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Tire suas dúvidas sobre o processo transexualizador e saúde da população LGBTQIA+

Salvador ganhou na semana passada uma clínica especializada na saúde da população LGBTQIA+, a Clínica Plural – Assistência Integrada em Saúde e Gênero, localizada na Avenida Garibaldi. Integrante do quadro de saúde da clínica, a psiquiatra Larissa Freitas, 32 anos, atende as demandas em psiquiatria relacionadas à essa população e também às demandas ligadas ao processo transexualizador. O Me Salte bateu um papo com a médica e tira dúvidas sobre a saúde da nossa população e também sobre o processo transexualizador.

+ Quais as especificidades no cuidado da Saúde das pessoas LGBTQIA+?

A população LGBTQIA+ é minoria no país, cerca de 10%, e por estar inserida numa sociedade homofóbica (que os trata como anormais ou inferiores), frequentemente tem seu acesso à saúde dificultado ou negligenciado. A população LGBTQIA+, embora unida nesta sigla, acaba por ser bastante heterogênea, e cada caso precisa ser avaliado em suas particularidades. Indivíduos transexuais podem requerer necessidades associadas ao processo transexualizador, como hormonização e procedimentos cirúrgicos específicos não demandados pela população cis homossexual, por exemplo.

No entanto, grande parte das demandas de saúde dessa população é semelhante à da população geral – cis heterossexual – consultas clinicas de rotina ou por agravos comuns à saúde. O que ocorre é que nos serviços de saúde tradicionais este público é alvo frequente de preconceitos, que vão desde olhares de desaprovação à violências verbais mais explícitas, o que faz com o que tenham mais receio em procurar ajuda. Ocorre também nestes serviços, desinformação por parte dos profissionais, que não compreendem as particularidades do universo LGBTQIA+ e muitas vezes não conseguem proporcionar um ambiente acolhedor para que o paciente se sinta à vontade para expor suas queixas.

+ As pessoas transexuais e travestis sofrem bastante com os preconceitos nos serviços de saúde. O que pode ser feito para mudar essa realidade?
O primeiro passo é o interesse e disposição do profissional que vai ofertar o serviço em conhecer mais sobre o universo LGBTQIA+ e suas particularidades. Isso sendo contemplado, esses indivíduos precisam ser informados, através de palestras, workshops, cursos, vivências acerca do tema e colocar em prática este conhecimento teórico no ambiente no qual trabalham. Algo simples de ser implementado e de grande impacto para quem faz uso o serviço, é o respeito à utilização do nome social adotado pelas pessoas trans e travestis. A Plural planeja realizar sessões científicas e de discussão sobre os diversos temas relacionados à saúde da população LGBTQIA+ com o objetivo de multiplicar a rede de pessoas interessadas em atender esses indivíduos cada vez melhor.

+ Em função do preconceito muitas pessoas trans acabam fazendo procedimentos não autorizados de injeção de hormônios, por exemplo. O que isso pode provocar no corpo?

A utilização de hormônios de forma inadequada e sem acompanhamento de endocrinologista pode trazer complicações cardiovasculares, como a trombose, por exemplo, que pode evoluir com graves desdobramentos.

+ Quanto tempo demora e de que forma é feito o procedimento de hormonização em pessoas trans?*

Num primeiro momento o indivíduo é submetido a uma série exames para avaliar seu estado atual de saúde e são explicados os prós, contras e limites deste processo. Muitas pessoas chegam já usando hormônios de forma empírica, então é necessário ter uma ideia do status de saúde daquele indivíduo antes de iniciar com a medicação. Uma vez iniciado o processo, há um acompanhamento e progressão de dose conforme resultado obtido e necessidades individuais até que se chegue numa fase de platô.

A endocrinologista vai estabelecer caso a caso a periodicidade das consultas de retorno para acompanhamento. O tempo de uso do hormônio é indeterminado, pois o ele nunca será produzido naturalmente por aquele indivíduo e com a interrupção do seu uso pode haver regressão de algumas modificações corporais adquiridas.

+ De que tipo e de que forma são feitas as cirurgias de redesignação sexual? Quanto custa em média ?
Existem várias técnicas utilizados na cirurgia de redesignação sexual para mulheres trans e a escolha depende de diversas variáveis. Atualmente uma técnica muito usada é a da “inversão peniana”, na qual a vagina é construída a partir do tecido do pênis do indivíduo, proporcionando um resultado bastante satisfatório. O preço varia conforme o hospital onde será realizada a cirurgia e o tipo de técnica utilizada e deve ser tratado diretamente com o cirurgião.

+ O que a pessoa precisa fazer antes e depois da cirurgia no sentido do cuidado físico e psicológico?
É necessário que o indivíduo esteja saudável física e psiquicamente é que tenha trabalhado em terapia sobre o significado da cirurgia de redesignação sexual em sua vida. No período pré cirúrgico ele necessita conhecer os prós e contras do procedimento, tirar as suas dúvidas, avaliar os riscos que ele oferece. No pós-operatório é importante seguir com o apoio psicológico, cuidar da alimentação, seguir as orientações dadas pelo cirurgião (curativos, repouso, consultas de revisão) e realizar as sessões de fisioterapia pélvica para obter o resultado desejado. Trata-se de um procedimento bastante complexo do ponto de vista técnico, com grande modificação física e também repercussões psicológicas, assim como a cirurgia bariátrica por exemplo, por isso a necessidade de um acompanhamento longitudinal de cada caso.

Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

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