Gostaria de escrever um texto para divulgar alguma coisa interessante que descobrimos em nossas pesquisas mas, infelizmente, preciso dedicar o tempo para divulgar ataques que estamos recebendo pelo fato de pesquisarmos e militarmos pelos direitos das mulheres e pessoas LGBT.
Os ataques não são uma novidade para quem pesquisa e milita nessa e em outras áreas dos direitos humanos. Desde que pesquiso esses temas, há 15 anos, coleciono ataques. Em 2011, por exemplo, por ter publicado um artigo em um jornal, um jornalista escreveu um texto em que me ridicularizava e pedia a minha demissão dos quadros da UFBA. O que dizia o singelo artigo? Defendia que a heterossexualidade não é apenas uma das várias expressões da sexualidade, mas aquela que a sociedade deseja que todos tenhamos, pois somos obrigados, desde muito cedo, a nos comportar como heterossexuais.
Localizo 2011 como um ano em que o discurso conservador e fundamentalista em torno dos temas da diversidade sexual e de gênero passou a se rearticular (pois sempre esteve presente entre nós) em rede nacional e internacional para atacar qualquer luta pelos direitos das pessoas LGBT. E no Brasil o estopim para isso talvez tenha sido o reconhecimento, pelo STF, das uniões civis entre pessoas do mesmo sexo. Certamente outros fatores moveram a criação dessa rede, mas aqui meu objetivo é falar de coisas mais recentes.
Uma dessas coisas tem a ver com as ameaças de morte que uma de nossas colegas professoras têm recebido depois que foi entrevistada em um programa de televisão. Ela pesquisa questões de gênero e é feminista. E esses ataques apresentam diversas facetas para além das ameaças de morte e não são feitos apenas de forma anônima. Eu, por exemplo, me senti na obrigação de processar uma senhora que se diz “psicóloga cristã” porque ela diz, em vídeos de palestras dela postados no youtube, que eu sou um “falso profeta” que quer destruir a família. Ela circula pelo Brasil e até inventa um livro que eu nunca escrevi. Não podemos naturalizar essas ameaças. Elas dizem muito sobre o momento atual.
No início de 2017, a pedido da reitoria da UFBA, criamos, eu e as professoras Maíra Kubík e Graciela Natansohn, o projeto aceita!, que está sendo executado junto com dez estudantes, para pensarmos políticas de respeito à diversidade sexual e de gênero na UFBA. Logo após a divulgação, as mensagens machistas, homofóbicas e misóginas começaram a chegar. Até o formulário criado para ouvir a comunidade da UFBA tem sido usado para nos atacar. Para responder a pergunta “como você prefere definir a sua identidade de gênero”, uma pessoa respondeu o seguite: “como um tiro de escopeta na cara de vocês suas minhocas”.
Mas nada disso vai impedir o prosseguimento do nosso trabalho. O que está acontecendo é exatamente o contrário. Essas ameaças estão servindo para realizarmos coisas que nem esperávamos fazer agora e para nos organizarmos em rede. Uma dessas ações é o Curso de Introdução ao Pensamento de Judith Butler, que se inicia nesta quinta-feira, dia 23, às 14h, no auditório B do PAF-5, campus de Ondina da UFBA. Para o armário não voltaremos nunca mais!
*Leandro Colling é professor da Ufba e coordenador do grupo de pesquisa em Cultura e Sexualidade (CUS)
2 Comentários
Só Deus pra ter misericórdia
Esse menino não tem idade pra escolhas
Muito menos pra namora
É fim dos tempos
Apocalipse
Eu só sei dizer que cada um vai dar conta da sua própria vida no juízo final…..