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“Vai ter bicha no rap sim!”; conheça o coletivo Quebrada Queer

Por Kelven Figueiredo*

O rap ficou mais colorido e democrático com a chegada da primeira Cypher (faixa de rap que reúne um grupo de rappers colaborando sob uma mesma temática) LGBTQ+ de rap. O grupo Quebrada Queer conta com seis integrantes: Murillo Zyess, Guigo, Harlley, Lucas Boombeat, Tchelo Gomez e a mais nova integrante produtora e DJ Apuke.

O single homônimo ao coletivo ganhou a internet no último dia 04/06 e deu o que falar justamente porque coloca o dedo na ferida e denuncia a homofobia na cena do rap. Os versos que retratam a trajetória de cada integrante tanto no meio artístico quanto em suas histórias de vida caíram no gosto do público e a faixa foi parar na primeira posição da playlist Viral do Spotify. Além disso o clipe da música já conta com mais de 800 mil visualizações no YouTube.

A faixa apresenta de cada integrante do QQ e mistura o Rap com Hip-Hop-, R&B, e até mesmo o Pop. Confira toda história do coletivo que promete causar não só com close, mas com muita luta também na cena do rap brasileira.

Me Salte: Como é ser gay na cena do Rap?

Quebrada Queer: (Harlley) É viver no invisível, sabe? É viver fazendo rap, mas não ser reconhecido pelo seu trabalho porque os caras da cena não querem te olhar, nem te ajudar. Eles não querem reconhecer que você faz música igual a eles. Porque se você é gay, não tem que tá fazendo rap, tem que fazer pop ou qualquer outra coisa.

MS: De onde surgiu a ideia de montar essa cypher?

QQ: (Tchelo) “Apesar dos trabalhos já lançados, de não sermos pioneiros, sentimos que ainda faltava algo e como não existia no mundo um grupo de rap LGBTQ+ viemos com pé no peito pra mostrar que todos são capazes.”

MS: Por que vocês escolheram esse nome para o grupo?

QQ: (Tchelo)  Esse nome tava muito na minha cabeça. Logo quando decidimos fazer a cypher e logo depois o coletivo, a gente precisava identificar o grupo e aí eu coloquei logo de cara Quebrada Queer. Na minha cabeça fazia muito sentido porque a quebrada é de onde nós surgimos e o queer é um termo que identifica a gente. Além disso a fonética ficou muito boa também. E o nome que era pra ser um nome provisório, quando a gente se juntou para discutir todo mundo concordou e disse “eu acho que é isso mesmo e não tem que mudar”. Eu acho que isso já estava escrito, não por mim, mas o Quebrada já existia antes mesmo da gente dar um nome.

MS: Como vocês se conheceram?

QQ: (Murillo Zyess) Eu já conhecia o Guigo e o Harlley, porque participei do EP solo de cada um deles. Com o Tchelo, eu tinha um contato maior pela internet apenas, mas participei de um evento que ele organizou, e o Lucas eu trombei em show que eu participei, ele também estava participando, cantando, daí eu passei a acompanhá-lo mas não conversávamos. Comecei a planejar a ideia da música com o Harlley, e levantamos alguns possíveis nomes para participar.

Queríamos muito dar esse start numa cypher de rap gay. Porque apesar de existirem muitos artistas LGBTQ+ na cena, não existia essa cypher, e foi quando eu lembrei do Lucas, em evento que vi ele rimando e tal, daí o convidei. O engraçado foi que na mesma semana o Tchelo me mandou mensagem me convidando pra participar de uma cypher gay que ele queria montar. Aí a gente só uniu as ideias.

MS: Todos vocês já tinham projetos solo. Estes projetos devem continuar ou vocês vão se dedicar apenas ao QQ?

QQ: (Guigo) “Nosso plano é seguir com o coletivo e nos dedicar a ele. Alguns de nós ainda temos algumas pendências em nossas carreiras solo, mas a prioridade agora é o Quebrada.”

MS: Vocês esperavam toda a repercussão que o vídeo teve?

QQ: (Tchello) “Em partes sim. Esperávamos um ‘boom’ local, a soma do nosso público e tals. Mas foi muito mais do que esperado. Estamos em todo o brasil, recebemos milhares de mensagens nas redes sociais, a galera até já sabe a letra de cor. Com menos de 1 mês de lançamento aconteceram muitas coisas boas.”

MS: Como se deu a divisão dos versos?

QQ: (Guigo) O mais legal desse som é exatamente isso. Nós combinamos de fazer uma parceria, mas nunca combinamos o que seria dito nessa música. Na real, cada um na sua casa, no seu canto, começou a compor o som. Não teve isso de decidir um tema. Cada um ali conta muito das suas experiências, do que acha e do que vê. Não dá para dizer que foi colaborativo porque não sentamos juntos para escrever, mas acabou sendo colaborativo porque cada um colocou um pouco de si dentro da música.

MS: Vocês pretendem experimentar outros ritmos em trabalhos futuros?

QQ: (Lucas) E acho que esse processo vai acontecer naturalmente até porque nós somos um coletivo de artistas bem diverso. Até dentro do nosso próprio jeito de fazer rap somos muito diferentes um do outro, mas tudo se encaixa no fim. Acho que esse processo de arriscar em outros estilos vai rolar até porque somos muito livre para experimentar outros estilos.

MS: Vocês já estão trabalhando em um novo single? Como ele vai soar?

QQ: (Apuke) É algo pra cima, dançante que tem a construção brasileira envolvida. Nós já temos 70% concluído e será uma parceria. Isso é tudo que a gente pode revelar até então.

MS: Vocês têm alguma dica para quem é da comunidade LGBTQ+ e tem o sonho de fazer um projeto no rap?

QQ: (Murillo) Não se limite e não leve em consideração qualquer tipo de opressão que você venha sofrer por ser LGBTQ+ no rap. Eles até podem dizer que você não pertence, ou que isso não é pra você, mas isso é um dos maiores equívocos porque é justamente o contrário. O rap te abraça e é contra qualquer tipo de preconceito. Você que gosta do gênero, que quer fazer e estar na cena saiba que o rap te acolhe e você só precisa correr atrás e não deixar de acreditar nos seus sonhos que as coisas acontecem.

*com supervisão do editor Jorge Gauthier 

Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

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