Cantora, atriz, vedete, maquiadora, jurada, modelo. De todas as profissões que exerceu em 74 anos de uma vida que chegou ao fim na noite de ontem no Rio de Janeiro. Rogéria preferia mesmo era chamada de artista. A informação de sua morte foi confirmada ao jornal Folha de S. Paulo por sua amiga de mais de 50 anos, Eloisa dos Leopardos.

“Fiquei sem ação. Estou em estado de nervo. Uma amizade de 50 anos”, disse Eloisa, que contracenou com Rogéria no documentário Divinas Divas. Nascida em Cantagalo (a 200 km do Rio) em 1943, Rogéria cresceu na capital do estado (e então do Brasil), onde teve contato com as artes desde criança. Inspirada pelas vedetes de revistas, entrou no teatro. Começou a carreira na coxia, maquiando. Até que, incentivada por Fernanda Montenegro, voltou os pincéis de maquiagem para o próprio rosto.

Rogéria usava o epíteto A Travesti da Família Brasileira para falar de si mesma, muitas vezes na terceira pessoa. Um título que conquistou com centenas de horas de horário nobre. Esteve em Viva a Noite, Tieta, A Grande Família, Sai de Baixo, Malhação, e invadiu casas do Oiapoque ao Chuí com seu gênero que embaralhava definições e mentes –ela se identificava como transformista, mas concedia liberdade poética: “Pode chamar de bicha mesmo”.

No Brasil, participou de shows, filmes, novelas. Foi vedete de Carlos Machado (“As pessoas nem sabem mais quem foi ele”) e, em 1979, venceu o Mambembe (importante prêmio criado pelo Ministério da Cultura e que distinguia as melhores produções do eixo Rio-São Paulo), por O Desembestado, peça com Grande Otelo. Enfrentou a ditadura fazendo espetáculos transgressores numa época de muita censura. Sobreviveu a tudo e a todos. “Dores, só de amores, que foram muitos.”

O público classe A sempre a admirou e respeitou, como artista. Fez o crossover. “Fiquei uns dias em São Paulo para lançar o filme (de Leandra). Botava tênis e ia ao supermercado. Das caixas aos funcionários, às donas de casa e aos senhores na fila, todo mundo queria fazer selfie comigo. O povo me ama. Sou vitoriosa.” Nunca foi de fazer passeata por direitos de gays, mas sabia que sem seu pioneirismo, e das demais divas, o movimento LGBT talvez não tivesse avançado tanto no País.

Nunca se esqueceu do que lhe disse a mãe. “Se você vai ser mulher, que seja de classe. Prostituta, não.” Respondeu a uma pergunta indiscreta do Estado – já que nunca operou, xixi sentada ou de pé? “Depende da disposição. Mas se faço de pé, levanto a tampa. Homem é muito porco, mija tudo. E eu seco. Essa história de última gota não é comigo não.”

No teatro, além de vedete de Carlos Machado, participou, em 1976, da peça Alta Rotatividade, na qual contracenava com comediantes como Agildo Ribeiro (com quem dividiu um talk show durante vários anos) e Ary Fontoura.

Em 2007, Rogéria voltou ao palco como um dos destaques de 7, O Musical, dirigido por Charles Möeller e Claudio Botelho. Ela dividiu a cena com Zezé Motta, Eliana Pittman, Alessandra Maestrini, Ida Gomes, entre outros. Participou ainda, em 2004, ao lado da atriz Camille Ka, da peça Divinas Divas, no Teatro Rival, do Rio. A produção inspirou o documentário dirigido por Leandra Leal.

Todas suas histórias foram narradas no livro Rogéria – Uma Mulher e Mais Um Pouco, biografia lançada em outubro de 2016, pela editora Sextante. Foi escrita por Marcio Paschoal, amigo e vizinha de Rogéria no bairro carioca do Leme.

Veja, em imagens, momentos marcantes da carreira de Rogéria>>>>

 

*Pesquisa de imagens: Sora Maia/CORREIO

5 de setembro de 2017

Relembre momentos marcantes da carreira de Rogéria, que morreu aos 74 anos

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