Aluno do doutorado na Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA, Leonardo Paulino é performer e arte-educador. No último domingo (4), após quase três meses de provas, ele venceu a primeira edição do concurso Revelação Marujo, apresentado por DesiRée Beck no tradicional templo do transformismo baiano, o bar Âncora do Marujo. Leonardo venceu o concurso na pele de Leona_do Pau____ , um estado performático intenso e lindo de se ver. “Adoro ouvir Tetê Espíndola, Gal Costa, Babi do Brasil e MãeAna. Atualmente, sou aluno do doutorado na Pós-Graduação em Artes Cênicas da UFBA, onde venho desenvolvendo estudos e práticas sobre ecoperformance, ecodrag e ecologia queer. Tenho 28 anos e gosto de morangos. Hoje (ontem) usei a faixa de Revelação Marujo 2016 pela primeira vez, fui à padaria comprar sonhos”, conta Leonardo. Veja abaixo um bate papo que tive com Leona, ou Leonardo…
Me Salte – Desde quando Leona existe?
Leona_do Pau____ – Leona existe desde 2008. Desde então, ela foi se transformando e se ampliando com o passar do tempo. Quando vim para Salvador em 2012 comecei a fazer algumas performances e intervenções urbanas mais voltadas para o meu mestrado na Escola de Teatro e foi durante essas experimentações que surgiu o jogo com o meu nome: Leonardo Paulino = Leona_do Pau____. Então, aquela id-entidade de algum tempo atrás recebeu um nome.
MS – Por quais motivos você resolveu criá-la?
LDP – Eu não me lembro de um momento exato em que Leona_do Pau____ surgiu. Ela foi surgindo há alguns anos atrás durante minha graduação em Artes Cênicas em Ouro Preto/MG. Eu morava com mais cinco amigos (Bakxai Bacantes!) e a gente passava as tardes experimentando, dançando, cantando… uma coisa meio dzi croquetes. Foi assim que ela foi se espalhando pelo ar.
MS – Esse é o primeiro concurso que Leona ganha?
LDP – Sim. É o segundo concurso que participo. O primeiro foi o Antropofagia Drag apresentado por Rainha Loulou na Casa Preta, em maio desse ano, mas não pude participar da final porque tinha uma viagem já agendada para São Paulo. Reveja Leona no Antropofagia:
MS – Desde o início do concurso você foi colocada como favorita. Como lidou com isso?
LDP –Eu acho tão bonito quando as pessoas são afetadas por meu modo de produzir arte e o modo como vou vivendo a vida. Talvez, ser considerada favorita por algumas pessoas é sinal de que elas foram de alguma forma atravessadas pelo que eu faço, pela maneira ecológica, tropical e antropofágica com que Leona chega para encantar. Mas isso, em nenhum momento influenciou a minha participação no concurso, inclusive, porque acredito que tinham outras favoritas para o título. Estou muito feliz por ter chegado com as meninas (Sasha Hells e Sophia Velvett) na final, elas são maravilhosas!
MS – Como foi a construção do número da final?
LDP – Quando DesiRée (Beck, idealizadora do concurso) passou a prova da final do concurso, como havia ganhado a prova naquele dia, pude escolher o filme O labirinto do fauno. Na verdade, não conhecia o filme (imagine só!), mas me senti muito instigado pela figura do fauno, esse ser hibrido, metade humano, metade bicho. A primeira coisa que fiz foi assistir o filme, e, como a maioria das pessoas que o assistem, tive uma explosão de sentimentos e me senti muito afetado por toda a sua narrativa. O Labirinto do fauno é um filme muito lúdico e ao mesmo tempo misterioso, medonho mas repleto de magia. Logo, muitas ideias foram surgindo. Primeiro uma grande dúvida, se eu faria a menina ou o fauno. Resolvi fazer os dois (rs). Então, comecei a pensar o número e com isso, parti para a produção dos figurinos, adereços e cenário. Tive muito trabalho para a produção do fauno porque a máscara usada para a transformação da menina para o fauno foi feita por meio de papietagem e demora alguns dias para ficar pronta. Nos primeiros dias também comecei a pensar na trilha sonora para a performance e encontrei a linda interpretação de Tetê Espíndola (que pra mim é diva, e me afeta muito com seu canto de pássaro) da música Cai a Noite de Tom Jobim. Outra escolha certeira foi a música Bicho de sete cabeças interpretada por Ney Matogrosso (sem mais!). Depois de tudo isso, só chegar arrasando no palco! Tive muita colaboração também durante esse processo, reafirmando o espaço de amizade e parceria com algumas pessoas. Agradeço muito a Rafael Almeida e Marcos Borges (Nina Codorna) por terem abraçado esse número comigo, e a todos os amigos que de alguma forma deram um help.
MS – Â Qual a sua relação com a arte drag?
LDP – Como já disse, venho experimentando a arte drag desde a época da graduação, no mesmo momento em que me percebi como um performer. Então comecei a negociar e articular alguns campos e momentos de minha vida com a arte drag. Comecei a produzir performances quase sempre disparadas por questões de dissidências sexuais e de gênero e fui trazendo essas experiências também para minha produção acadêmica, gerando outras discussões sobre a figura da drag-queen como uma perturbação aos padrões heteronormativos, como um modo de viver, como um modo de resistência a todo o xoxo de nossa sociedade. Atualmente, tenho pensado muito na ideia de ecoperformance, uma articulação entre ecologia e performance, potencializando o que eu diria ser uma ecodrag, reutilizando, reciclando, reinventando.