* Por Ed Vasco

Há um modo de fazer Design e Arquitetura genuinamente brasileiro? Ou só copiamos as tendências europeias? O design brasileiro é reconhecido por quais características? Estas perguntas me “assombram” há muito tempo.

Sinceramente? Ainda busco as respostas e talvez, essa minha busca seja uma mola propulsora de minha curiosidade, tentativa e, principalmente, coragem em fazer Arquitetura e Design Brasileiro.

Este ano visitei pela quarta vez a Feira de Design em Milão, na Itália. O evento, que aconteceu entre os dias 4 e 9 de abril, é referência internacional no setor, ditando tendências para profissionais em todo o mundo. Entre todas as edições que participei como visitante, ouso dizer que a deste ano foi a que trouxe mais elementos da cultura brasileira para os ambientes recriados. Isso mesmo: a tão famosa e inspiradora Feira de Milão apresentou como uma das tendências do design de interiores a brasilidade.

Na verdade, o evento há anos vem com forte tendência nas paletas naturais e tons amadeirados, uma contraposição ao avanço tecnológico e das relações baseadas e geridas através da internet. Esta volta do “pé no chão” não é uma tendência e veio para ficar. Uso de cores pastéis, mandacarus e cactos compondo a maioria dos stands e lojas provam que a arquitetura do “menos é mais” está mais “in” do que nunca.

E onde se insere o Brasil e seu design neste contexto? Ora, a terra da mistura, da maior floresta tropical do mundo e onde tudo e todos se encontram voltou (se é que saiu um dia) a estar na moda. O Brasil é “cool” em Milão, com sua profusão de estampas e plantas tropicais (bananeiras, helicônias e, acreditem, até árvores como mangueiras estavam nos stands), cores e, principalmente, a mistura.

A ordem agora é misturar. Não precisa ” combinar”. Misture, use sua criatividade e harmonize. Quer algo mais brasileiro do que a mistura? Uma palavra brasileira difícil de explicar para os estrangeiros é a gambiarra. E o que tinha de gambiarra na feira de Milão! Uso de materiais e conceitos inusitados e bem-humorados tornam o design e arquitetura canais de escape para essa vida corrida, virtual e pouco sentida, onde as relações se dão por meios de aplicativos e sites. Arquitetura e design agora tentam aproximar as pessoas.

Reconheço como design brasileiro a mistura. Misturamos tudo: Informação, materiais e todo caleidoscópio de culturas, que fazem do Brasil uma aldeia global de experimentações e, principalmente, uma tentativa – muito boba, por sinal – de mostrar-se europeu. Ora, não somos europeus. Aliás somos também europeus. Mas olhemos para a África com seu geométrico sofisticado e, melhor, olhemos para o interior do Brasil, onde o saber indígena muito tem a ensinar ao mundo, e aí sim, quanto mais local, mais global seremos, pois o mundo está carente e sedento do que é genuíno e autêntico.

Da minha parte, neste meu DNA de bisavó escrava africana, avô português, e por minhas veias, creio eu, indígenas, vou empregando o “Made in Italy” com dendê, fado, bossa e muita, mas muita marra.

* Ed Vasco é arquiteto e designer de interiores, e já assinou mais de 470 projetos em diversas cidades da Bahia. Entre as principais características do seu trabalho, está a inspiração na arquitetura contemporânea internacional, aliada ao conceito de brasilidade, respeitando as particularidades locais e opinião de cada cliente.

18 de abril de 2017

[Opinião] Elementos da brasilidade brilham na Feira de Design de Milão

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