Por Clarissa Pacheco (clarissa.pacheco@redebahia.com.br)
Imagine ter uma ideia em mente, o projeto de fazer um curta metragem que, além de satisfazer o desejo de produzir conteúdo artístico, ainda trouxesse representatividade, satisfação pessoal e profissional a todo mundo que estivesse envolvido. Imaginou? Agora pense que esse projeto não saiu do papel por conta da dificuldade em encontrar um estabelecimento que aceitasse servir de locação para um curta com temática LGBT.
Bom, o curta realmente não saiu do papel. Mas a websérie Esconderijo, que conta a história de Raquel e Malu, o término de um relacionamento cheio de mágoas – principalmente para um dos lados – e um reencontro cheio de tensão e emoção já vai para a segunda temporada. E o projeto também é de Gabriela DiMello, a roteirista e diretora que nunca parou de criar projetos em seu tempo livre, quando não é engolida pela rotina do outro lado do audiovisual.
O que fez, nesse caso, uma história de mulheres lésbicas sair do papel – e do armário – foi a chegada de Tatiana Fernandes, uma casa em Paquetá, na Baía de Guanabara (Rio de Janeiro) e a proposta de contar a história em formato de websérie. Para quem já acompanha Esconderijo, lançada em setembro do ano passado, a boa notícia é que a segunda temporada será lançada no início de junho. O trailer oficial foi divulgado nesta terça-feira (15) pela produção.
Na primeira temporada, Raquel e Malu têm um encontro surpreendente após uma distância de oito anos sem qualquer contato. Toda a tensão desse reencontro fica por conta de Tatiana Fernandes e Mirela Pizani, que dão vida, respectivamente, a Raquel e Malu, que começam a revelar seus esconderijos ao longo de todo esse tempo.
Esconderijo, aliás, não trata de esconder a orientação sexual ou identidade de gênero. “E sim de se esconder de algo, com algo, por algo ou com alguém. Uma ideia que traz identificação de uma forma mais abrangente, já que todo mundo se esconde em algum momento, ainda que em segredo”, explica a diretora e roteirista Gabriela DiMello. Malu e Raquel, cada uma a seu modo, se esconde no espaço que lhe cabe.
“A ideia do argumento de Esconderijo veio da percepção das abordagens, em sua maioria, repetitivas quanto ao universo lésbico. Optou-se, então, por falar de mulheres, suas relações e sentimentos, indo além das questões comumente abordadas na temática LGBTQA+”, completa Gabriela.
Na segunda temporada, novos personagens vão surgir na trama e a produção promete algo diferente de qualquer coisa que os fãs possam estar esperando. “A história permanece costurada pela personagem principal Malu e suas relações mal resolvidas com Raquel e Patrícia”, diz Gabriela. Sim, ainda tem Patrícia, a ex. “Mas vamos além. Esconderijo é uma série sobre mulheres, encontros, despedidas e reencontros, e assim vem a segunda temporada. Com mulheres fortes, sensíveis, humanas, cheias de histórias para contar e esconderijos a revelar”, afirma.
Agora, além de Mirela Pizani (Malu), Tatiana Fernandes (Raquel) e Simone Perez (Patrícia), entram na trama Malu Mattar (Ju), Amanda Döring (Nara), Juliana Ferraz (Céu), Natascha Stransky (Sílvia) e Adriano DiCarvalho (Vicente). A cantora Zélia Duncan também faz uma participação especial na trama, que é viabilizada por financiamento coletivo.
#Tatizani
Antes de começarem a gravar, Tatiana e Mirela passaram por uma fase de ensaios que durou três meses. Sobre a entrada de Mirela no projeto, a diretora garante que foi “paixão à primeira vista da atriz com a produção e vice-versa”. Mirela estava afastada das redes sociais há meses e, coincidentemente, quando voltou ao Facebook, se deparou com uma postagem da produção buscando atrizes para o papel de Malu.
“Profissionalmente, foi a minha volta com chave de ouro. A Malu foi, e é um presente. Voltar a atuar em uma história tão bonita, com uma personagem tão complexa, no meio de profissionais incríveis e extremamente competentes & apaixonados pelo projeto… poucas vezes vivi isso profissionalmente de forma tão intensa”, conta Mirela.
Tatiana também estava fora dos palcos e sets quando encarou a missão de interpretar Raquel. “Eu estava há 3 anos sem atuar e Esconderijo foi a ferramenta e a causa do meu retorno. Tudo ao mesmo tempo. A história conversa comigo, a personagem fala por mim e ainda criamos um conteúdo com uma representatividade que também é a minha. Sou uma atriz, artista, lésbica, com momentos Malu e momentos Raquel, me escondo mais do que me mostro”, diz Tatiana.
Mas Mirela também se vê no personagem. “Eu sempre falo que às vezes é difícil separar a Mirela da Malu. Por mais clichê que possa parecer, essa personagem tem muito de mim. No início do processo foi bastante assustador, até. A forma como ela lida com a confusão interna somada à confusão do mundo lá fora, o isolamento, a fuga, o esconderijo. Pessoalmente foi um exercício maravilhoso de autoconhecimento – poupei alguns anos de análise”, brinca.
Visibilidade
Como série pensada e produzida para o YouTube, é lá que Esconderijo deve ficar por quatro temporadas – o planejamento inicial. O desafio, agora, é fidelizar o público e trazer mais gente para conhecer o conteúdo. Por enquanto, a relação com o público é das melhores – e tratada como prioridade pela equipe da série. “Entendemos que essa comunicação é uma das chaves do sucesso da série e é parte da nossa contribuição para a luta e pela visibilidade lésbica. Lemos e respondemos todos os comentários e mensagens que nos enviam. Nossa relação é de respeito, troca e gratidão”, conta Gabriela.
A parceria com o público, além, foi além da simples interação. Na segunda temporada, há uma composição original feita em parceria entre Gabriela DiMello e Priscilla Barros, que é compositora e espectadora da série. Também entrou para a equipe uma baiana. Yasmin Reis assistia Esconderijo, tinha vontade de participar da equipe, mandou um email e hoje assina como Platô – quem coordena a produção no set – da segunda temporada.
“Esse carinho, essa troca remota é muito especial. As pessoas querem dividir suas experiências, trocar mesmo, saber do processo, ouvir detalhes, enfim, coisas que não são possíveis quando se trata de uma obra na TV, ou um filme, etc. A web é um lugar maravilhoso, um canal direto”, resume Mirela.
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