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Não tem graça: o desrespeito transfóbico da dupla sertaneja Pedro Motta & Henrique

“Depois de um mês de namoro apaixonado, iludido e bobo dentro de um motel chorando arrasado acabei de descobrir que eu fui enganado/ Agora eu entendo por que ela não queria fazer amor, uma voz feminina, uma pele macia me enganou tão bem/ Depois de uma farra embriagada, ela se entregou, só que ela não tinha o que mulher tem/ Ô, Lili, ô, Lili, por que você mentiu para mim? O, Lili, ô, Lili, o amor da minha é um travesti”.

A dupla Pedro Motta e Henrique lançou uma música cuja letra fala de um homem que se apaixonou por uma travesti. A letra é um show de TRANSFOBIA e AGRESSÕES ÀS PESSOAS TRAVESTIS E TRANSGÊNERAS. O ápice do preconceito é quando diz “Só que ela não tinha/ o que mulher tem”.

A música se chama “Lili” e foi lançada no YouTube na sexta-feira (18). Acumula menos de mil likes, enquanto já passa de dez mil deslikes e reforça o esteriótipo das agressões transfóbicas disfarçadas de ‘recreação e entretenimento’.

No Instagram, Pedro Motta e Henrique tentam se desculpar, mas revelam que não entendem o que significa transfobia. Eles confundem com homofobia, tipo de discriminação e violência (mesmo a verbal e a simbólica) praticada contra homossexuais. Transfobia tem a ver com a discriminação e violência contra pessoas trans. Homofobia é preconceito em relação à orientação sexual, enquanto transfobia está relacionada à identidade de gênero da pessoa.

“Estão nos chamando de homofóbicos. Gente, de forma alguma! Nunca vocês ouviram que Pedro Motta e Henrique é homofóbico. Pedro Motta e Henrique está zoando a pessoa. Nunca, de forma alguma”, diz Pedro Motta em vídeo no Instagram. “Pelo contrário, a gente tem muitos amigos que estão nos apoiando”, completa Henrique, que dá a entender que esses amigos são gays.

“A gente não está aqui pra menosprezar a imagem de vocês. A gente fala que o amor da nossa vida é um travesti, né parceiro?, e não sabíamos. Ou é uma travesti, como vocês estão falando”, continua Pedro Motta, que é complementado por Henrique: “A gente não tinha essa orientação”, se referindo ao artigo no feminino “uma travesti”.

“A gente pede desculpa a todos vocês que estão nos interpretando mal. Sei que vai ter muita crítica nesse vídeo, mas de forma alguma a gente veio pra menosprezar a imagem de vocês.”

Não isso não tem graça. A comunidade trans não pode ser tratada de maneira recreativa. A Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) também se manifestou contra a letra.

“Talvez vocês não saibam, mas o Brasil é o País que mais assassina travestis do mundo por ódio que muitas vezes esse áudio é incentivado por esse tipo de piada de extremo mau gosto. Estamos à disposição para o diálogo. E a nossa recomendação é que desde já vocês cancelem o lançamento e a divulgação pois a música é flagrantemente discriminatória”, disse a entidade em nota publicada.

Abaixo veja o vídeo da Youtuber travesti Ros4 que explicou ponto a ponto a transfobia contida na letra.


Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

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