Os três seguranças do supermercado Bompreço, acusados de agredir a transexual Kiara Vellano Damasceno, 27 anos, vão responder por crime de injúria e ameaça. A informação é da titular da 14ª Delegacia (Barra), Carmen Dolores. De acordo com ela, os funcionários ainda não foram prestaram depoimento. “Eu precisava da oitiva delas para intimá-los, mas eles vão ser chamados nos próximos dias”, afirmou a delegada.
Na tarde desta quarta-feira (27), Kiara foi até a delegacia para falar sobre a agressão. “Ela falou que recebeu as ofensas quando saiu do banheiro do supermercado e que ainda foi ameaçada por eles”, completou Carmem
Se os funcionários forem condenados, segundo a delegada, eles podem ficar detidos seis meses pelo crime de injúria e mais seis pelas ameaças. “A injúria que eles proferiram é vista como transfobia, porque a transexual tem todas características femininas e não tinha como ela frequentar o banheiro masculino. Não dá pra saber a quantidade de outros casos, porque não temos uma delegacia especializada em transfobia aqui em Salvador e, por isso, as ocorrências ficam pulverizada. Já tivemos outros tipos de situações parecidas aqui, porque infelizmente as pessoas ainda têm práticas preconceituosa”, destacou a delegada.
Além de Kiara, também será ouvido o marido dela, que a acompanhava no supermercado. “Agora só dar início ao processo. Os agressores serão intimados”, disse Kiara. Ela contou que quando estava lavando as mãos, já para sair do local, ouviu uma voz masculina dizendo “isso está errado, isso está errado”. Ao sair do banheiro, ela foi surpreendida por três homens, que seriam seguranças da loja. Eles acusaram Kiara de ser homem e, portanto, afirmaram que ela deveria ter usado o banheiro masculino.
“Quando eu estava na porta, um deles bradou:’Você acha isso certo? Você tem que usar banheiro de homem, você é viado’. E, então, entramos em discussão. Meu marido chegou e perguntou o que houve mas eles continuaram zombando de mim, quase fui agredida fisicamente por um deles na frente do gerente”, relatou ao CORREIO, ainda emocionada.
Após mais de meia hora de discussão, Kiara contou que em momento algum recebeu qualquer apoio moral de funcionários da loja. “Apenas uma moça que trabalha lá apareceu para me levar até o gerente que, embora tenha impedido um deles de me agredir, virou pra mim e perguntou se eu tinha ‘Kiara’ oficialmente em minha documentação. Me senti extremamente humilhada, ali, com todo mundo olhando”, completou.
Em nota, o Bompreço afirmou que o ocorrido não condiz com a orientação que passa aos seus funcionários. “A respeito do ocorrido, a direção do Bompreço afirma que o respeito ao indivíduo faz parte dos valores da empresa, que não admite nenhuma forma de preconceito. O fato está fora dos procedimentos habituais da organização e os fatos serão apurados internamente”, afirmou a empresa, em nota.
Colaboraram Milena Teixeira e Tailane Muniz