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Mulheres lésbicas precisam lutar contra invisibilidade, racismo e hipersexualização

Vinícius Nascimento
Instagram:@eusouvinino

Na Revolta dos Dândis, os Engenheiros do Hawaii cantavam que se sentiam estrangeiros independente do cenário: ‘entre um rosto e um retrato, o real e o abstrato, a loucura e a lucidez, o uniforme e a nudez, o fim do mundo e o fim do mês’. Donas de caras, cores e locações muito mais próximas, as mulheres pretas e lésbicas da Bahia não são uma banda, mas muitas delas também se sentem estrangeiras: entre o racismo e a lesbofobia, a hiperssexualiazação e a caricatura.

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No baba, na tatuagem, sem vestido e de bermudão. Ser mulher lésbica ‘masculinizada’ é conviver com as dores do racismo e da lesbofobia juntas. As vivências dessas mulheres que são discriminadas inclusive no próprio movimento LGBTQIA+ será tema do debate “Negras, lésbicas e masculinizadas”, uma das mesas da Parada LGBTQIA+ da Bahia 2020. A 19ª edição vai discutir o ‘Racismo na comunidade LGBTQIA+’ e será virtual. O evento acontece em 5 de dezembro, às 18h, com transmissão pelas redes sociais do CORREIO e do Me Salte.

A mesa será composta pela ativista Bruna Bastos e pela pedagoga Janda Mawusí. Pesquisadora de Lesbianidades, Interseccionalidades e Feminismos no Núcleo de Pesquisa e Extensão em Cultura e Sexualidade da Universidade Federal da Bahia (Nucus/Ufba), Janda afirma que a chamada masculinização surge por diversos fatores, como o gosto de mulheres em vestir as ditas ‘roupas de homem’ (bermudas, camisetas, calças e afins), ou, como foi por um tempo na vida dela, para esconder os próprios corpos.

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“Nesse processo de ser masculinizada, temos muita dificuldade e medo de se aceitar, medo de ser reprovada pela sociedade. Sempre vesti moletom, escondendo meu corpo. Minha primeira namorada perguntava porque eu usava essas roupas mesmo no calor e foi me colocando para observar meu corpo. Assim, percebi que queria me esconder de alguma coisa”, conta a pedagoga.

Janda aponta que precisou sair do seu bairro, em Cosme de Farias, para começar a se reconhecer com uma mulher negra e lésbica. Um processo doloroso, mas transformador. “Quando me reconheci como negra e lésbica, as lutas deixaram de ser contra mim. Passaram a ser contra a sociedade”, acrescenta.

Janda será uma das participantes da Parada LGBTQIA+ transmitida pelo CORREIO e Blog Me Salte (Foto: Vilma Neres/Divulgação)

O próprio termo ‘masculinizada’ é motivo de debate. Integrante do grupo de pesquisa Rasura, da Ufba, Bruna Bastos afirma que discorda do conceito teórico dessa palavra, que, de alguma forma, quer dizer que essas mulheres são menos mulheres por se vestir com roupas que fogem ao padrão de feminilidade. Ao mesmo tempo, ela pondera que o vocábulo comunica bem o que significa e que a partir dessa ideia é possível começar a se discutir outras feminilidades que não o padrão habitual, com saias, vestidos, saltos e maquiagens.

“Nós não somos menos mulher por conta da roupa”, afirma a ativista.

Não são apenas as mulheres ‘masculinizadas’ que sofrem com a lesbofobia. Mesmo recebendo olhares de desaprovação diferente, as mulheres estereotipadas como femininas também sentem o preconceito. Além disso, um outro problema é recorrente em suas vidas, dentro e fora do movimento LGBTQIA+, a hiperssexualização.

Bruna Bastos pondera que o termo masculinizadas ajuda a abrir a discussão para expressões do feminino que fogem do padrão (Foto: Divulgação)

As estudantes Lara Ferraz e Thainá Sousa são namoradas e enfrentam situações diárias. Os problemas são tantos que quando não estão muito dispostas a lidar com o preconceito na rua, evitam o afeto em locais públicos.

Lara entende que apesar do discurso de que os preconceitos que atravessam sua vida, como racismo, machismo e lesbofobia, tiveram queda ou começaram a reduzir, na verdade o que aconteceu foi uma adaptação desses preconceitos para formas mais sutis, mas não menos crueis:

“O preconceito direto é cada vez menor, mas o racismo em si está em outros setores, sociais: na academia, nas questões de emprego. Ver duas mulheres na rua trocando carícias traz olhares, que são pesados e te deixam desconfortável”, afirma Lara.

