O mestrando em história Ailton José dos Santos Carneiro apresentará na próxima segunda-feira (17), às 14h, o resultado de sua pesquisa de mestrado no programa de pós-graduação em História da Universidade Federal da Bahia. O tema da pesquisa é: “Homossexuais em trânsito: representações, militância e organização política homossexual na Bahia (1978-1988). A apresentação acontecerá na sala da congregação, no pavilhão Raul Seixas, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da Ufba.
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A produção de uma identidade coletiva homossexual e a organização de uma militância em defesa da homossexualidade na Bahia nas décadas de 1970 e 1980 são os elementos constitutivos desta pesquisa. Nesse sentido, este trabalho tem como escopo discutir como se deu o processo de agitação político-cultural e formação de um movimento homossexual organizado em Salvador no período de abertura política e redemocratização do Estado brasileiro, de 1978 a 1988, dando-se grande ênfase a atuação do Grupo Gay da Bahia (GGB).
Para tanto, faz-se uso de uma revisão bibliográfica acerca da temática, de uma análise de documentos – estatutos, boletins informativos, livros e folhetos produzidos pelos militantes homossexuais, jornais da época – que compõem a narrativa sobre esse passado, e de fontes orais que através da análise de discursos, reverberam toda a gama de representações, práticas e tensões envolvendo esses agentes históricos. A importância de tal abordagem parte ainda da concepção de que o movimento homossexual, por meio de sua atuação, desloca uma série de significantes e significados, bem como de representações, atribuídos aos amantes do mesmo sexo. Com isso, trata-se de mais uma tentativa de inserir a problemática da homossexualidade na historiografia numa prospectiva de luta contra as práticas e os discursos heteronormativos dominantes na sociedade.
Ao esmiuçar essa agitação político-cultural em torno da homossexualidade em Salvador no final dos anos 1970, pudemos perceber um aumento dos espaços reservados à prática da homossociabilidade e homoerotismo na cidade, uma certa classificação dos sujeitos que desfrutavam dos prazeres com o mesmo sexo, uma ampliação da visibilidade homossexual
e o início de uma politização da homossexualidade na capital baiana. No rastro desses sujeitos individuais e coletivos, tais como o estilista Waldeilton Di Paula, editor dos periódicos “Little Darling” e “Ello” voltados para a cena artístico-cultural homossexual baiana deste período; as peças produzidas pelos grupos de teatro baianos, como o “Teatro Livre da Bahia”, que retratava a homossexualidade por um viés de contestação política; os anarquista do O Inimigo do Rei que publicava em seu jornal homônimo matérias valorizando o amor livre; os membros homossexuais do MNU baiano que, posteriormente, juntamente com outros rapazes negros, formaram o Grupo Adé Dudu; e outras incursões no cotidiano da cidade provocadas pelos amantes do mesmo sexo.
Já a partir de 1980, vimos como foram constituídos os grupos organizados de homossexuais em Salvador e quais foram as relativas inovações provocadas por esses militantes baianos no Movimento Homossexual Brasileiro. Neste momento, tem destaque uma série de táticas políticas implementadas pelo GGB, muitas delas já pensadas pelos primeiros grupos de
homossexuais da década de 1970. Da mesma forma, e até certo ponto, o grupo Adé Dudu inovou essa dinâmica ao enfrentar a dupla discriminação direcionada aos negros homossexuais no Brasil.
A militância do Grupo Gay da Bahia, no trabalho, foi dividida em duas partes. Tal divisão, de caráter mais didático, partiu da compreensão de que, na primeira metade dos anos 1980, o GGB se esforçou por uma maior conscientização política dos homossexuais e pelo direito de lutar pelos seus direitos civis, adotando uma novo estilo de militância política, aproximando-se do gueto homossexual e retirando a homossexualidade do Código de doença do INAMPS para inserir no campo político, enquanto que nos anos de 1985 a 1988, o grupo partiu de uma maior politização da homossexualidade na Bahia e no Brasil, para tomar a dianteira da luta contra a discriminação homossexual, tanto na esfera da sociedade civil quanto no âmbito do Estado, assim como começou a vislumbrar no contexto da implantação de um Estado Democrático de Direito e de uma epidemia do “HIV/AIDS” no país, na segunda metade da década de 1980, a possibilidade de uma maior participação política e ampliação dos direitos civis e sociais dos homossexuais.
Por fim, essa é uma história possível das lutas homossexuais na Bahia, nas décadas de 1970 e 1980.