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Anne Louise: conheça a advogada baiana que abraçou a diversidade e ganhou o mundo como DJ

Lésbica, soteropolitana, cidadã do mundo movida pela música eletrônica e porta-voz da diversidade. Advogada por formação, Anne Louise, 34 anos, nunca imaginou que pudesse através do trabalho como DJ chegar nos palcos dos mais importantes festivais do gênero no mundo. Doze anos depois de começar a tocar em festas de Salvador atingiu o topo da carreira: somente no mês passado tocou em 10 países de três diferentes continentes incluindo as maiores paradas LGBTQIA+: Nova Iorque, nos EUA e Toronto, no Canadá. 

Anne até tem um endereço fixo em Salvador, no Morro do Gato, em Ondina, mas vive a maior parte do tempo em hotéis. Só para você ter noção de como a vida dela anda cheia de embarques e desembarques: essa entrevista começou a ser feita quando ela estava em Dubai, nos Emirados Árabes, em meados de junho.  Até a última sexta, quando ela já estava em Salvador, nos falamos pela última vez para concluir a reportagem, nos falamos, via WhatsApp (única forma de conciliar tantos fusos horários) enquanto ela tocava para multidões em festivais da Bélgica, Canadá, Estados Unidos, França e México. 

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

“Esse ano me apresentei na World Pride, em New York. A cada ano é escolhida uma cidade para sediar as maiores caravanas, discussões e exposições sobre o movimento LGBTQIA+. Esse ano, em comemoração aos 50 anos da revolta em Stonewall, Nova York foi escolhida para sediar a World Pride e me sinto muito orgulhosa em ter feito parte desse movimento”, conta Anne que além de tocar nos festivais voltados ao público LGBTQIA+ animou festas importantes como os aniversários das marcas internacionais de eventos como a belga HIM e a portuguesa Together.

 

Como boa aquariana Anne mantém a inquietude de se transformar pela felicidade. Foi esse impulso que deu a guinada da sua vida. “Antes eu tocava no universo comercial da house music. Eu diria “hetero”. Mas não me sentia tão confortável tocando lá como quando me destino ao universo LGBTQIA+. Há cerca de 4 anos decidi mudar. Eu já era residente, em Salvador, do grupo San Sebastian que é voltado para a diversidade desde o início da casa há quase 10 anos. Mas quando decidi focar no universo LGBTQIA+ tudo mudou. Me senti segura para manifestar a música através de uma missão, o que me rendeu a alcunha de Missionária da Felicidade. Até recentemente tatuei isso em mim”, conta Anne que é a DJ residente mais antiga da San Boate, localizada no Rio Vermelho. 

Formada pela Universidade Federal da Bahia (Ufba), Anne se especializou na área trabalhista, mas nunca chegou a atuar na área. Desde 2015 foca apenas na sua carreira como DJ, mas já trabalhou com produção de publicidade e cinema nos três anos que morou no Rio de Janeiro. Sempre a discotecagem foi o plano B da sua vida, mas virou plano A em 2015. 

“Com o Direito nunca me senti tão preenchida quanto me sinto com a possibilidade de fazer as pessoas felizes através da música. Em geral, nós gays, vivemos uma vida árdua, recheada de preconceitos da sociedade, depressão e repressões familiares. A música virou o fluido perfeito para  tocar todas essas pessoas e fazê-las se preencherem no fim de semana com a felicidade necessária para voltar na segunda a trabalhar leves e dispostos a vencer na vida”, anima-se Anne que tem no seu coração duas apresentações especiais – o Carnaval de Salvador (a maior de todas) e Mykonos, na Grécia.  

Nos próximos três meses, Anne já tem compromissos fechados em sete diferentes países da América e Europa. Mas não abandona Salvador. Na capital baiana, na última sexta-feira, por exemplo, Anne lançou seu mais novo projeto: o selo de festas Chica Boom, que pretende levar para o mundo com as suas mais variadas inspirações que vão desde o produtor musical Armin Van Bureen, dos Países Baixos, à diva pop brasileira Anitta. 

