela vai ficar triste com o fim do namoro, mas o amor dela pelo Vitória é bem maior.

Fernanda Lírios e Marcia Castro
Na noite da última quarta-feira, a cantora Marcia Castro, de 45 anos, esteve na Fonte Nova acompanhada da esposa, Fernanda Lírios, pela primeira vez desde que o estádio foi reformado e reinaugurado, em abril de 2013. Esse amor pelo tricolor foi sendo inserido, pouco a pouco, na veia da estudante de psicologia. Ela não torcia para o Bahia, mas aprendeu a amar o clube – assim como também ama a artista.

“É muito intenso, é uma alegria muito grande. Então, quando a gente compartilha essa alegria, parece que, sei lá, a energia do amor circula. É um negócio muito forte. E aí eu sempre falei assim: ‘você precisa ver’. A torcida do Bahia é diferente de qualquer outra coisa. É a torcida da alegria, é a torcida do amor. E ela conseguiu ver isso tudo, como se fosse uma reverberação do nosso amor, sabe?”, comentou Marcia.

Para a cantora, madrinha da LGBTricolor, ter uma torcida como essa dentro do estádio, que possa representar a comunidade em jogos, não é fora dos padrões. Pelo contrário, é reforçar que amor também pode ser explanado nas arquibancadas.

Essa paixão de Marcia pelo Bahia só favoreceu a conversão de Fernanda para torcer para o clube baiano. Além disso, ao contrário de algumas pessoas que já sofreram homofobia nos estádios, a cantora comemora não ter sido vítima de qualquer preconceito, elogiando o trabalho e a luta da torcida que está preparada para abraçar e acolher os membros da comunidade LGBTQIA.

“Eu fico pensando que eu sou uma geração, né? Nasci em 78. Ainda encontrei um mundo onde isso era delicado. (…) Hoje é mais suavizado. A gente ainda não tem a paz completa, não tem os privilégios absolutos do mundo heteronormativo, mas a gente, hoje, é muito mais seguro do que há tempos atrás”.

Para a psicoterapeuta Nicole Ornellas, quando os casais estão em plena harmonia e sintonia, ajudam a contribuir para a construção do vínculo afetivo, principalmente quando se trata, também, do time do coração.

“O amor pelo time une os casais a todo tempo e, quando falamos sobre felicidade, liberamos hormônios que ajudam nessa construção sentimental. Liberamos dopamina, que é o hormônio do prazer, serotonina, o hormônio do humor e bem-estar, entre outros que ajudam nesse vínculo”, explicou Nicole, que estuda relacionamentos.

A profissional da área da saúde enfatiza que, por terem um histórico de preconceito, muitos casais deixam de ir ao estádio por medo de retaliação. A desconstrução é bem gradativa, e é um processo cansativo e até ansioso, mas faz parte para que outros torcedores heterossexuais entendam a inclusão da torcida LGBTQIA.+.

“Isso faz parte da conscientização e, dessa forma, os casais LGBTs podem se sentir pertencente a um grupo, acolhidos e, consequentemente, felizes, aumentando mais ainda o amor que têm um pelo outro, além do time também”.

O que pensam Bahia e Vitória
O Bahia reforçou o apoio à comunidade LGBTQIA+ em seu site oficial e no jogo da última quarta, contra o Vasco. Todos os jogadores entraram em campo vestindo uma camisa com numeração especial, em alusão à bandeira do arco-íris.

“A ação busca promover a inclusão, o respeito e a diversidade dentro e fora dos campos. Com isso, Bahia reafirma seu compromisso com a luta contra o preconceito e a discriminação, celebrando a diversidade e a igualdade de direitos para todas as pessoas, independentemente de sua orientação sexual ou identidade de gênero”, diz o tricolor.

O Vitória, por meio do diretor social Mário Bello, afirmou que, no domingo, colocará a faixa do capitão e as bandeirinhas de escanteio em prol à campanha. Também irá divulgar um vídeo para enfatizar o respeito. “Buscando inserir a comunidade com todas as outras, acreditamos que todos tem o mesmo direito”, falou Mário.

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