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O péssimo exemplo de Marília Mendonça ao fazer comentário transfóbico durante live-show

Antes de mais nada quero começar esse texto dizendo que piada e chacota não devem ser desculpa para camuflar o preconceito. Dito isso, vamos aos fatos. A cantora Marília Mendonça deu um péssimo exemplo no último sábado (8) durante a transmissão de um show on-line ao reverberar o comportamento LGBTfóbico.

Marília, em tom de graça tal qual como se estivesse fazendo uma chacota lúdica, contou a história de um de seus músicos que havia frequentado a boate Diesel – tradicional clube LGBT de Goiânia. A situação transfóbica começou quando o tecladista que acompanhava a artista pediu Marília contasse a história de uma das músicas apresentadas no repertório.

“Sabe o que tô achando estranho. O que a gente combinou no ensaio, que a gente ia falar, não saiu nada ainda (…) eu sei que a próxima música aí tem história, e ninguém quer falar a história, é um acontecimento”, afirmou o músico.

Marília disse não se lembrar e começou a cantar “Sensível Demais”, sucesso de Chrystian & Ralf. No fina da música, contudo, a artista deu seguimento à prosa: “Eu acho que tô lembrada, foi quando um integrante nosso falou que tocava num lugar? Quem é de Goiânia lembra da boate Diesel, que tinha aqui em Goiânia.”, afirmou a cantora referindo-se ao espaço que era frequentado sobretudo por pessoas gays e mulheres transsexuais.

Os músicos da cantora começam, então, a dar risada em tom de galhofa. “E aí não vou falar quem e nem vou falar o porquê, vou ficar calada. Quem lembra da boate Diesel, lembra da boate Diesel. Disse… que lá foi o lugar que ele beijou a mulher mais bonita da vida dele. É só isso. O contexto vocês não vão saber”

O guitarrista da banda então diz: “Era mulher mesmo”. Em seguida, outro músico cita: “Calma, ninguém falou nada”, Todos riram a a live seguiu como se nada tivesse acontecido.

Veja o vídeo:

Imediatamente começou uma reação nas redes sociais onde muitos fãs foram reclamar da atitude da cantora sertaneja e a acusaram de transfobia. A modelo e youtuber Bruna Andrade fez um longo vídeo intitulado: “Marília Mendonça e a transfobia explícita. No vídeo eu mostro um exemplo claro de como a transfobia é naturalizada na nossa sociedade.”

Ao corroborar com a situação transfóbica Marília deu um péssimo exemplo. Ela é uma artista, tem visibilidade e sua voz tem eco em muitos lugares. Quando ela naturaliza esse tipo de situação como fez na live – assim como bem explicou Bruna no vídeo acima – ela deu amplitude a uma situação perversa que acontece todos os dias na nossa sociedade.

Não sei se Marília sabe – e acredito que agora já esteja sabendo – que o Brasil é o país onde uma pessoa LGBTQIA+ é morta a cada 23 horas, segundo dados do Grupo Gay da Bahia. A maior parte dessas mortes tem omo plano de fundo o crime de ódio motivado pela LGBTfobia. As pessoas transsexuais são as mais vulneráveis e têm uma expectativa de vida reduzida a 35 anos – 40 anos a menos do que o resto dos brasileiros.

Foi um péssimo exemplo e comportamento da artista. Na manhã desta segunda-feira (10), Marília Mendonça escreveu uma breve mensagem em seu Twitter pedindo desculpas. “Pessoal, aceito que fui errada e que preciso melhorar. Mil perdões. De todo o coração. Aprenderei com meus erros. Não me justificarei.”

Espero que a situação sirva de exemplo para reflexão. O pedido de perdão é o mínimo que seus fãs – que tem muuuuuuuuuuuitos LGBTs – poderiam esperar de você. Agora, vale, mas do que as desculpas, um posicionamento mais engajado da cantora nesse aspecto da diversidade. Palavras, infelizmente, o vento leva. O público LGBTQIA+ ama Marília pela sofrência de suas letras e não precisa que ela gere essa sofrência sendo algoz de comentários. Agora, o público precisa agora de ações verdadeiras e de coração da Marília Mendonça. Estamos de olho.

Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

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