Bissexual, Thainá Sousa afirma que ser LGBTQIA+ e enfrentar dificuldades para viver naturalmente uma relação homoafetiva é redundante. A jovem diz que já ouviu coisas absurdas, inclusive de uma amiga lésbica apontando que nunca namoraria uma bissexual por não ter certeza de que seria traída e que nunca beijaria a boca de alguém que já beijou um homem.

“Fora as piadas de tom maldoso, que geralmente andam de mãos dadas com o ‘você tem mais opção pra beijar nessa festa, hein?!’ e os constantes convites para um sexo a três”, revela.

Perguntada sobre como seria um mundo justo no seu ponto de vista, ela deseja um lugar onde cada um toma conta da própria vida e não se tem a necessidade quase vital para alguns de interferir na vida dos outros. Cada um olhando um pouco mais pra si sobra menos tempo para julgar e se importar com a vida do outro.

O projeto Diversidade tem realização do GGB, produção Maré e parceria e criação de conteúdo Correio/Me Salte e Movida; e patrocínio do Grupo Big e Goethe Institut.

SERVIÇO:
19ª Parada do Orgulho LGBTQIA+ da Bahia
Quando: 5 de dezembro, sábado;
Horário: Das 18h até 20h.
Onde: ao vivo nos canais “Me Salte” e Jornal CORREIO* (Instagram, Facebook e Youtube);

PROGRAMAÇÃO COMPLETA:

Debates:

*Mesa 1 – Bichas pretas
Alan Costa – Formado em Letras Vernáculas pela UNEB, atua como produtor cultural e artístico na cena soteropolitana.
Ismael Carvalho – Criador de conteúdo digital, cofundador e diretor de criação da Preta Agência de Comunicação.

*Mesa 2 – Negras, lésbicas e masculinizadas 
Jandira Mawusí – Pedagoga pela UNEB, idealizadora do Coletivo Merê, é uma das representantes da Caminhada Contra o Ódio e o Racismo Religioso que acontece há mais de 15 anos em Salvador.
Bruna Bastos – Integrante do grupo de pesquisas Rasuras UFBA, pesquisa e estuda Letramentos de Reexistência produzidos por lésbicas negras. É idealizadora da página @sapatonaaentendida onde dialoga sobre lesbianidade e Afroperspectiva.

*Mesa 3 – Transexuais e travestis negras não trabalham apenas em salão 
Érika Hilton – Primeira vereadora trans e negra eleita de São Paulo. A mulher mais votada da cidade com 50.508 votos, pelo Psol.
Inaê Leoni –  Mulher trans, negra, baiana de Salvador.  Licenciada em Teatro da UFBa, em 2010, começou a estudar canto de modo sistemático.

*Performances artistíticas:

Matheuzza (atriz, educadora e pesquisadora nas questões de raça, sexualidade e gênero); Bagageryer Spilberg (apresentadora, transformista e realizadora de concursos de beleza); as cantoras Doralyce e Josyara; o rapper Hiran, uma das maiores identidades do rap nacional; e Malayka SN, que é DJ, visual artist e drag.

*Glossário LGBTQIA+

Lésbicas –  Mulheres que sentem atração afetiva/sexual por outras mulheres; 
Gays –  Homens que sentem atração afetiva/sexual por  outros homens; 
Bissexuais – Pessoas que sentem atração afetivo/sexual por homens e mulheres; 
Travestis, Transexuais e Transgêneros –  Não se relaciona com a orientação sexual, mas   identidade de gênero. Corresponde às pessoas que não se identificam com o gênero atribuído em seu nascimento; 
Queer – Pessoas que não se identificam com os padrões cis e heteronormativos;
Intersexo –  Pessoas cujas combinações biológicas e desenvolvimento corporal – cromossomos, genitais, hormônios, etc. – não se enquadram na norma binária (masculino ou feminino); 
Assexuais – Pessoas que não sentem atração sexual por outras pessoas;
Interseccionalidade –   Estudo da sobreposição ou intersecção de identidades sociais e sistemas relacionados de opressão, dominação ou discriminação;
Cisgênero – Pessoas que se identificam com o gênero atribuído em seu nascimento;

*Fonte da pesquisa: Educa Mais Brasil

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