“Acho que no meu universo já fiz tudo que queria entre me apresentar nos grandes circuitos e festas. Agora, estou numa fase de expansão para que eu seja mais importante para o maior número de pessoas do mundo inteiro”, projeta a DJ que também estudou Relações Públicas, 

Através do estilo house tribal, Anne conquistou seguidores mundo a fora além de ter trabalhado com artistas de grande visibilidade nacional como Claudia Leitte. Mas, sua conexão sonora vem de uma época onde sequer existiam aplicativos de música. “Sou da música desde muito nova. Estudei piano 7 anos e sempre tive isso em mim. Trabalhar com música foi só uma consequência dessa paixão tão avassaladora”, destaca Anne que quando estudava música clássica focava em grandes nomes do gênero como o austríaco Wolfgang Amadeus Mozart e o russo Piotr Ilitch Tchaikovsky. 

Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

A influência musical primária da DJ veio dentro de casa instigada pelo seu pai. “Desde nova sofri influência do meu pai que era músico de uma banda pequena. Ele parou quando começou como dentista, mas se manteve tocando em casa e em pequenos eventos. Quando eu estava mais velha foi inevitável ficar longe dos palcos e bastidores. Eu amava prestar atenção dos detalhes no bastidor da coisa”, conta Anne que tornou-se DJ depois de conhecer outros profissionais da área e fazer um curso, em Salvador, em 2003, como o DJ Oliver Jack & Roots. 

A vida profissional de Anne se mistura com a percepção de sua orientação sexual enquanto mulher lésbica. “Eu sempre fui feliz hetero. Eu simplesmente não entendia que existia algo melhor. Uma vez, com 21 anos, uma menina me beijou. Achei legal. Curioso e comecei a me permitir. Me senti muito melhor com mulheres do que com homens. Meu  início como DJ foi justamente no início das minhas experiências gays também. Então, como estava querendo frequentar alguns lugares assim eu me permiti tocar também. Sempre frequentei a todos ambientes com a mesma fluidez e naturalidade”. A primeira festa que tocou na vida foi a Friends Party, que foi seguida de uma apresentação na extinta boate Off Club.

Apesar da projeção internacional, contudo, Anne destaca que falta um reconhecimento financeiro das apresentações que faz nos eventos LGBTQIA+ comparado à cena eletrônica heterossexual. 

“Se eu fosse uma DJ hoje na cena hetero do mesmo jeito que eu sou para a cena LGBTQIA+ eu estaria ganhando até 20 vezes mais do que eu ganho hoje. São modelos de festas diferentes que fazem os eventos terem faturamentos distintos e isso acaba refletindo nos cachês”, explica a artista que também investe na formação de novos profissionais através da empresa CAL (Curso para DJs Anne Louise). A empresa, fundada em 2015, tem atuação em Salvador, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal. 

 

Aumente o volume, aperte o play e dance:

Próximas paradas…

14 – Gods Pool Party @ Goiânia/GO
20 – Labirinthus @ Bauru/SP
21 – Barbie Curitiba
27 – Zion – Chile
AGOSTO
10 e 11 – Hydrate @ Chicago – Estados Unidos
16 – Reserva Pride Montreal – Canadá
17- Jake Reniscow @ NYC – Estados Unidos
18 – TDance @San Francisco- Estados Unidos
24 – Xlsior @ Mykonos – Grécia
30 – Pride Calgary @ Canadá

SETEMBRO
1 – Prism Toronto – Canadá
21 – Malevo @ Argentina – Argentina
OUTUBRO
11 – White Room @ Cucuta Colômbia
12 – Industry @ Medellin Colômbia
13 – El Mozo @ Bogota Colômbia
26 – Micareta da SAN – Salvador (BA)

Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

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