O brilho no olhar das noites purpurinadas de shows deu lugar ao som medroso dos murmúrios de dor. O corpo, que antes pulava de alegria, agora padece de amargura e sofrimento. A lista é grande, ampla e dolorosamente crescente. O pior: cada um de nós pode engrossar essa estatística de lamento pelo ”simples” motivo de ter uma orientação sexual dissonante de uma dita maioria.
Enquanto eu escrevo – e você agora lê – esse texto certamente há um LGBT sendo vítima de algum tipo de violência. De acordo com os dados do Grupo Gay da Bahia (GGB), a cada 25 horas um LGBT é morto no Brasil. Mas não é apenas com a morte que há violência contra nós, LGBTs.
Hoje – Dia Internacional do Combate à Lesbofobia, Homofobia, Bifobia e Transfobia – o alerta vai em forma de números: em 2016, foram 343 mortes; na Bahia 32. O estado é o segundo em números absolutos de morte. Estamos no mês de maio e já somam-se 117 mortes em todo o país.
Mas, atrás desses dados estatísticos, há famílias, sonhos e brilhos que deram lugar ao luto. Dos professores carbonizados da pequena cidade do interior ao jovem trans que foi raptado, torturado e assassinado na capital, a corrente de dramas é intensa. Da transformista que é espancada ‘apenas’ por estar ‘vestida de mulher’ à lésbica masculinizada que é ofendida e até estuprada, as vidas LGBTs são marcadas por atos de ódio e falta de respeito. E de onde vem esse ódio? A fala de respeito à identidade do outro é a resposta para muitas violências. Sim, no plural mesmo!
As violências contra os LGBTs brotam de qualquer canto e ganham tons variados a depender do agressor. Do olhar de ‘julgamento’ e ‘recriminação’ com a roupa, ao jeito de falar, até a lâmpada na cara e os espancamentos; há muito o que refletir sobre os tipos de violência.
Quando eu estava na escola era sempre chamado de bicha, viado e afins. Até eu conhecer minha identidade essas palavras me apunhalaram diariamente. A cada vez que eu entrava no banheiro, fechava a porta, e os ”machões” da escola gritavam que quando saísse dali eu ia apanhar sentia a dor do medo. Eu tive voz para gritar, reclamar e denunciar. Evitei, naqueles momentos, não engrossar as estatísticas. Contudo, infelizmente, nem todxs conseguem ter voz.