No caminho para o trabalho, Renata*, de 30 anos, presenciou um homem se masturbando dentro de ônibus em Salvador. Infelizmente, o crime de atentado ao pudor que a manicure sofreu é muito comum na capital baiana e é mais um reflexo da sociedade machista em que vivemos.

Em entrevista ao CORREIO, ela contou que o medo de sofrer um assalto no coletivo foi substituído por muitos outros sentimentos: vergonha, desconforto, tristeza, raiva “ e, principalmente, o medo do estupro; o medo de sofrer uma violência simplesmente por ser mulher. Não importa se foi físico ou não. Mas eu não sou obrigada a participar desse ato sexual dele. Me senti constrangida, me senti abusada. Eles são homens e acham que é normal. Não é o caso de todos, mas a grande maioria faz dessa forma e a gente que fica violentada”, afirmou.

Nas redes sociais, dezenas de mulheres repercutiram o caso e relataram que o medo do estupro é comum entre elas. A psicóloga Ariane Senna, de 25 anos, primeira mulher transexual de Salvador, por exemplo, revelou que diariamente busca estratégias para não ficar perto de homens nos coletivos. “Enquanto mulher trans, me sinto mais amedrontada ainda. Se nem as mulheres cis eles respeitam (e o caso também não dá em nada), imagina eu. Vivo diariamente buscando estratégias para andar nos ônibus como mudar de lugar, à  s vezes ficar em pé, à  s vezes sentada, outras vezes nas escadas das portas e por aí vou. Também vejo que muitas pessoas veem os assédios, mas fingem que não veem”.

Em entrevista ao Me Salte, Ariane disse que passa por tudo isso diariamente não por ser trans. “Mas porque primeiramente sou mulher. E as mulheres, em nossa sociedade, ainda são vistas como objetos sexuais”, pontuou. A psicóloga acredita que todos precisamos nos atentar para os machismos a nossa volta e nas nossas próprias casa. “Precisamos começar a lavar as roupas sujas dentro de casa. Devemos começar a nos perguntar como andam nossos maridos, nossos filhos e parentes masculinos e entender a base hipócrita da nossa sociedade. Esses que nos assediam são os que reprimem e expressam ódio na frente de suas companhias também”, completou.

Ariane Sena2

Para Ariane Senna, as mulheres são vistas como objetos sexuais

Em postagem no Facebook, outras mulheres contaram que vivenciaram casos parecidos – que incluem desde masturbação até as chamadas encoxadas. “Já aconteceu comigo. Eu estava esperando o ônibus na Estação do Iguatemi e um rapaz encostou por trás e esfregou o órgão genital. Eu fiquei chocada e indignada ao mesmo tempo”, contou a leitora Ana Claudia Protasio, em postagem no Facebook. 

Outra leitora, Larissa Cerqueira, também desabafou no post. “Ele sentou do meu lado e fez isso. Entrei em pânico, ele queria me seguir. Sorte que tinha um conhecido no mesmo ônibus e me acompanhou até onde eu iria. Foi horrível”, disse. 

Morena Munford, que segue o CORREIO no Facebook, disse que já foi encoxada no ônibus algumas vezes. “O rapaz dentro do ônibus se esfregando e não pude fazer nada. Se eu fizesse alguma coisa, ninguém ia acreditar. O medo foi tanto que fiquei pensado se eu gritasse ele ia descer no mesmo ponto e fazer maldade comigo. Preferir ficar calada”, contou.

*Nome fictício / **Com informações de Thais Borges

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