Por Leandro Colling*
Vivemos uma semana decisiva para a luta contra os preconceitos, em especial para os relacionados ao desrespeito à diversidade sexual e de gênero. Hoje, a Assembleia Legislativa da Bahia votará o Plano Estadual de Educação (PEE), que prevê diretrizes e metas para a educação baiana nos próximos dez anos.
Após debate com organismos governamentais, conselhos e movimentos sociais, o plano destaca que a política pública de educação deve contemplar temas da diversidade sexual e de gênero.
O projeto do PEE, enviado pelo governador Rui Costa, recebeu uma emenda, de um parlamentar ligado ao fundamentalismo religioso, que retira toda e qualquer menção aos temas da sexualidade e gênero. Por isso, cerca de 50 organizações baianas se uniram em torno da frente pró-diversidade no Plano Estadual de Educação (acompanhe pelo https://www.facebook.com/bahiadiversa/).
Quem se opõe à inclusão desses temas no PEE diz que queremos impor uma ideologia de gênero nas escolas. Ora, a escola, da forma como ela está hoje, salvo exceções, já possui uma ideologia de gênero que contempla apenas uma visão sobre gênero e sexualidade, que é a responsável por criar e perpetuar muito machismo, misoginia, homofobia, lesbofobia e transfobia.
Sabem por quê? Na ideologia de gênero dos fundamentalistas, que encontra guarida nos livros didáticos e em toda rotina escolar, todas as pessoas, sejam docentes ou discentes, devem, obrigatoriamente, pertencer a apenas uma configuração familiar (composta apenas por um pai, uma mãe e um filho), devem ser heterossexuais, casar, ter filhos. Quem faz parte de outras composições familiares (apenas uma mãe, o que é muito recorrente, ou duas mães ou dois pais) ou possui outros desejos e formas de viver está fora da ideologia de gênero dos fundamentalistas.
Nessa política da ideologia de gênero, para a mulher cabe apenas o papel de submissão aos homens, o que revela um flagrante machismo. Meninos são criados para ser uns brutamontes, pois qualquer manifestação de delicadeza é taxada como isso não é coisa de homem. Ou seja, quem não se comporta como verdadeira mulher ou homem não tem espaço na escola. Pessoas trans (travestis e transexuais, meninos afeminados ou meninas masculinizadas, sejam homossexuais ou não), estão condenadas ao bullying, através do qual são expulsas da escola.
Essa realidade violenta está fartamente comprovada em dezenas de pesquisas. Uma delas, coordenada por Miriam Abramovay, em uma amostra de dez mil estudantes e 1.500 docentes do Distrito Federal, 63,1% das pessoas relataram que já tinham visto pessoas que são (ou são tidas como) homossexuais sofrerem preconceito e mais da metade da docência afirmou já ter presenciado cenas discriminatórias contra homossexuais nas escolas.
Queremos perpetuar essas violências?
* Leandro Colling é professor da Universidade Federal da Bahia e coordenador do coordenador do Grupo de Pesquisa em Cultura e Sexualidade (CUS)
* Texto publicado originalmente na edição de 4 de maio do jornal CORREIO*Â