O jornalista Leandro Narloch, da CNN Brasil, deu um péssimo exemplo de Jornalismo em rede nacional ao reverberar comentários homofóbicos e preconceituosos ao distorcer uma pesquisa sobre a relação entre gays e HIV.

O comentário foi exibido, ao vivo, nesta quarta-feira (8), durante o programa Live CNN que exibiu reportagem com a regulamentação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) sobre a decisão do Supremo Tribunal Federal de liberar a doação de sangue por homossexuais.

Durante a discussão do assunto, Narloch errou termos e também distorceu dados de pesquisa em discurso com tom preconceituoso. Narloch começou a fala chamando orientação sexual de ‘opção’ e disse que a “mudança, na verdade, é pequena. Ela vai restringir mais a conduta, e não o tipo de pessoa, a opção sexual [sic] do indivíduo”, disse reduzindo os gays ao clássico esteriótipo de promiscuidade.

Foto: Reprodução/CNN

O primeiro equívoco dele é que ninguém se torna hetero, homo ou bissexual por opção ou escolha. A psiquiatra Carmita Abdo, em sua produção científica, explica que a sexualidade é um conjunto de influências de ordem bio-psico-socio-culturais que nos inclina para esta ou aquela orientação (que não é opção) sexual. “A homossexualidade (assim como a heterossexualidade) consiste, portanto, de uma tendência, para a qual nos orientamos, movidos pela atração”, escreveu Carmita em coluna em O Globo, em 2014.

Na sequência, e tão grave quanto, ele falou dados errados sobre a contaminação do HIV no Brasil. “Toda essa polêmica começou porque, não há dúvida disso, os gays, os homens gays, eles têm uma chance muito maior de ter Aids, né? Em 2018, uma pesquisa mostrou que 25% dos gays de São Paulo eram portadores de HIV”.

 De acordo com o estudo, que é de 2018 e foi realizado a pedido do Ministério da Saúde, após testes de HIV terem sido realizados em 3.958 homens de 12 capitais, o vírus foi detectado em 18,4% dos exames (em São Paulo, a taxa foi de 24,8%). No total, 75% dos entrevistados afirmaram fazer sexo apenas com homens – que inclui não somente homens que se identificam como gays, mas também homens que fazem sexo com homens (o que não é a mesma coisa).

A pesquisa traz ainda outro dado importante que é o alerta do crescimento dos casos entre heterossexuais, inclusive, mulheres. Entre as mulheres idosas o aumento foi de 21,2% em quatro anos. Esse dado ele não falou.

O próprio jornalista da CNN questionou o que havia acabado de dizer, mas sustentou a ideia de que gays tem mais chance de contrair HIV. “Mesmo que esse número seja exagerado, e de fato ele parece mesmo exagerado, o fato é que é dezenas de vezes maior, maior a chance do que na população geral. A questão é que outros critérios para exclusão já restringem os gays que têm comportamento promíscuo, né?”, disse sem citar nenhum estudo científico que comprove sua afirmação e deixando evidente sua homofobia. .

Primeiro, é importante lembrar que existem héteros promíscuos também. Talvez ele não saiba, mas de acordo com a OMS, é considerado comportamento promíscuo o indivíduo que tenha mais de dois parceiros ao ano.

O jornalista é autor do livro ‘Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil’ que conta com outras diversas inverdades sobre os acontecimentos do país. Na CNN Brasil, ele já disse, por exemplo, que 25% das mortes por coronavírus tiveram outras causas.

A emissora, até o momento, não publicou nenhum comunicado sobre o assunto.

Assista o comentário que está sendo amplamente divulgado nas redes sociais com críticas ao jornalista:


Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

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