Por Clarissa Pacheco
É sério, aquele lugar é um hino! Um exemplo de resistência, de orgulho, de posicionamento que a gente devia estampar por aí e divulgar. Tem protesto, música, poesia, afronte e, sobretudo, verdades. Muitas verdades que precisam mesmo ser ditas. Verdades sobre respeito às mulheres, aos gays, sobre empoderamento, combate à homofobia e ao machismo. As paredes do CAHL reúnem de tudo. Tem até uma menção a cupcakes, quase de frente a uma frase que pede justiça para Mariele Franco e outra que fala sobre a presença de Deus no lugar.
No andar de cima, sacadas bem humoradas de defesa aos “ervoafetivos” e um pedido de socorro que, tenho certeza, passa pela cabeça de muitos estudantes: “Não deixem a universidade atrapalhar seus estudos”. Circulei por lá durante dois dias e a cada passo, uma nova descoberta. “As melhores são no caminho da biblioteca”, disse um rapaz, ao ver a minha cara e dos meus três colegas, registrando tudo.
Não dá para dizer que o pátio do CAHL não seja a imagem de uma comunidade que vive a universidade e que deixa ali suas certezas – e incertezas – seus protestos, suas dores, frustrações, mas também sua alegria, a empolgação de dizer o que se sente e de se sentir representado no que o outro colocou ali. Mas, certamente, parte da comunidade não convive bem com aquelas paredes.
Como imaginei, o Centro de Artes que empolga olhares como o meu, que me senti tão representada em muitas daquelas frases, é motivo de repulsa para outros. O ‘Reverso Online’, publicação do curso de Jornalismo da própria UFRB, trata da polêmica. O texto de Magno do Rosário mostra os posicionamentos distintos sobre o assunto. De um lado, estudantes como Fernanda Abreu, de Artes Visuais, que não enxerga um Centro de Artes com paredes brancas.
“E como assim um centro de artes com as paredes todas brancas, sem arte, sem nada sendo exposto? As pessoas precisam ter uma transformação”, disse ela à Reverso Online. Na mesma reportagem, o ator Cláudio dos Santos mostra outro ponto de vista: “Se eu, como visitante, me senti envergonhado ao circular pelo local, imagino também a decepção de outras pessoas que aqui chegam”.
Há, inclusive, pedidos para que a direção do Centro pinte as paredes, removendo as intervenções feitas no local. No final de 2015, a direção do CAHL divulgou uma nota em que afirmava ser “sensível às questões de gênero, de diversidade sexual e de raça, no combate ao sexismo, ao racismo, à LGBTfobia e às tantas outras formas de opressão, discriminação e desrespeito”. No entanto, dizia “desaprovar a ação empreendida nas paredes”.
Ao que parece, as intervenções ganharam apoio da atual direção. Mas, com o sem aval, fato é que Centro de Artes da UFRB permanece chamando a atenção, reverberando a voz de quem está ali todos os dias, vivendo, sentindo.