Por Adriana Del Ré*
Se existe a máxima de que o artista transforma em arte o que está vivendo em seu presente, o novo disco de Lulu Santos, Pra Sempre, é a pura representação disso. O cantor e compositor de 66 anos tem um novo amor. No ano passado, o analista de sistemas Clebson Teixeira, na época com 26 anos, o cortejou pelas redes sociais. Eles se conheceram pessoalmente, assumiram o namoro também nas redes e, em abril deste ano, oficializaram a união. Em Pra Sempre, que será lançado nas plataformas digitais nesta sexta (24) Lulu conta, em 10 canções autorais – incluindo um remix e uma instrumental – e também na versão de The Look of Love, o passo a passo dessa história, como ele mesmo explica, ao jornal O Estado de S. Paulo.
Ele fala do início da paixão, em Tão Real; do amor ao companheiro em Orgulho e Preconceito – que dialoga com a canção anterior, Gritos e Sussurros; da repercussão que o namoro gerou no público, em Hoje em Dia; da importância de eles viverem aquele amor, que não deveria ofender ninguém, em Lava; e do estabelecimento da relação, em Pra Sempre. Com esse disco, ele inicia a turnê no dia 1º de junho, em Belo Horizonte, e se apresenta dias 28 e 29 de junho no Rio. Em São Paulo, será no dia 6 de julho, no Credicard Hall. De coração aberto e uma tranquilidade na voz, Lulu fala sobre amor, expectativas – e como isso refletiu em seu novo trabalho.
O amor é um tema importante em sua obra de uma forma geral. Pra Sempre é o disco em que você mais fala sobre amor?
É, sou o último romântico. O disco é o passo a passo, da primeira à última música que eu fiz, motivado por essa história que começou em abril do ano passado. Cada uma delas são estações da paixão. As canções só não estão nessa ordem no álbum, mas a primeira que eu fiz foi Tão Real, que é a terceira do álbum, e a última foi Pra Sempre. É do despertar da paixão até a conclusão que temos de morar juntos.
A história de vocês teve início em abril do ano passado?
Começa antes. A gente se conheceu no Instagram, por causa de um comentário que ele fez sobre o álbum Baby Baby!, das músicas de Rita Lee, Roberto de Carvalho e de outros parceiros. Ele escreveu: ‘Este álbum é magnífico’. Eu disse: “Magnífico? Quem fala uma coisa dessas hoje em dia?”. O caso realmente é de um em um milhão. A curiosidade foi mútua, até determinado momento em que, na primeira conversa por telefone que a gente teve, assustado, perguntei: ‘O que você quer?’. E ele falou muito claramente: ‘Quero você’. Tive de pedir para ele moratória: não posso lidar com isso neste momento da minha vida, tem muita coisa acontecendo. E ele respeitou. Dez dias depois ele reapareceu, comentando o filme Corra!, que eu tinha recomendado. O disco descreve da primeira canção à última esse passo a passo do envolvimento. Por isso, ele é intensamente romântico. O disco é para Clebson Teixeira.
Você começou a compor quando?
Em abril, talvez maio.
Você estava casado na época?
Estava, fui casado com outro homem durante 14 anos. Mantive essa relação também estável, percebo hoje que por mais tempo do que teria sido recomendável.
Então, você já estava no fim da relação?
Já, estava bastante difícil, aqueles 14 anos que depois você olha para trás e bastavam 14 meses. Tem tantos elementos ali, medo de solidão, mas, ao mesmo tempo, provavelmente da minha parte dificuldade mesmo de dizer: isso não está bom para mim. Demorou muito tempo para eu me convencer, precisou uma outra luz vermelha acender, para eu ver ‘é isso que estou buscando’, essa forma de expressão da paixão. Acho que sou o penúltimo romântico, o último romântico é ele.
Apesar de não estar na ordem que foram escritas, a primeira canção do disco, Radar, fala do momento do arrebatamento?
É aí que está, Radar é a compreensão do que estava me acontecendo, já é posterior. Arrebatamento é Tão Real. Radar escrevi junto com ele. Ele estava na minha casa, a gente já estava no convívio, não é mais tanto sob o impacto porque já descreve não o que a outra pessoa estava causando a você, mas o que estava acontecendo com você. O próprio motor da criação vai azeitando durante o processo. Algumas das músicas ainda têm um pouco do formalismo da minha composição anterior, e não tem muito por que e nem como escapar do jeito que me expresso.
