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Fundador do Grupo Gay de Lauro de Freitas é torturado e morto após sair de bar

Por Bruno Wendel

Alessandro Bráulio Matos Fraga, 33 anos, era servidor público de Lauro de Freitas, na Região Metropolitana de Salvador. Trabalhava coordenando o Centro de Teste e Aconselhamento (CTA) – serviços de saúde na promoção da equidade de acesso ao aconselhamento e ao diagnóstico do HIV, das hepatites B e C e da sífilis.  Ele, que ajudava a salvar vidas, foi morto no último sábado (13).

Ativista LGBT, Alessandro foi ex-presidente e fundador do Grupo Gay de Lauro de Feitas. Seu corpo estava num matagal na localidade de Pedreira, entre Simões Filho e Areia Branca, em Lauro. O carro dele, um Volkswagen Fox, foi encontrado a cerca de 100 metros do corpo. Parentes e amigos disseram que a vítima foi encontrada com marcas de tiro, estrangulamento e de pauladas na cabeça.

Segundo a polícia, as informações preliminares dão conta de que ele apresentava pelo menos mais de uma perfuração de tiro, mas a perícia do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues (IML) precisará a quantidade de perfurações e se o corpo sofreu outros tipos de lesões. Detalhes da investigação não foram revelados.

Na manhã desta terça-feira (16), a Câmara Municipal de Lauro de Freitas prestou uma homenagem à Alessandro com uma moção de pesar – uma mensagem de condolências, em nome de toda a casa, pelo falecimento de uma pessoa de relevância social.  “Ele merecia. Ficamos emocionados. Ele sempre foi uma pessoa do bem, gosta de fazer o bem”, declarou a tia de Alessandro, a dona de casa Maria Ivonete Fraga Neves, 61.

Bar
Alessandro bebia com amigas no Bar do Carioca, na Rua São Jorge, próximo ao centro de Lauro de Freitas, por volta das 20h. “Ele chegou a comprar quatro espetinhos comigo. Pagou e voltou para a mesa. Quando ficou pronto, fui lá levar, mas tinha muita gente na mesa e o bar também estava cheio, então não prestei atenção com quem ele estava”, contou Samuel Silva, 27, dono de um ponto de venda de espetinho que fica ao lado do bar.

A tia de Alessandro, Maria Ivonete disse que o sobrinho saiu do bar dizendo às pessoas da mesa que iria ao banheiro de casa. “Ele morava perto, mas não gostava de usar o banheiro do bar. Disse as amigas que voltaria. As amigas ligaram para ele por volta das 22h. Ele disse que estava voltando. No entanto, viram ele saindo com a camisa no ombro, falando ao celular, entrando no carro e indo em sentido contrário ao bar que estava bebendo”, relatou a Maria Ivonete.

Celular
Como demorava, as amigas de Alessandro que o aguardavam no bar voltaram a ligar às 22h40. “Mas o celular dele já dava na caixa. Elas insistiram e nada. Foi quando começaram a ficar preocupadas. Quando chegaram na casa dele, encontram a porta e as janelas abertas, como se ele estivesse saído rapidamente e voltasse logo, porque ele não tinha o hábito de deixar a casa aberta. Aguardamos por repostas e nada”, contou a tia.

Nas primeiras horas do sábado, parentes e amigos de Alessandro iniciaram buscas em hospitais e outras unidades de saúde e em locais possíveis onde a vítima pudesse ser encontrada em Lauro de Feitas. À tarde, decidiram ir ao IML, onde encontraram o corpo. “Não tive coragem de ver. Uma sobrinha que fez o reconhecimento. Estou tão abalada, que nem ao enterro tive condições de ir”, disse a tia. Alessandro foi enterrado no domingo em Lauro de Freitas.

Encontro
Coordenador do Programa Municipal de Prevenção e Controle das IST, do HIV/Aids e das Hepatites Virais, Franklin Silva, 38, era chefe de Alessandro. “Ele era um profissional excepcional. Um homem brilhante”, disse. Ele contou ao CORREIO que Alessandro foi visto no centro de Lauro de Freitas, momentos depois de ter saído do bar. “Eu não vi, mas me relataram que ele estava na companhia de dois homens. Depois disseram que o carro dele foi visto passando em Itinga, que é perto do Parque São Paulo, que dá acesso a Areia Branca, perto de onde o corpo foi encontrado”, declarou.

Homofobia
Apesar das circunstâncias do crime, a família de Alessandro não acredita em crime de homofobia. “Ele era muito querido por aqui. Todo mundo o conhecia. Era uma pessoa popular. Acredito que o mataram para roubar. O celular e a carteira dele não foram encontrados até agora”, declarou a tia da vítima Maria Ivonete.

No entanto, ativistas acreditam que o caso foi um crime de homofobia. “Era uma pessoa maravilhosa. Era do bem. Com energia super boa. Levando em consideração os relatos de como o corpo foi encontrado, ele apanhou, foi torturado e depois morto. Isso foi uma homofobia. Isso qualifica crime de ódio. Fico apreensiva. Infelizmente, ainda no Brasil ainda não existe criminalização da LGBTfobia. As mortes são crimes de ódio. Até um militante, ativista corre risco de morte. É preciso uma lei que criminalize a LGBTfobia. Mas tenho esperança. É preciso isso para que crimes como esses não fiquem impunes”, declarou Millena Passos, diretora da União Nacional (Una) LGBT e coordenadora do Grupo Gay da Bahia (GGB).

Jorge Gauthier
Jorge Gauthier
Jornalista, adora Beyoncé e não abre mão de uma boa fechação! mesalte@redebahahia.com.br

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