Quais músicas estão mais ligadas a esse tipo de composição?
Gritos e Sussurros é a que tem mais os elementos: a guitarra havaiana, a canção ensolarada.
Como a regravação de The Look of Love entrou no disco?
Conheço desde Casino Royale, filme que a lançou na década de 60. Quem a popularizou foi a Dusty Springfield. É sobre uma visita que a gente fez a Inhotim, onde tem uma obra, é um pavilhão circular fechado: você entra por uma porta, ele é todo forrado de espelhos e toca The Look of Love. E o que aconteceu é que eu nunca tinha sido tirado para dançar. Fui tirado dentro da instalação, ao som dessa canção. Foi lindo.
Vocês levaram a relação a público em julho, não?
Foi no The Voice, no meu perfil… Não, primeiro postei as fotos do helicóptero. A gente passou o fim de semana junto, foi muito intenso. Na ida para Belo Horizonte, ele já no helicóptero postou aquela foto. Antes, eu perguntava para ele: ‘Quando é que você vai ter no feed de seu Instagram foto de nós dois?’. Ele dizia: ‘No tempo certo’. Estou sempre um pouco pressionando, ele tem 27 anos agora, eu não tenho. Não posso querer nada mais do que ele queira. E mesmo a coisa de morar junto, já virou música, mas a gente continua morando em cidades separadas. Ele continua trabalhando em Belo Horizonte. E a gente dividindo nosso tempo entre BH e Rio. Eu gostaria que a gente viesse para o Rio para depois decidir alguma outra coisa. Ele sabe disso. Ele fez a postagem, ele é o protagonista, ele fez o pedido de casamento. A finalização também tem de ser dele.
Eu ia perguntar se vocês pensam em adotar filhos, mas talvez não estejam ainda na etapa de pensar nisso…
Não estamos nessa etapa. Ele gosta muito de criança, tem sobrinhos. Vamos ver. Ele não propôs nada. Estou aí, já criei outros.
Depois que ele fez a postagem de vocês dois juntos, qual música você fez na sequência?
Provavelmente o que veio depois da postagem foi Ser ou Não Ser, que fala sobre a expectativa, estar vivendo uma incerteza. Esse é o tema da vida da gente. E veio depois a Lava.
Pergunto porque vocês tiveram um acolhimento grande…
Sobretudo das mulheres, que são românticas, e que gostam de ser testemunhas do romance.
Mas ao mesmo tempo em que as pessoas deram força…
Tem o outro lado.
E isso também está nas músicas. Você falando muito disso, que não se importa com que os outros dizem…
Como uma resposta a quem se incomodar. “Não vou me lixar/Pro que possam dizer/Julgue quem julgar/Se roa a quem roer” (ele cita trecho da música Lava).
Não entro em discussão, é perda de tempo e energia. É uma coisa que aprendi com o Obama. Sei de onde aquilo está vindo, sei o que formata aquele pensamento, e a gente viu que o País em massa fez uma escolha por esse tipo de pensamento, por mais que agora alguém possa estar perplexo. Espero que estejam mesmo. A gente convive com isso na vida, nas relações, não tem mistério, e ao mesmo tempo eu que já tive essa relação anterior, qualquer pessoa que me conhecia, que trabalhava comigo, sabia. Você não pode dialogar com um conceito como a homofobia. Não tem conversa
Isso em rede social, e na vida real?
A gente não experimentou até agora mais do que carinho, claro que você sente um ar de alguma coisa que está querendo ser expressada, mas a parte do carinho é tão mais presente.
Pensando no outro lado, existe cobrança de você ser a representatividade da causa, a bandeira?
Não me compete, porque ativismo não me comove, pacifismo tampouco. E, ao mesmo tempo, apenas tomando as atitudes que a gente tomou já é tanto ativismo, porque o que a gente fez não foi para dentro do gueto, foi no seio da sociedade, não foi pregar para convertido. Foi apenas vivenciar o amor.
*As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.